Mais de 400 funcionários do jornal norte-americano The Washington Post enviaram uma carta a Jeff Bezos, fundador da Amazon e proprietário do veículo de comunicação. No documento, eles expressam sérias preocupações sobre a liderança atual e o futuro do periódico.
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Os signatários solicitam que Bezos visite a sede da empresa para apresentar uma visão clara de futuro, essencial para a confiança dos funcionários. A carta ainda destaca que algumas decisões recentes da direção têm levantado dúvidas entre os leitores sobre a integridade do Washington Post.
Embora não mencionem nomes, especula-se que as críticas sejam dirigidas a Will Lewis, o atual CEO do jornal. Segundo a imprensa norte-americana, Lewis enfrenta resistência em razão de suas deliberações editoriais e de gestão.
Impacto nas assinaturas do Washington Post
Outro ponto de insatisfação é a decisão de Bezos de não apoiar candidatos presidenciais. A decisão resultou na perda de 250 mil assinantes. Essa foi a primeira vez, desde 1988, que o jornal não emitiu um editorial sobre sua posição política durante as eleições nos Estados Unidos.
De acordo com o The New York Times, o clima na redação do Washington Post tem sido de descontentamento, em parte por causa da gestão de Will Lewis.
A editora-chefe, Saly Buzbee, renunciou depois de Lewis implantar uma reorganização. A escolha de Robert Winnet para substituí-la gerou polêmica. Winnet desistiu da posição por causa da repercussão negativa.
Vários funcionários, incluindo Ann Telnaes, cartunista premiada com o Pulitzer, saíram do periódico depois da decisão de Bezos.
Ann Telnaes se demitiu depois de sua charge com críticas a Bezos ser retirada do ar. O material retratava o dono do jornal ajoelhado diante de uma estátua de Donald Trump, segurando um saco de dinheiro.
Demissões e impactos recentes
O Washington Post anunciou recentemente uma nova rodada de demissões, com o objetivo de cortar 4% de sua força de trabalho.
Menos de cem funcionários, principalmente de áreas de negócios, como vendas de publicidade, marketing e produtos impressos, serão afetados. A redação não será impactada por esses cortes.
Essas demissões seguem-se a outras ao longo de 2023. Em janeiro daquele ano, o jornal dispensou 20 jornalistas. Meses depois, em outubro, um plano de demissões resultou na saída de 240 funcionários.
Quando comprou o jornal, Bezos afirmou que “os valores do Post não precisam mudar”. Os funcionários pedem que ele reafirme esses princípios.
Leia a carta na íntegra:
Para Jeff Bezos:
Recentemente, você escreveu que a garantia de sucesso a longo prazo e a independência desse jornal eram essenciais. Concordamos e acreditamos que você se orgulha tanto do Washington Post como de nós. Estamos profundamente alarmados pelas recentes decisões de liderança que levaram os leitores a questionarem a integridade dessa instituição, que foi quebrada juntamente com uma tradição de transparência e motivou alguns de nossos mais brilhantes colegas a nos deixarem, com mais saídas sendo iminentes. Isso vai além da questão do apoio a candidaturas presidenciais, a qual reconhecemos a prerrogativa como dono. Isso é sobre manter a veia competitiva, reconquistar a confiança que foi perdida e restabelecer a relação com as lideranças baseada na comunicação aberta. Pedimos que você venha ao escritório e encontre-se com os líderes do “Post”, como já fez no passado, para entender o que está acontecendo. Entendemos a necessidade de mudança e estamos ansiosos para entregar resultados de maneiras inovadoras. Mas precisamos de uma visão clara em que possamos acreditar. Estamos comprometidos em seguir com o jornalismo independente que possui o poder de reportar notícias sem medo ou atendendo a favores. Isso nunca mudará. Nada chacoalha nossa determinação como seguir a reportagem onde quer que ela nos leve. Como você mesmo escreveu quando se tornou dono do “Post”, em 2013: “Os valores do “Post” não precisam mudar”. Pedimos que você nos apoie em reafirmar esses valores. Assinado, Funcionários do Washington Post.