No mundo da ciência climática real, o Intergovernamental Pannel on Climate Change (IPCC), Painel Intergovernamental para a Mudança do Clima, é considerado o perfeito exemplo de como as coisas se tornam enviesadas. Como se não bastasse as seções plenárias de votação das partes do relatório principal, confeccionados pelos conhecidos “grupos de trabalho” e o conteúdo do que será inserido em seus resumos, o painel continua a manter a sua marca registrada de seletividade do que será avaliado e exposto à sociedade mundial.
Começando pelos seus resumos dos relatórios completos, os chamados “Sumários para Executivos”, um documento muito mal elaborado, feito por burocratas dos governos, com a participação de alguns dos autores dos grupos de trabalho e de membros da sociedade civil organizada, todos com perfis bastante engajados na causa climática. De início, tal resumo, com cerca de 25 páginas, sempre é publicado meses antes da finalização e publicação do relatório completo, o que já causa espanto! Não obstante, um questionamento é permanente: como relatórios, em geral com mais de 3 mil páginas, conseguem ser convertidos em cerca de 25?
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Como sabemos, os relatórios são votados de forma que se escolham quais partes serão inseridas e divulgadas. Nos sumários, a situação ainda é mais apertada porque eles precisam conter um teor de urgência, propagando um alarde, com a devida necessidade de celeridade para a resolução de um problema que não existe. Assim, as votações das assembleias incluem pontos mais dramáticos das compilações executadas pelos grupos de trabalho. É a ciência sendo política, pois votam-se textos previamente selecionados e não fatos. Excluem-se também as diversas ressalvas que estavam bem escondidas em alguns relatórios completos, como foi no caso do “Quarto Relatório IPCC” (“Fourth Assessment Report — AR4“).
“Deixemos bem claro que o IPCC não faz ciência, faz política! Ele seleciona e compila artigos que envolvam ‘clima'”
Ricardo Felício
Mas esta é a ponta final do processo. No meio do caminho, temos os trabalhos realizados de compilação, onde o IPCC abre edital para selecionar os trabalhos publicados em revistas científicas de todo o mundo que abordem a causa climática (teremos que usar a palavra “causa”, porque a politicagem e a narrativa já tornaram o que era um “tema” científico em um propósito político). Assim, deixemos bem claro que o IPCC não faz ciência, faz política! Ele seleciona e compila artigos que envolvam “clima”.
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E o que se espera do IPCC? Idoneidade? Claro que não, pois seu objetivo, supostamente original, foi distorcido! Quando o IPCC foi criado, em 1988, achava-se que o painel objetivaria entender as condições climáticas gerais do planeta, estabelecendo qual era o estado da ciência climática (da época), quais seriam as causas para uma suposta “mudança climática” e se, de fato, essa mudança estava a ocorrer. Acontece que o IPCC nunca demonstrou isto, pois passou a procurar a culpabilidade do homem na geração da tal “mudança climática”, devido às suas atividades existenciais como sociedade. Para isto, resumiu clima a um único parâmetro, a “temperatura do ar global média”, controlada por CO2, reforçando o inexistente “efeito-estufa” atmosférico.
Mais de 30 anos do IPCC
Como nestes 36 anos nunca encontrou tal evidência, inclusive se questionando em relatórios pretéritos em algumas de suas passagens, precisou então, forjar essa evidência através de modelos de computador que não sabem simular o clima da Terra, senão por meio do “efeito-estufa”. Assim, resumindo em uma frase o que o IPCC poderia confessar seria: “Como não sabemos o que ocasionou a subida de temperatura (de 0,7oC) no último século, então só pode ser o homem, através de suas atividades de produção, que soltaram CO2 na atmosfera da Terra, intensificando o ‘efeito-estufa’”.
Se o propósito é este, então será necessário que o IPCC pratique a seletividade do material que usará, desde dados, até pesquisas publicadas. Se tais dados ou trabalhos não mostrarem que há um problema com o clima e que o homem nada tem de culpa nisto, ou que mostrem qual é a real forma de como o clima funciona, isto estará devidamente descartado ou pouco será citado. Esta intriga também nos faria questionar outros pontos. Será que um artigo científico que apresentasse resultados que diferissem do propagado pelo painel seria avaliado ou levado em conta, mesmo utilizando a metodologia do IPCC, com CO2 causando “estufa”?
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Pois já sabemos que a resposta é não. Desde a ocorrência do trabalho do professor Richard Lindzen (MIT) no “Quinto Relatório” (AR5, o qual foi publicado por partes, de 2013 a 2014) até a recente recusa de avaliação para o AR6 (2021) do trabalho do falecido irlandês Ray Bates (1940-2024).
Sobre o professor Bates
Bates foi diretor-assistente do Met Éireann e também chefe de uma filial do Laboratório de Atmosferas do Instituto Goddard, da Nasa. Foi professor emérito de meteorologia na Universidade de Copenhague e professor adjunto de meteorologia na University College Dublin. Sua especialidade foi Dinâmica da Atmosfera e contribuiu para modelos de prognóstico de tempo, ou seja, tratava-se mais de meteorologia aplicada para fins operacionais.
Dentro do espectro “Aquecimentistas X Céticos”, Ray Bates poderia se enquadrar dentro dos “aquecimentistas moderados”, ou seja, achava que o CO2 causava “estufa” e foi daí que ele se enveredou para a área de modelagem climática, utilizando de sua expertise anterior de modelagem de tempo meteorológico para prognósticos, que não são nem de longe a mesma coisa, ressalta-se! Desta forma, Bates aplicou a metodologia do IPCC e dizia claramente pertencer ao grupo dos “97%” que acreditavam que o homem mudava o clima da Terra, mal sabendo que tal “estatística” fraudulenta já havia sido desmascarada por David R. Legates, Willie Soon e William M. Briggs desde 2015.
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Em seu modelo, aplicando a mesma metodologia do IPCC, obteve o resultado de que o efeito do CO2 mal subiria com a tal temperatura do ar média global em 1oC. Suas conclusões foram publicadas em revista científica especializada de alto impacto, com a famosa “revisão por pares”. Quando seu trabalho foi submetido ao IPCC para o relatório de 2021, este simplesmente o ignorou, como era esperado. Assim, perguntamos duas coisas:
- Como pode um trabalho que use as mesmas metodologias do IPCC diferirem tanto nos valores de temperaturas? Seria puramente no “trato das forçantes” radiativas que eles gostam tanto de elencar?;
- Como pode o painel ignorar a publicação de um dos “seus”, já que o pesquisador tem a mesma linha de pesquisa “estufa”? Será que foi por que o Prof. Bates era declaradamente contra todas as políticas públicas nocivas que vinham anexadas à agenda climática, cuja emergência ele considerava claramente falsa?
Dentre as suas últimas aparições, tivemos uma entrevista concedida à RIPT, em outubro de 2021, logo depois da publicação do AR6, onde ele discutiu que a ciência climática não estava “configurada” (no sentido de estar completamente estabelecida) e denunciou essa seletividade do IPCC que recusava trabalhos devidamente publicados que não compactuassem com a causa do alarmismo e emergência.
Afinal, como disse o oceanógrafo e adepto da causa aquecimentista, Carl Wunsch, em 2007, no documentário A Grande Farsa do Aquecimento Global (The Great Global Warming Swindle, de Martin Durkin), qual é a relevância de um artigo científico para uma emergência se ele disser que o mar vai subir míseros centímetros ou que a temperatura do ar média global irá se elevar em menos de 1oC em um século? E não adianta os “palestrinhas” virem aqui dizer que não foi isto que Wunsch quis dizer, ou que está fora do contexto, porque foi exatamente assim que ele conjecturou: a importância do alarde para avaliação, publicação e ênfase!
“Fica provado que o IPCC não faz ciência! Ele faz propaganda com objetivos políticos”
Ricardo Felício
Pois também foi explicitamente isto que o professor Bates declarou na sua entrevista. Os artigos que foram publicados em revistas científicas, mesmo as de renome, mas cujo teor de aquecimento fique aquém de 1oC não têm relevância para o IPCC. Afinal, como você poderá assustar o mundo, exigindo drásticas mudanças de toda a sociedade global e seus métodos de produção, sabendo que, além da irrelevante contribuição humana ao suposto “aquecimento global” ou “mudança climática”, as alterações serão exatamente as mesmas que já ocorrem no mundo natural sem a interferência humana? Então este é o ponto! Fica provado que o IPCC não faz ciência! Ele faz propaganda com objetivos políticos.
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Foi neste quesito que tivemos, desde 1998, do “Terceiro Relatório” do IPCC (TAR) até recentemente, a situação inversa. Trata-se da propagação do inusitado, fantasioso e devidamente desmascarado gráfico denominado de “taco de hóquei”, de autoria de Michael Mann, que foi eleito pelo IPCC, a “suma verdade” do padrão de temperaturas do ar dos últimos séculos. Sua origem remete, resumidamente, a um programa de computador viciado em esconder valores de temperaturas baixas do mais recente período frio medieval, fazendo-as explodir os seus valores no final do século 20. O gráfico em questão foi debatido por anos, refutado, desmascarado e chegou até aos tribunais, mas nunca foi devidamente esclarecido pelo IPCC, pois não se podia admitir o erro propagandístico, travestido de científico.
Assim, não se espera outra coisa do IPCC a não ser a seletividade para materializar sua propaganda. Para quem ainda não se convenceu da propagação do falso evangelho climático, basta compararmos o “Quinto Relatório” (AR5) com o “Sexto” (AR6) para notarmos que a principal mudança foi o acréscimo de mais um cenário de modelagem computacional. Trata-se do chamado “cenário inferior” (SSP1-1.9) que, diferentemente do cenário de truncamento absurdo usado para amedrontar o mundo (A1FI), do “AR4”, de 2007, o novo cenário serve para “trazer as boas-novas” do benefício climático da mentirosa contenção das temperaturas, se a sociedade se converter religiosamente às emissões de balanço zero de CO2 até 2050.
“Na bizarrice científica, agricultura muda o clima”
Ricardo Felício
Notoriamente isto tem o propósito de criar uma falsa expectativa de que existe a possibilidade de se deter a “mudança climática”, mas o sacrifício é alto! Daí entendemos a enorme movimentação das forças produtivas, especialmente as que envolvem a agricultura por todo o mundo, pois na bizarrice científica, agricultura muda o clima. Assim, uma atividade que essencialmente necessita de carbono livre na atmosfera para aumentar a sua produtividade, agora precisa combater a sua liberação. Isto só pode ser encarado como a concretização da loucura plena!
Contudo, isto só nos revela que o IPCC quer vender o seu produto de escravidão da humanidade de forma dourada, florida e indolor, apelando para mais outra arapuca fantasiosa. Esse novo e utópico cenário de total tranquilidade ambiental também foi simulado em modelos de clima que não sabem reproduzir a realidade climática! É ou não é a divulgação de pura propaganda? Então, com loucos querendo manipular tudo por meio do engano, só nos restou alertar: não deixe a propaganda te controlar!
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