(Por J.R. Guzzo, publicado no jornal Gazeta do Povo em 15 de novembro de 2021)
A China é muito longe do Brasil, muito diferente em tudo, muito mais rica — segundo o FMI, teve em 2020 um PIB dez vezes maior que o brasileiro — e é muito mais importante para o resto do mundo. Ou seja: não dá para comparar. Não dá, mas também não é proibido olhar para a China e pensar um pouco no que acontece lá. Não para copiar nada, pelo amor de Deus — é só mesmo para pensar.
Há quase dez anos, desde 2012, a China vem sendo comandada por um só presidente e um só governo, e acaba de decidir que vai continuar assim pelo futuro próximo. Obviamente, o esquema tem dado certo; a China, sob a atual direção, continua sendo de longe o país de maior sucesso material do mundo, com todos os espetaculares benefícios que isso tem trazido para a sua sociedade. Se não estivesse dando certo, aliás, a coisa não continuaria de pé.
Num mundo que vive na incerteza, na inconstância e na incapacidade de definir o que quer, com uma inflação descontrolada de “causas” de todos os tipos, a China é uma rocha de estabilidade. Tem problemas, é claro; teve covid, como todo mundo — foi a pátria da covid, aliás —, tem disputas, tem dificuldades sérias, tem escassez de terra e de água, tem gente infeliz. Mas não vacila, nunca, no essencial: fazer tudo o que é necessário para manter vivo, e muito acima de qualquer outro país, o crescimento econômico.
Os chineses, já há muito tempo — na verdade, desde que começaram a sua extraordinária transformação interna, possivelmente a maior que uma nação já viveu na história humana —, têm uma certeza: a única solução efetiva para as questões sociais está no crescimento contínuo, racional e acelerado da economia. Isso deve ser feito com as ferramentas do capitalismo e com a liberação das forças produtivas — e sob o comando de um partido político único, que, na verdade, é um sistema burocrático e administrativo baseado no mérito individual. Fim de conversa.
A China não precisou de democracia para sair do subdesenvolvimento mais aterrorizante em que estava 50 anos atrás e passar para a posição de segunda maior economia do mundo. Não precisou de democracia, igualmente, para satisfazer com toda a decência as necessidades materiais de uma população a caminho do 1 bilhão e meio de habitantes. Na verdade, em 5.000 anos de história, nunca teve democracia — e não parece, nem um pouco, interessada em ter uma agora, ou em futuro visível.
Na China, não há debates sobre a “linguagem neutra”, as terras indígenas ou o direito de homens biológicos jogarem em equipes esportivas de mulheres. Não existe a Ordem de Advogados da China, nem um Supremo Tribunal Federal que manda para a cadeia os aliados do presidente Xi Jinping. Nas escolas, os professores têm de ensinar de verdade os alunos, a começar pelas ciências exatas — ou é isso, ou vão para a cadeia. Não há um Ministério Publico que proíbe o governo de construir estradas de ferro ou usinas de energia elétrica. Não há uma porção de outras coisas.
O contrato social na China é outro. O governo não fornece Constituição, com 250 artigos, estabelecendo o “direito de moradia” — fornece a moradia. A troca é simples. Nós damos comida, trabalho, tratamento médico, escola, celular, laptop e mais uma porção de coisas reais. Vocês deixam o governo em paz. Tudo bem?
É assim que funciona, lá. A democracia do mundo ocidental cristão — tecnicamente, a mesma no Brasil e na Suécia, com resultados opostos num lugar e no outro — não é uma ideia que faz sentido para a atual direção da China, ou para qualquer outro governo que os chineses já tiveram. Eles mesmos, pelo que se vê na prática, acham que está bom assim. Vida que segue, portanto.
Leia mais: “O terrorista tapeou o doutor em fake news”, artigo de Augusto Nunes publicado na Edição 85 da Revista Oeste
Mestre Guzzo perfeito na análise como sempre.
Precisamos entender que cada compra vale.
O que é feito no Brasil é mais caro?
Vale a pena, acredite.
Li esse texto bem cedo, de manhã, e, de imediato, escrevi um comentário. Mas não publiquei. Parei para pensar. A questão me pareceu muito instigante e merecedora de uma reflexão mais profunda. Parei de pensar quando lembrei dos Titãs:
Bebida é água!
Comida é pasto!
Você tem sede de que?
Você tem fome de que?…
A gente não quer só comida
A gente quer comida
Diversão e arte
A gente não quer só comida
A gente quer saída
Para qualquer parte…
A gente não quer só comida
A gente quer bebida
Diversão, balé
A gente não quer só comida
A gente quer a vida
Como a vida quer…
(…)
Valeu, Mestre Guzzo!
Você está dizendo que vale mais a pena ter um pedaço de terra e um celular e ser dominado por um país comunista .
Cade o valor da sua independência e liberdade para ter a profissão que você deseja ,na china quem dita as regras sobre o que você tem que fazer é o governo ditador é rica sim mas a que preço o povo é escravo do governo aonde isso é bom? Tudo bem que não podemos fazer tudo no Brasil mas ainda não chegou e nunca chegará a ser um país de esquerda e comunista porque o povo não vai deixar e não adianta alguns com pensamentos fracos acharem pois o povo é mais soberano e DEUS é um só no pais comunista o deus deles é o ditador ou você não viu que até nas igrejas na china tem a foto do ditador dentro da igreja .
Os argumentos apresentados pelo Guzzo são inquestionáveis, já que refletem a verdade, a verdade do PCC, diga-se de passagem. Com apenas 8 anos no poder, a China vem apresentando um crescimento em descordo e totalmente destoado com o resto do mundo. De onde veio essa riqueza imensa assim, de repente? Como explicar esse crescimento fenomenal se o resto do mundo não se verificou isso? Gostaria muito de entender isso daí. O que se passa na cabeça de um leigo é que houve uma colossal transferência de riqueza de outros países para lá, não há outra explicação plausível.
Na China é cada um de acordo com seu trabalho. Se recebeu seu pedaço de terra; tem que ser agricultor até morrer. A China tem uma cultura milenar, e um único povo. Não há miscigenação como no mundo inteiro. E sem falar no dialeto que é totalmente complicado com aquela simbologia esquisita. A China adotou o marxisismo ao modo chinês. Tal revolução assassunou 70 milhões de chineses para ser implatado o comunismo de Mao Tsé Tung. Se o João Goulart tivesse inplantado o comunismo a população brasileira teria sido extinta. Ainda lembro daquela música da copa de 1970. Setenta milhões em ação pra frente Brasil salve a seleção. Pois é. Se na China tiveram que matar setenta milhões, aqui esses setenta milhões teria sido exterminado, e teria ficado vivo apenas o ditador, João Goulart, e talvez a famílua dele.
“Nas escolas, os professores têm de ensinar de verdade os alunos,”… Depende de qual verdade – nem todas as verdades interessam ao PCC…
Só peixe morto vai a favor da correnteza. Vender a alma para ter moradia, ou um aparelho de celular, é parecido com isso. “Libertas quæ sera tamen”.
Para ver que é possível discorrer vastamente sobre vários temas sem aparentar contradições, montado ainda que em uma espécie de uma grande metáfora, o que da casca tudo se vê parecer uma perfeita descrição composta por aspectos da realidade. O que a grande habilidade permite é conduzir à refletirem sobre como podem ser impressionadas as percepções individuais diante de uma perspectiva apresentada pelo hábil jornalista.
O custo humano desse desenvolvimento chinês é invisível pois lá somente as boas notícias são publicadas. Portanto é um desenvolvimento sim, sem dúvidas, mas apenas para os que sobrevivem. Se chegássemos a defender um sistema destes seria dizer que apenas algumas vidas valem a pena ser vividas, enquanto as outras não.
O sistema chinês não se sabota, nem perde tempo com liderança demagógica. Méritocracia é a palavra chave.
Filho, você está fumando orégano estragado.
Ainda que eu vivesse num Brasil que, de maneira fantasiosa, tivesse um crescimento de 10x o da atual China, entregasse com “decência” comida, moradia, trabalho, parafernálias eletrônicas e contivesse um sistema educacional eficiente e resolutivo, não abdicaria da nossa trôpega e tupiniquim democracia e, sobretudo, dos valores ocidentais de liberdade, nas mais variadas formas, e da nossa fé cristã.
Amigo, o autor em momento algum defendeu a política/práxis chinesa. Leia com calma.
Perdão, postei a resposta na conversa errada!
Capitalismo de Estado chinês, e com o investimento maciço do ocidente em vista de lucro fácil! Mão de obra barata, leis ambientais inexistentes e autoridades corruptas, eis a tríplice tentação; mas não esperavam a esperteza do PCC!!! Desde muito tempo, o ocidente esvaziou a importância dos valores e dos nobres ideais, e se curvou ao materialismo e ao dinheiro; o resto é apenas um detalhe!
Texto bem piada, só pode. Trata-se de um país fechado pra caramba, com perseguição religiosa, massacre de minorias, etc. Governado por partido único sim, mas porque destruiu qualquer um que ousou levantar a idéia contrária a isso; ao custo de milhões de vidas na revolução comunista. Economia gigante sim, nas mãos de conglomerados gigantes, muitas controladas pelo partido. E o povo? Vai lá conversar com o chinês comum pra ver.
Amigo, o autor em momento algum defendeu a política/práxis chinesa. Leia com calma.
Até aqui no fundo sertão no meio de carucacas e bugios se sabe que você é muito bom Jornalista. A sua lógica é um patrimônio pessoal que ajuda em análises sem rodeios. A China é tão importante que não dá para escondê-la por baixo do tapete. Como na história da humanidade, existem os prós e os contras. Para os chineses o que importa é que eles não estão apenas comendo só nas beiradas: agora dão dentadas na parte principal do mingau.
As custas de trabalho escravo,medo e zero de carater e princípios