Manifesto de artistas que pede 'voto útil' em Boulos é exemplo genuíno de autoritarismo, avalia Estadão

Em editorial publicado nesta quarta-feira, 2, o jornal Estado de S. Paulo critica o manifesto criado por intelectuais e artistas de esquerda para promover a candidatura de Guilherme Boulos (Psol) à Prefeitura de São Paulo. Os signatários pedem aos eleitores da também candidata Tabata Amaral (PSB) que a deixem de lado para votar no psolista logo no primeiro turno, senão os rivais supostamente bolsonaristas — Pablo Marçal (PRTB) e Ricardo Nunes (MDB) — podem vencer a eleição.

“Para essa turma, uma eventual derrota do ex-líder dos sem-teto representaria um risco para a democracia”, diz o editorial, ao lembrar que o documento surge em um momento decisivo da disputa, com as pesquisas de intenção de voto mostrando um empate técnico entre Boulos, Nunes e Marçal.

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Ao comentar os possíveis cenários no primeiro e no segundo turno, o Estadão resume por que a iniciativa dos intelectuais e artistas de esquerda é inútil. O jornal se ampara nas pesquisas para argumentar que até mesmo Boulos pode ficar fora da disputa. Caso avance na disputa, deve perder para Nunes e vencer Marçal por margem pequena de votos — o que denota equilíbrio nas urnas. “A única candidata que venceria todos no segundo turno, de acordo com as pesquisas, é, ora vejam, Tabata Amaral“, afirma o jornal.

Nesse sentido, o argumento dos artistas de esquerda cairia por terra. “Se a intelectualidade que assinou o manifesto pusesse o intelecto para trabalhar, defenderia o ‘voto útil’ em Tabata Amaral, e não em Boulos”, diz o texto, ao constatar que a candidata sofre rejeição dos ditos progressistas porque se perfila ao centro do espectro político e porque resiste às estocadas do PT para desistir da campanha. “O tal manifesto, ademais, se presta somente a confirmar algo que já ficou claro há bastante tempo: a esquerda não consegue oferecer nada ao país a não ser uma alegada defesa da democracia.”

Estadão critica maniqueísmo dos ditos progressistas

De acordo com esses artistas, os candidatos da direita integram um “bloco antidemocrático” que pretende usar uma eventual vitória em São Paulo para “dar uma demonstração de força” e “destruir os direitos mais básicos da república brasileira”. Os candidatos da esquerda, principalmente Boulos, representaria o exato oposto. Teoria que, segundo o Estadão, é apenas mistificação. “Ao contrário do que dizem os signatários do manifesto, a democracia não corre o menor risco na cidade de São Paulo”, resume o texto. “Quem corre sério risco é Lula, que colocou todas as suas fichas na campanha de Boulos e, em caso de revés, sairá bastante desmoralizado.”

O editorial destaca ainda que, em um verdadeiro ambiente democrático, os adversários deveriam ser vistos como concorrentes legítimos, não como demônios políticos. “Os manifestantes decerto sabem (ou deveriam saber) que é típico do pensamento totalitário reivindicar o monopólio da virtude e considerar adversários políticos como inimigos existenciais”, observa. “Foi assim que ditadores como Hugo Chávez, Nicolás Maduro, Daniel Ortega e o mestre de todos, o Comandante Fidel, construíram seus regimes tiranos — tão admirados, aliás, por Lula, Boulos e vários dos aflitos signatários do manifesto.”