Cesare Mansueto Giulio Lattes é amplamente reconhecido como um dos principais físicos do Brasil. Nascido em Curitiba, em 11 de julho de 1924, o pesquisador completou sua formação acadêmica em física e matemática na Universidade de São Paulo (USP).
De 1949 a 1954, Lattes recebeu, ao todo, sete indicações ao Prêmio Nobel de Física. Em nenhuma delas, contudo, foi o escolhido.
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Na USP, Lattes foi orientado por Gleb Wataghin, diretor do Departamento de Física e fundador do curso. Sob a orientação de Wataghin, Lattes começou pesquisas que resultaram em descobertas inéditas sobre subpartículas, fundamentais para a compreensão da coesão do núcleo atômico.
Em 1946, Lattes integrou-se ao H. H. Wills Laboratory, na Universidade de Bristol, na Inglaterra, sob a liderança de Cecil Frank Powell.
Com o objetivo de testar suas teorias subatômicas, Lattes embarcou em uma expedição ao pico da montanha Chacaltaya, na Bolívia, situada a mais de 5 mil metros acima do nível do mar.
No local, dedicou-se a capturar rastros de partículas provenientes de raios cósmicos. Para isso, Lattes utilizou chapas fotográficas. Esse trabalho culminou na descoberta do méson pi. Trata-se de uma partícula subatômica, crucial para manter a integridade do núcleo atômico.
Polêmicas em torno do Prêmio Nobel
Em entrevista ao Jornal da Unicamp, em 2001, Lattes expressou sua opinião sobre o motivo de nunca ter recebido o prêmio. Ele mencionou a “malandragem” de seus colegas.
“Sabe por que não ganhei o Nobel?”, perguntou ao entrevistador. “Em Chacaltaya, quando descobrimos o méson-pi, se publicou: Lattes, Occhialini e Powell. E o Powell, malandro, pegou o prêmio Nobel para ele. Occhialini e eu entramos pelo cano. Ele era mais conhecido, tinha o trabalho da produção de pósitrons, em 1933.”
Apesar das especulações de que sua nacionalidade poderia ter influenciado a decisão do Nobel, Lattes rejeitou essa ideia. Em entrevista à revista Superinteressante, em 2005, ele declarou que, “apesar de a comissão julgadora ser formada por ingleses, acredito que não foi minha nacionalidade que pesou na decisão do vencedor”.
“Tanto na descoberta do méson pi, em 1946, como na sua criação artificial, em 1948, tive colaboração do Giuseppe Occhialini”, disse. “Quem deveria ter ganho era ele. E, em 1950, quem levou o prêmio foi Cecil Powell, que também participou do trabalho. Mas deixa isso para lá. Esses prêmios grandiosos não ajudam a ciência.”
Reconhecimento e legado de Lattes
Um fator que pode ter contribuído para a ausência de premiações foi a política do Nobel até 1960, que apenas premiava os líderes de equipes responsáveis pelas descobertas. Assim, Lattes, que não era chefe de equipe, não poderia ser contemplado com o prêmio.
Apesar de não ter recebido o Nobel, o legado de Lattes é reconhecido de outras formas. Em 1965, por exemplo, foi agraciado com o título de doutor honoris causa pela Universidade de São Paulo.
Em 1999, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) homenageou o cientista ao nomear sua plataforma de currículos acadêmicos de “Lattes”, uma referência a seu impacto na ciência brasileira. Ele morreu em 8 de março de 2005, aos 80 anos.