Desde o temporal da última semana em São Paulo, que deixou mais de 3,1 milhões de pessoas sem energia elétrica, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, aproveitou para tentar exercer controle político sobre a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). A análise sobre a insatisfação do governo Luiz Inácio Lula da Silva com o modelo de concessionárias privadas foi o assunto do editorial de opinião do jornal O Globo desta sexta-feira, 18.
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“Não passa de oportunismo a tentativa do governo Lula de usar o grave episódio do apagão em São Paulo para interferir na estrutura regulatória do setor elétrico”, afirma a publicação. “Alexandre Silveira aumentou o tom das críticas à Aneel, expondo a insatisfação do governo petista a concessionárias privadas, que pressupõe agências reguladoras fortes e independentes”.
O jornal lembra que o ministro chegou “ao cúmulo” de abrir uma investigação na Controladoria-Geral da União (CGU). A ideia era apurar possíveis irregularidades por parte dos diretores da Aneel — esse papel, no entanto, nem compete à CGU.
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Para O Globo, a independência das agências reguladoras, em qualquer setor, é essencial. Ela impede, por exemplo, uma intervenção política no mercado, garante a estabilidade jurídica, o respeito aos contratos, além da devida maturação dos investimentos. Mas essa independência presume a presença de profissionais experientes do mercado e com mandatos fixos, sem qualquer vínculo com o calendário eleitoral.
“Tudo isso é exatamente o contrário do que defendem Lula e Silveira”, ressaltou o editorial.
Governo Lula usa apagão em São Paulo para fazer disputa de narrativas, afirma jornal
Ainda no texto, O Globo diz que não surpreende que o terceiro apagão em São Paulo, justamente antes do segundo turno das eleições municipais, tenha gerado uma disputa de narrativas.
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“Mas cada um tem sua parcela de culpa”, destaca. “Há falhas na fiscalização da Enel por parte da Aneel, e não se pode ignorar que a agência reguladora tem sido esvaziada no atual governo”.
O jornal explica: “Depois do apagão de março deste ano, um diretor afirmou que a agência não tinha mais estrutura para fiscalizar o setor elétrico, pois o quadro de pessoal reflete a realidade muitos anos atrás (eram 730 funcionários em 2014; são 558 neste ano)”.
De acordo com a publicação, faltam diretores e sobram nomeações políticas, o que coopera para o funcionamento ineficiente da Aneel.
“Contudo, nada disso incomoda o governo, que está interessado apenas em curvar a diretoria a seus interesses”, conclui.
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Mais uma que vai a falência …