Quase 350 casos de hepatite aguda em crianças entre 1 mês e 16 anos foram registrados em cerca de 20 países, incluindo o Brasil. Até o momento, a causa da nova doença é desconhecida, pois os casos misteriosos não se enquadram nos registros mais comuns de hepatite A, B, C, D ou E. Segundo o Ministério da Saúde, no Brasil existe pouco mais de 40 ocorrências confirmadas, até o momento.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o surto de hepatite aguda pode estar relacionado à covid-19. Um estudo publicado na revista médica The Lancet, na sexta-feira 13, também sugere a mesma hipótese.
Segundo a OMS, dos quase 350 casos confirmados, pouco mais de 70 tinham no sangue o adenovírus — vírus causador de infecções oculares e respiratórias — nesses 70 casos, foram detectados 19 pessoas com o adenovírus F41 junto ao Sars-CoV-2 (vírus causador da covid-19), e 18 pessoas tinham somente o F41.
O F41 é um vírus já existente e conhecido, mas, antes dos surtos de hepatite, ele estava presente somente em crianças que tinham imunidade baixa, e não naquelas que eram saudáveis, como nos casos atuais de hepatite aguda. Os demais casos ainda estão sob avaliação.
Ainda segundo a OMS, é possível que, em razão do isolamento social, as crianças se expuseram menos ao ar livre, reduzindo a circulação de adenovírus durante a pandemia. Quando as crianças retornaram ao convívio social, aumentou o risco de infecções virais, agravadas pela circulação do Sars-CoV-2.
De acordo com a médica infectologista Patrícia Rady Müller, ainda não existe um exame específico para detectar a origem dos casos de hepatite aguda. “Como algumas crianças tiveram covid-19, talvez a inflamação pela doença possa ter sido tão forte que, em contato com o adenovírus, resultou nesses casos de hepatite”, explicou.
No entanto, assim como informou a OMS, a médica também descartou a hipótese de surgimento da doença em razão da vacinação contra covid-19. “Não existe uma relação causal entre a vacina de covid-19 com a hepatite misteriosa”, afirmou.
Sintomas da doença
As crianças que desenvolveram a nova hepatite apresentaram sintomas gastrointestinais, como prisão de ventre, gases, indigestão, refluxo e gastrite, fortes dores no fígado, podendo gerar a falência do órgão, fortes dores abdominais, diarreia, vômito e icterícia — quando as partes mais brancas do corpo ficam amareladas, incluindo a parte branca dos olhos.
Em janeiro deste ano, começaram os primeiros relatos da hepatite misteriosa na Inglaterra. Entretanto, em abril, quando a OMS emitiu um alerta sobre a situação, foi descoberto que nos EUA havia registros da doença desde outubro de 2021. Até o momento, pouco mais de 25 crianças tiveram perda total do fígado e foram transplantadas, cinco morreram.
O que é a hepatite
Trata-se de uma inflamação no fígado que pode ter diferentes causas: desde vírus e bactérias diversos até o consumo exagerado de certos tipos de medicamentos, drogas ou bebidas alcoólicas.
Orientações
Segundo a infectologista, como a origem da doença é desconhecida, os procedimentos são adotados de forma genérica. “Quando uma criança chega ao hospital com os primeiros sintomas, recebe orientações para tomar bastante água e ingerir medicamentos para dor”, disse a médica.
De acordo com ela, alguns pacientes também recebem os medicamentos sintomáticos, que são prescritos de acordo com os sintomas que cada um apresenta. “Mesmo assim, é sempre importante que o profissional de saúde cuide, na administração do medicamento, para não piorar o fígado do paciente”, explicou.
A médica recomenda que aqueles que tiveram contato com alguma criança que apresentou sintomas de hepatite misteriosa, de outubro passado até agora, devem procurar um hospital para que seu sangue seja estudado.
“O adenovírus é transmitido por vias respiratórias, ou seja, pelo contato próximo com outra pessoa — como a covid-19 — e também pelas fezes da criança”, afirmou. De acordo com médica, a quarentena também é recomendada para as crianças que tiveram o quadro de hepatite aguda confirmado.