Em 13 de outubro de 1943, o governo italiano tomou uma decisão surpreendente e de grande impacto ao declarar guerra à Alemanha, seu até então aliado no Eixo, formado inicialmente por Alemanha, Itália e Japão.
Essa reviravolta marcou uma guinada decisiva na trajetória da Itália durante a Segunda Guerra Mundial e teve consequências profundas tanto para o país quanto para o andamento do conflito mundial.
A Itália, sob o governo fascista de Benito Mussolini, havia sido uma aliada fiel da Alemanha nazista desde os primeiros anos da guerra. Mussolini, admirador das políticas de Adolf Hitler, levou a Itália a se juntar ao Eixo por acreditar que a aliança traria prestígio e conquistas territoriais para o país.
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No entanto, o curso da guerra revelou-se desastroso para os italianos. As campanhas militares fracassadas e as derrotas no norte da África e nos Bálcãs minaram o apoio popular ao regime, enquanto a população sofria com a escassez de alimentos e o bombardeio das cidades italianas pelos Aliados.
A insatisfação interna culminou no verão de 1943. Em 19 de julho daquele ano, depois de um encontro com Hitler, Mussolini retornou a uma Roma devastada por bombardeios aliados. A situação política também era insustentável.
O descontentamento dentro do Partido Fascista ganhou corpo, liderado por figuras como Dino Grandi, Giuseppe Bottai e o próprio genro de Mussolini, conde Ciano. Esses líderes exigiram a convocação do Grande Conselho Fascista, que não se reunia desde 1939, para discutir a situação do país.
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Nessa reunião, por uma maioria de 19 votos a 8, o conselho aprovou uma resolução que exigia a restauração da monarquia constitucional e a transferência do comando das Forças Armadas ao Rei Vítor Emanuel III.
Poucos dias depois, em 25 de julho de 1943, o Rei agiu rapidamente. Ele convocou Mussolini ao palácio real e o destituiu de seu cargo sem resistência e prendeu o fascista logo em seguida. A destituição de Mussolini ocorreu de forma pacífica, sem qualquer tentativa de defesa por parte da milícia fascista, o que refletiu a completa desilusão com o regime.
O Marechal Pietro Badoglio, que assumiu o governo no lugar de Mussolini, dissolveu o Partido Fascista, libertou prisioneiros antifascistas e começou as negociações secretas com os Aliados para uma rendição italiana. Com a queda de Mussolini, Hitler rapidamente percebeu a vulnerabilidade da Itália e agiu para impedir que o país caísse totalmente nas mãos dos Aliados.
Em setembro de 1943, o governo de Badoglio assinou um armistício com os Aliados, o que permitiu que suas tropas desembarcassem em Salerno, no sul da Itália, como parte da ofensiva para expulsar os alemães do país.
Em resposta, Hitler ordenou a execução da Operação Axis, um plano para ocupar a Itália e garantir que os nazistas mantivessem controle sobre o território. Tropas alemãs invadiram rapidamente a Itália e ocuparam sua capital, Roma, e outras regiões estratégicas.
Mussolini, que havia sido preso depois de sua destituição, foi libertado por um comando alemão e colocado à frente de um regime fantoche no norte da Itália, a República Social Italiana. Enquanto isso, Badoglio e a família real italiana fugiram para Brindisi, no sul do país, onde estabeleceram um novo governo e continuaram as negociações com os Aliados.
Foi nesse contexto que, em 13 de outubro de 1943, o governo italiano declarou guerra ao regime de Hitler. A decisão, formalizada por Badoglio e endossada pelo Rei, representou uma mudança completa de lado no conflito.
A Itália, que até então havia lutado ao lado dos alemães, agora se aliava aos mesmos países que combatera: Estados Unidos, Reino Unido e a União Soviética.
As consequências pelo apoio à Alemanha nazista
A declaração de guerra da Itália à Alemanha teve repercussões imediatas e de longo alcance. Em termos militares, o país tornou-se um campo de batalha entre as forças alemãs e aliadas.
Os alemães ocuparam Roma por 270 dias e resistiram bravamente à ofensiva das forças aliadas que avançavam lentamente para o norte. Um general britânico descreveu o avanço sobre Roma como uma “escalada morro acima”, por causa das difíceis condições de terreno, ao mau tempo e à resistência alemã bem organizada.
Somente em 4 de junho de 1944 as forças aliadas conseguiram retomar Roma, declarada “cidade aberta” para preservar seu patrimônio artístico e cultural.
No entanto, a libertação de Roma não significou o fim imediato dos combates na Itália. As forças alemãs e os remanescentes fascistas continuaram a lutar até maio de 1945, quando finalmente se renderam, pouco antes do colapso definitivo da Alemanha nazista.
Politicamente, a decisão italiana de mudar de lado na guerra trouxe desafios internos e externos. Internamente, o país estava profundamente dividido entre aqueles que ainda apoiavam o fascismo e os que buscavam uma nova ordem democrática. A guerra civil entre forças italianas pró-Aliados e pró-nazistas continuou até o fim da guerra.
Externamente, a Itália enfrentou o desafio de se reintegrar à comunidade internacional como um membro dos Aliados, depois de ter sido uma das potências agressoras no início do conflito. Além disso, a deposição de Mussolini e a subsequente declaração de guerra à Alemanha significaram o fim do fascismo como força política dominante na Itália.
A monarquia, entretanto, também estava desgastada e, depois do fim da guerra, em 1946, um referendo popular resultou na abolição da monarquia e na proclamação da República Italiana.
A declaração de guerra da Itália à Alemanha em 13 de outubro de 1943 marcou o colapso do fascismo italiano, a mudança de alianças do país e a intensificação dos combates na Península Itálica.
Embora a libertação da Itália tenha sido um processo longo e doloroso, com a ocupação de Roma e outras cidades italianas pelas tropas alemãs, a decisão de se unir aos Aliados ajudou a enfraquecer o Eixo e contribuiu para a eventual derrota da Alemanha nazista.
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