Em editorial publicado na terça-feira 27, o jornal norte-americano The Wall Street Journal lançou dúvidas sobre a motivação da prisão do CEO do Telegram na França e criticou “o regime de censura” da União Europeia. Não é possível saber se prisão tem fundamento ou não, diz o jornal, em razão do “regime de censura da Europa”.
A publicação lembra que os motivos da prisão de Pavel Durov, no último fim de semana, ainda não foram esclarecidos pela França. O temor é de que o Telegram tenha se tornado alvo da União Europeia por ser uma plataforma que não exerce vigilância sobre os conteúdos publicados. Já o bloco exige um rígido controle sobre tudo o que vai para as redes sociais para evitar, principalmente, “discurso de ódio”.
Foi justamente por isso que a prisão de Durov gerou uma onda de questionamento nos meios conservadores. O dono do Twitter/X, Elon Musk, tuitou: “Liberté Liberté! Liberté?”.
Chris Pavlovski, CEO da Rumble, plataforma de vídeos conservadora, disse que a prisão “cruzou uma linha vermelha”.
Já o presidente da França, Emmanuel Macron, negou que Durov esteja sendo alvo político, mas o governo ofereceu poucos detalhes sobre os motivos de sua prisão.
+ Leia mais notícias de Imprensa em Oeste
Europa impõe censura e controle de discurso a plataformas de redes sociais
Os promotores de Paris dizem que o CEO do Telegram foi detido em razão de uma investigação sobre atividade criminosa na plataforma, incluindo pornografia infantil, tráfico de drogas, lavagem de dinheiro e sua recusa em cooperar com a polícia.
“Essas são ofensas graves se forem verdadeiras”, diz o WSJ. “Mas muitos suspeitam que isso seja apenas um pretexto porque a Europa também está impondo controles de discurso em outras plataformas de mídia.”
O jornal lembra que em 2020, a França tentou exigir que os sites removessem o discurso de ódio e que o Parlamento Europeu usou sua lei de serviços digitais, o Digital Services Act, que obriga as plataformas a coibirem conteúdo prejudicial, incluindo o chamado discurso de ódio, desinformação e propaganda.
+ Quem é Pavel Durov, fundador do Telegram
As plataformas podem ser multadas em até 6% de sua receita mundial se permitirem a publicação de “conteúdo prejudicial”.
“Thierry Breton, o Comissário Europeu para o Mercado Interno e ex-executivo francês de telecomunicações, está usando a lei como um porrete para censurar a fala em todo o mundo”, afirma o WSJ.
O jornal afirma que Breton se insurgiu contra a entrevista ao vivo de Musk com Donald Trump, candidato à Casa Branca, e fez ameaças contra o dono do Twitter/X.
“Ele afirmou, ameaçadoramente, que procedimentos formais já estão em andamento contra X sob o DSA relacionados à ‘disseminação de conteúdo ilegal e à eficácia das medidas tomadas para combater a desinformação’”, afirmou o WSJ. Breton, na ocasião, ressaltou que os reguladores “não hesitarão em fazer uso total de nossa caixa de ferramentas… caso seja garantido para proteger os cidadãos da UE de danos graves”.
Isso é coisa de bandido, diz WSJ
Para o WSJ, “isso é coisa de bandido”. O jornal cobrou uma posição do governo de Joe Biden, que até agora não veio.
“Os reguladores europeus estão tentando se intrometer na eleição presidencial dos EUA. No entanto, a missiva não atraiu nem um pio da Administração Biden. A Casa Branca apoia os esforços da Europa para censurar o discurso político americano? É uma pergunta justa, dado o apoio dos indicados do presidente Biden para a regulamentação digital da Europa”, afirmou o WSJ.
Para o jornal, são essas condutas de censura e de caça ao “discurso de ódio” que levam ao ceticismo sobre as razões da prisão de Durov. “Tudo isso explica por que a prisão do Sr. Durov está incitando ceticismo. Os conservadores americanos em particular se preocupam que os europeus estejam tentando fazer do Sr. Durov um exemplo para impulsionar mais censura na internet com uma piscadela e um aceno da Administração Biden. Paris poderia dissipar tais suspeitas fornecendo mais detalhes sobre sua investigação, e a Casa Branca deveria encorajar isso”, afirmou o WSJ.
O editorial termina afirmando que “a confiança no governo está diminuindo nas democracias ao redor do mundo, e os líderes não ajudam a si mesmos ou aos seus países quando confundem os limites entre conduta criminosa e discurso que consideram ofensivo”.