O rosto compungido e emocionado da jornalista Eliane Cantanhêde se abre, num tom canastrão com emoção mais artificial que uma toalha de rosto, para dizer: “Roubaram as minhas joias no Natal de 2023. Foi doloridíssimo. Eu fico imaginando quem perdeu tudo, a sua casa. Imagina uma pessoa que deu um duro danado para comprar uma geladeira, um fogão”. Assim, a comentarista titular da maior rede de comunicação do Brasil tece uma comparação entre a dor de vidas devastadas no Rio Grande do Sul e seu narcisismo pequeno burguês. A falta de senso de proporção significa falta de senso de percepção da realidade que redunda em falta de senso de justiça. Falta de senso de percepção da realidade para um jornalista é fatal. Se alguém incumbido de analisar os fatos e extrair algum esboço de verdade da realidade compara um capricho material seu a uma vida perdida, devastada por uma tragédia natural, a tragédia humana se dá em um jornalista que não tem competência para exercer seu ofício. Não é de se estranhar que esse mesmo tipo de jornalista que habita os domínios da Globo ache normal que senhoras de mais de 60 anos sejam condenadas a quase 20 anos de cadeia por terem ido à Praça dos Três Poderes, em Brasília, no 8 de janeiro, que pessoas sejam censuradas e arruinadas financeiramente por crime de opinião, que um homem tenha sido abandonado à própria morte na cadeia sem saber do que era acusado, de jornalistas — como ela — serem exilados e perderem contas em redes sociais ou contas bancárias por emitirem opinião. Jornalista que acha normal traficantes, assassinos e corrutos terem toda sorte de privilégios da Justiça enquanto críticos do governo ou do Judiciário sejam perseguidos como ratos sem terem a quem recorrer. O apreço às joias de Eliane traduz perfeitamente o desapreço a seres humanos reais que têm suas vidas devastadas por uma Justiça injusta oficial no Brasil.
Corta a cena para Lula dizendo que se espantava com a quantidade de negros no Rio Grande do Sul. O presidente associa a negritude à pobreza. Sua ministra da Igualdade Racial disse dias atrás que negros e ciganos deveriam ter prioridade no salvamento de pessoas vítimas de enchentes. O identitarismo gera divisões binárias e superficiais de escala de preferência vitimista. Segundo Lula e sua ministra, é necessário salvar com prioridade quem tiver mais melanina na pele. Num país miscigenado como o Brasil, seria preciso um medidor racial eugenista para saber quem é mais ou menos negro no país mais misturado do mundo. A associação entre negritude e pobreza no Rio Grande do Sul é falsa, se se perceber que os imigrantes europeus que para lá viajaram foram em busca de trabalho e de condições melhores para, justamente, fugirem da pobreza local de onde vieram. O identitarismo de Lula e seu governo usa de artifícios que separam as pessoas para encobrir o real problema de gestão de uma crise humanitária. Preferem dividir as pessoas com discursos de demonização do homem branco. Preferem atacar críticos do governo por apontarem as burocracias impostas que impedem que pessoas doem mantimentos para as vítimas das enchentes no sul do país. Fake news, dizem. Todas as acusações de fake news, como a de caminhões, helicópteros, barcos sendo parados por questões burocráticas foram provadas verdadeiras. A verdade subjetiva do governo é aquela que quer elogiar o governo por sua imagem fabricada, não por sua inação, ineficiência ou perseguição reais a quem tenta fazer algo pelas vítimas das enchentes. O fotógrafo de Lula ensaia o presidente a beijar e abraçar pessoas, numa cena em que o presidente promete recursos, casas e geladeiras para — todas brancas, aliás — vítimas das enchentes. O presidente nomeia Paulo Pimenta, ministro da propaganda lulopetista, para cuidar da crise das enchentes. O ministro aparece publicamente para dizer que não sabe o que fazer nem por onde começar. A ação da propaganda eficiente, emotiva e populista se choca com a realidade que um governo não sabe enfrentar. O governo respira porque conta com a assessoria de Eliane e demais jornalistas da Rede Globo, que seguram as joias do brilho artificial do governo para o grosso da população brasileira. Enquanto isso, pessoas morrem, são desabrigadas, abandonadas por um Estado e por uma grande imprensa que se preocupam apenas com o brilho da própria imagem. O governo Lula e a Rede Globo são como uma bijuteria barata que brilha diante da miséria desumana de sua condição, que brilha diante do desamparo da população, carente de ajuda e informação. Joia rara e insubstituível só o povo brasileiro que se ajuda, a despeito da indiferença calculada e populista de um governo e uma mídia que se perdem no brilho opaco de seu pérfido narcisismo.
Leia também: “O povo pelo povo no Rio Grande do Sul”, artigo publicado na Edição 217 da Revista Oeste
Creio que fui uma das poucas pessoas que não viram nada demais na comparação da Cantanhede.
Gosto dos contrastes, das comparações, das metáforas, eufemismos e hipérboles.
Para mim foi interessante a comparação: se me doeram a perda das joias, que é um “minus “, o que dizer da perda de tudo, até mesmo a vida?
Neste aspecto meramente objetivo, tudo certo. Mas aí o Adrilles coloca o dedo na ferida, que é a autora da comparação; e de repente tufo muda de figura.
Para quem acha normal a perda da liberdade dos outros, acha lógico que senhores de 70 anos com bandeira e Bíblia nas mãos sejam apenados com vinte anos de reclusão em julgamentos por lotes à moda nazista, evidentemente a perda das joias é uma atribulação muito grande. Essa incrível falta de empatia faz com que uma interessante imagem de reforço à narrativa sejam lágrimas deveras.
Se o Luladrão ou um de seus sequazes lhe disser que tem uma solução, há uma chance relativamente boa de que ela nada mais seja do que uma compilação incompatível de ideias irrelevantes que são coladas e erroneamente anunciadas como a solução que não são. E depois de finalmente termos eliminado a carnificina criada pelas soluções dos beócios; resta-nos a tarefa de criar a solução para o motivo pelo qual fomos tolos o suficiente para deixar o ser obtuso encontrar uma solução.
A você Adrilles, que muito aprecio na concisão de seus posicionamentos cristalinos:
Um elefante à nossa frente, que poucos identificaram no horizonte comportamental da nação brasileira!
Desta tragédia imensurável na dor humana impingida aos irmãos gauchos, devemos tirar uma lição que claramente se apresenta a toda a sociedade brasileira!
A SOLIDARIEDADE e o socorro vindo de todos os cantos deste país continente, aliviando e suavizando quase instantaneamente em um crescendo as necessidades imediatas da população rio-grandense!
Que gesto impensável assistimos nas imagens disponíveis dos socorristas, voluntários, médicos, pessoas surgidas de outros estados distantes que para lá se deslocaram no sentido de prestar ajuda… Deixaram seus afazeres para em gesto de grande sacrifício próprio até, prestarem sua colaboração estendendo sua mão no
auxílio pessoal que acalenta e o aproxima daqueles
necessitados…
Inicialmente o poder público ausente, foi esta massa humana de heróis verdadeiros e calados quem prestou os primeiros socorros e ainda persistem nas suas tarefas!
Este aí o fato assimilado por toda a nação brasileira !
Uma lição a todos nós em reflexões de que nem tudo neste infeliz país está perdido.
Minha conclusão e o ‘elefante’ a nossa frente, brilhante articulista!
Imaginou na catástrofe política jamais vista nestes tempos modernos no Brasil, no qual o cidadão que trabalha e produz sendo escorchado por carga tributária a cada dia mais e mais abusiva sustentando uma miríade de apaniguados em todas as esferas públicas, no qual o pudor, a decência, a racionalidade e exatidão requerida de quem administra sendo apartada nas ações públicas?
Acrescente-se a isto a insegurança jurídica malandra a sustentar todo o desatino exposto?
Concluo que sob pressão intensa o brasileiro não foge ao seu conceito de decência, sendo capaz de em situação latente, reunir forças capazes de enfrentar e superar todo o absurdo que nos impõem com a desfaçatez bandida a que estamos submetidos.
A prova aí está.
Forte abraço.
Um retrato perfeito do que está a acontecer.
Nosso país se tornou um prostíbulo a céu aberto….
Parabéns, brilhante reportagem
Gostei muito de seu comentário.
Parabens!!! Deus usou voce para escrever esse comentário!!!!!!!
Parabéns Adrilles pelo excelente texto, destacando a vergonhosa análise dos comentaristas da GloboLixo.
Excelente matéria, Bem definido todos os pontos, onde temos um Governo que não sabe o que faz, e tem um parceira forte, uma emissora que devia ter no mínimo bom senso em atividade principal. Para esquerda, todos que criticam ou não concordam são fascistas. Não tem humildade, sabedoria e tampouco educação. O Brasil enfrente uma das piores crises de todos os tempos, com um presidente totalmente ultrapassado e com as mesmas conversas de sempre.
A você Adrilles Jorge, minha forte saudação em uma análise concisa retratando o que é esta falange que
sequestrou a nação. A eles o escrúpulo inexiste no ser humano.
Parabéns novamente pelo texto brilhante.
=>”A falta de senso de proporção significa falta de senso de percepção da realidade que redunda em falta de senso de justiça.”<=. Aqui se conclui e encerra o grande motivo de ser de esquerda. Pessoas absolutamente fora da realidade, amorais, que tentam relativizar tudo à medida que necessitam passar suas narrativas para a continuidade e proliferação da doença mental que os acomete.
Por vezes saem absurdos como esse!
Triste cenário real de boa parcela de indivíduos!