Em editorial publicado nesta quinta-feira, 5, o jornal Gazeta do Povo fez um balanço do primeiro ano de Javier Milei no governo da Argentina. Conforme o texto, o líder argentino começa a colher os frutos dos abruptos cortes de gastos, ação que chamou de ”motosserra”.
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“Javier Milei está começando a colher os frutos de sua ‘motosserra’ na forma de indicadores econômicos que até pouco tempo atrás pareciam impensáveis para a realidade da Argentina”, escreveu o jornal.
Milei assumiu o cargo em 10 de dezembro de 2023. De lá para cá, o liberal soube implantar um programa de corte de gastos públicos e redução do tamanho do Estado argentino, apesar de um começo sem apoio parlamentar.
Milei prendió la motosierra 😱
— El Economista (@ElEconomista_) September 15, 2023
Javier Milei y Carolina Píparo encabezaron una caravana en Olavarría pic.twitter.com/9hOjJWTz1M
“No hay plata — ‘Não há dinheiro’ — se tornou a resposta padrão para [Milei] bancar a redução de despesas do inchadíssimo Estado argentino (bem mais hipertrofiado que o brasileiro)”, informou a Gazeta do Povo. “Javier Milei optou pelo choque intenso, aproveitando a popularidade que todo presidente eleito tem no início de mandato.”
As decisões e os resultados de Javier Milei
Além de profundo, o corte de gastos de Milei foi rápido. O jornal compara essa rapidez com a experiência liberal anterior na Argentina, de Maurício Macri. Entre 2015 e 2019, ele preferiu ajustes graduais, “insuficientes para o grau da crise argentina”.
“A história argentina das últimas décadas demonstra o tamanho do buraco em que se enfia um país que não controla o gasto público”, escreveu a Gazeta do Povo.
Apesar da dificuldade em cessar verba estatal, os resultados vêm na sequência. A inflação da Argentina de outubro de 2024 ficou em 2,7%, o menor resultado desde novembro de 2021. No mês da posse de Milei, em dezembro de 2023, o índice estava de 25,5%.
Outra marca de outubro de 2024 é que a Argentina comemorou seu décimo mês consecutivo de superávit primário. O resultado sugere que o país passou a ter um superávit nominal em 2024, ou seja, conseguiu um resultado fiscal positivo mesmo depois de pagar os juros de sua dívida. É um resultado inédito na história argentina recente.
Nem tudo são flores
Ainda que tenha um bom começo de governo, a sociedade argentina sente os efeitos do ajuste de Milei. Segundo o órgão oficial de estatísticas da Argentina, o Indec, o país teve, no primeiro semestre deste ano, 52,9% de pessoas abaixo da linha da pobreza, contra 41,7% na segunda metade do ano passado.
Além disso, o PIB argentino seguiu sua queda de 2023, de 1,6%, e tem projeção de -3,5% para o fim desse ano. Em partes, essa expectativa demonstra como o tamanho da despesa pública mantinha a economia argentina e como o consumo das pessoas dependia de subsídios estatais. Milei nunca escondeu que isso acabaria.
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“Nessas circunstâncias, qualquer outro presidente já teria sido escorraçado da Casa Rosada pela população, mas Javier Milei continua tendo o voto de confiança dos argentinos, de quem ele não escondeu que a situação ainda pioraria antes de melhorar”, informa o jornal.
E 2025?
O próximo ano ainda deve ser de ajustes na Argentina, para que o povo comece a sentir as consequências práticas desses bons indicadores.
Segundo o Banco Mundial, o PIB argentino deve crescer 5% — um número que a Gazeta do Povo considera robusto, “mas construído em cima de uma base bastante deprimida”. ” A inflação, ainda que hoje seja bem menor que nos anos do peronismo esquerdista gastador, precisará seguir caindo”, informa o texto.
“E a confiança do investidor estrangeiro terá de ser finalmente reconquistada depois de a Argentina ter conquistado fama de caloteira”.
A agência Fitch elevou, em novembro deste ano, a nota da Argentina. Agora, o país está a um passo de sair da categoria de “alto risco” e ir para o “grau especulativo”.
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“A política cambial do governo está levando a uma valorização do peso, que pode ajudar o país a recuperar suas reservas cambiais – com o efeito colateral de encarecer a Argentina para o turista estrangeiro”, avalia a Gazeta do Povo.
Ao final do editorial, o jornal compara as medidas do governo argentino com os pedidos de ajuste fiscal que o Brasil encara. Ele entende que, aqui, é “muito mais brando”, mas “parece não haver ninguém com a coragem” necessária.