Como se não bastasse a exploração política da tragédia que acometeu o Rio Grande do Sul, com uma “intervenção branca” comandada por um pré-candidato petista ao governo gaúcho, Lula viu na catástrofe das enchentes a chance de colocar em prática sua obsessão pelo intervencionismo na forma mais pura. Essa é a opinião do jornal Gazeta do Povo, publicada em um editorial na quinta-feira 30.
Justificando a medida com uma suposta escassez de arroz, já que os gaúchos respondem pela grande maioria da produção nacional, o presidente autorizou a importação de 1 milhão de toneladas do grão. O produto será vendido diretamente pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), com rótulo próprio e a R$ 4 o quilo, preço inferior ao que vinha sendo praticado antes das enchentes.
Não havia, no entanto, razão para pânico; houve perdas, mas quase toda a safra gaúcha de arroz já tinha sido colhida, a ponto de a Conab informar uma produção superior à do ano passado – falava-se até em excedentes para exportação.
Intervencionismo do Estado inflacionou o preço do arroz
A elevação dos preços do arroz que efetivamente se verificou logo depois de a água tomar conta do Rio Grande do Sul não tinha relação nenhuma com quebra de safra ou perda de produto já colhido e armazenado.
O que houve foi um minichoque de oferta causado por dificuldades logísticas e burocráticas, combinado com um minichoque de demanda provocado por uma corrida aos mercados, baseada na crença de que faltaria arroz. “Os preços já estavam começando a voltar ao normal quando o governo interveio para bagunçar tudo novamente”, relatou o jornal.
A atuação direta do governo, ao anunciar um leilão de compra de arroz, voltou a inflacionar o produto, como afirmou a senadora e ex-ministra da Agricultura Tereza Cristina (PP-MS). A incapacidade de entender como funciona a lei da oferta e demanda levou até a críticas infundadas do atual ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, a parceiros do Mercosul.
A publicação acredita que, além do caos no curto prazo, a intervenção do governo ainda tem tudo para elevar os preços do arroz no médio prazo, já que a entrada de arroz estrangeiro — ainda por cima isento de impostos de importação, enquanto o produto nacional segue muito bem tributado – reduzirá os retornos dos agricultores, que tendem a trocar o arroz por outros cultivos, como a soja.
“O resultado lógico é a redução das próximas safras, e o consequente aumento de preços nas gôndolas dos supermercados nos próximos anos”, afirmou o jornal Gazeta do Povo, em editorial.
Oportunismo político
Os produtores não foram os únicos a chamar a atenção para a irracionalidade da interferência governamental; economistas e a academia também apontaram a falta completa de lógica na ideia de importar arroz e colocar a Conab para cuidar do processo de uma ponta a outra.
Nada disso, no entanto, serviu para dissuadir Lula de ver na medida mais uma chance de capitalizar sobre o drama dos gaúchos, por meio de uma ação facilmente perceptível pela população, ainda que as consequências negativas não demorem muito para chegar — qualquer semelhança com a MP 579, com que Dilma Rousseff desorganizou o setor elétrico em 2012 sob o pretexto de baratear as contas de energia, não é mera coincidência.
Para a Gazeta, o petismo se mantém irredutível em seu “terraplanismo econômico”, apoiado em princípios surreais como a crença na geração espontânea de dinheiro público para ser gasto, e a convicção de que canetadas governamentais são suficientes para resolver quaisquer problemas, reais ou imaginários (como o inexistente risco de escassez de arroz). Tudo isso, é claro, já foi amplamente testado e reprovado no mundo real, inclusive no Brasil, o que não impede Lula e seu partido de seguir insistindo no erro.
Na visão do jornal, usar o drama gaúcho para autopromoção com fotos e narrativas constrangedoras, para perseguir críticos e para dar início à corrida pelo governo do Estado em 2026 já é suficientemente baixo; aproveitar a tragédia para desorganizar o agronegócio local com a alegação de estar fazendo um favor à população, no entanto, é a mais completa falta de vergonha.
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