Angenor de Oliveira, mais conhecido como Cartola, é um dos mais emblemáticos sambistas da história do Brasil.
Nascido em 11 de outubro de 1908, no bairro do Catete, no Rio de Janeiro, Cartola começou a manifestar seu talento musical ainda jovem.
Sua vida, marcada por dificuldades e superações, converteu-se em um símbolo do samba carioca e refletiu sua íntima conexão com o morro da Mangueira, onde cresceu depois da morte de sua mãe.
+ Leia mais notícias de História em Oeste
Cartola começou a compor ainda na juventude, quando já demonstrava grande aptidão para a música.
Ele teve uma educação formal modesta, com apenas o ensino primário completo, mas seu aprendizado veio principalmente das experiências da vida e das influências de poetas como Castro Alves e Gonçalves Dias, que ele leu avidamente para melhorar suas letras de samba.
Estação Primeira de Mangueira
Em 1928, Cartola foi um dos fundadores da escola de samba Estação Primeira de Mangueira, que se tornaria uma das mais tradicionais do carnaval carioca.
Ele ocupou o posto de diretor de harmonia da escola e se destacou pela capacidade de organizar e conduzir o coral das pastoras, com arranjos que impressionaram até o maestro Heitor Villa-Lobos.
Leia mais:
Apesar de sua habilidade musical, a vida financeira de Cartola era instável. Durante boa parte de sua vida, ele trabalhou em empregos modestos, como operário e lavador de carros, enquanto lutava para ganhar reconhecimento por suas composições.
Foi apenas aos 66 anos que ele lançou seu primeiro álbum, o que refletiu sua resistência em se submeter às pressões comerciais do mercado da música.
O reconhecimento tardio de Cartola
Embora Cartola fosse amplamente reconhecido nos círculos musicais, o sucesso comercial só veio tardiamente em sua vida. Seus quatro discos gravados não foram um sucesso de vendas, mas são considerados obras-primas do samba.
Entre suas composições mais conhecidas estão As Rosas Não Falam e O Mundo é um Moinho, que, até hoje, são lembradas como canções que expressam as dores e as belezas da vida.
Seu trabalho como compositor foi celebrado por importantes críticos e músicos da época. Com mais de 600 composições ao longo de sua carreira, Cartola dominava o violão com simplicidade, através de uma rica variedade melódica e harmônica.
Na década de 1960, Cartola e sua mulher, Zica, abriram o famoso restaurante Zicartola, no centro do Rio de Janeiro, que se tornou um ponto de encontro para artistas e músicos. A partir desta fase, ele começou a conquistar o merecido reconhecimento como um dos grandes nomes do samba brasileiro.
Em 1978, quando completou 70 anos, Cartola foi amplamente homenageado, inclusive pela Funarte, que organizou uma série de eventos em sua honra. Emocionado pelas comemorações, Cartola demonstrou sua gratidão e afirmou que preferia receber as homenagens enquanto ainda estava vivo.
Cartola faleceu em 30 de novembro de 1980, aos 72 anos, e deixou um legado imensurável para a música popular brasileira. Sua trajetória, marcada por altos e baixos, reflete a luta de um artista que nunca abriu mão de sua integridade criativa.
Leia também: “A higienização da cultura”, artigo de Dagomir Marquezi publicado na Edição 154 da Revista Oeste