Em 23 de outubro de 1993, a medicina brasileira dava adeus a um de seus nomes mais ilustres: morria, em São Paulo, Euryclides de Jesus Zerbini, o primeiro brasileiro a realizar um transplante cardíaco.
O médico nasceu em 10 de maio de 1912, em Guaratinguetá (SP), para se tornar um dos brasileiros mais importantes da história na função de cardiologista e cirurgião.
Zerbini: sonhador e realizador
Zerbini foi o quinto especialista do mundo e o primeiro da América Latina a realizar um transplante de coração. Sua missão era ajudar as pessoas. Assim, cumpriu o sonho de criar o Instituto do Coração (Incor).
A concretização do desejo de erguer um centro de excelência em cardiologia e pneumologia se deu, primeiramente, em 1977, quando da inauguração do InCor.
Além disso, Zerbini dedicou-se a criar a Fundação Zerbini, um modelo internacional de instituição de apoio de direito privado a hospital público universitário.
Filho de Eugênio Hugo Zerbini e de Ernestina Teani, Euryclides era o caçula de sete irmãos em uma família de origem italiana.
Nasceu prematuro, com apenas sete meses de gestação. De 1927 a 1928, estudou no Colégio Diocesano Santa Maria, em Campinas.
Depois de se formar, em janeiro de 1949, casou-se com Dirce Costa, médica com formação pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Com ela, teve os filhos Roberto, Eduardo e Ricardo.
Professor e pioneiro da cirurgia cardíaca no Brasil e do transplante de coração no mundo, Zerbini desenvolveu novas tecnologias e novos padrões de conduta.
A realidade brasileira, na década de 1960, apresentava uma série de deficiências em termos de recursos. Apesar disso, as pesquisas do médico viabilizaram o alcance às primeiras técnicas de operação do coração no Brasil.
Transplantes: uma história de desafios
O primeiro transplante de coração do mundo foi realizado na Cidade do Cabo, na África do Sul, em 3 de dezembro de 1967 pelo cirurgião sul-africano Christiaan Barnard.
O paciente teve uma sobrevida de apenas 18 dias. Apesar disso e do contraste com as expectativas, o procedimento despertou interesse em centros de cirurgia de todo o mundo, principalmente na América.
No mesmo mês, desta vez nos Estados Unidos, Adrian Kantrowitz realizou o transplante em uma criança. Do mesmo modo, não houve sucesso.
O Brasil quase foi pioneiro no transplante cardíaco. Em 1967, o Conselho do Hospital das Clínicas proibiu o procedimento.
A partir de 1968, vários hospitais pelo mundo começaram a realizar o procedimento e a equipe chefiada por Euryclides Zerbini realizou o primeiro transplante da América Latina e do Brasil.
Em 26 de maio de 1968, cinco meses depois do transplante na África do Sul, João Ferreira da Cunha, o João Boiadeiro, de 23 anos, com insuficiência cardíaca, recebeu o coração de Luís Fernando de Barros, vítima de atropelamento.
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Pelas mãos de Zerbini, começava ali uma nova história e um novo olhar da medicina mundial para a qualidade e o talento dos profissionais brasileiros.