A receita do sucesso une o gerenciamento centralizado da crise, o controle de fronteiras, o uso generalizado de máscaras e uma política maciça de testes de diagnóstico
Enquanto mais de quatro bilhões de pessoas vivem há semanas em completo isolamento social por causa da epidemia de coronavírus, quatro democracias asiáticas enfrentam o vírus de maneira bem diferente. Uma reportagem da Rádio França Internacional (RFI) publicada nesta terça-feira mostra o que Taiwan, Coreia do Sul, Singapura e Hong Kong têm feito para controlar a doença.
A receita do sucesso une o gerenciamento centralizado da crise, o controle de fronteiras, o uso generalizado de máscaras, uma política maciça de testes de diagnóstico, quarentenas rigorosas para suspeitos e contaminados e muita tecnologia. “Esses países agiram com a premissa de uma transmissão imediata de homem para homem”, observam os autores do estudo Covid-19: Leste da Ásia enfrentando a pandemia, elaborado pelo Instituto Montaigne, na França. “Sem esperar pela confirmação oficial da OMS, em 22 de janeiro, economizaram tempo”.
Embora o acesso a dados pessoais tenha se tornado quase uma regra, poucos têm se oposto a isso. É o preço que aceitam pagar para manter, sem restrições, a liberdade de movimento.
Taiwan
Taiwan, o maior parceiro comercial da China, e cujo vice-presidente é um epidemiologista, registrava nesta segunda-feira, 27, apenas 429 casos confirmados de coronavírus e seis mortes. Em 31 de dezembro, a capital Taipei enviou um e-mail à OMS alertando a instituição sobre “pelo menos sete casos de pneumonia atípica em Wuhan”, que foram “isolados para tratamento”. A organização internacional, porém, não deu atenção. Enquanto Pequim ainda negava a transmissão do vírus de pessoa para pessoa, as autoridades de Taiwan já começavam a medir a temperatura de todos os passageiros que desembarcavam de aviões provenientes de Wuhan, onde o vírus se espalhava.
O primeiro caso apareceu em Taiwan em 21 de janeiro. Segundo a reportagem da RFI, em 6 de fevereiro, embora o resto do mundo ainda não acreditasse no risco de uma pandemia, Taipei decidiu proibir os viajantes da China de entrar em seu território. A ilha de 24 milhões de habitantes também aumentou a produção de máscaras de 4 para 13 milhões por dia, proibiu a exportação desse material e começou a testar todos aqueles com sintomas do novo coronavírus. Para controlar o risco de casos importados, a administração de saúde pública criou uma declaração obrigatória para todos os passageiros que chegavam à ilha, verificando as viagens feitas nos últimos 30 dias.
Além disso, as pessoas colocadas em quarentena foram equipadas com um telefone celular, o que permitiu o controle de seus movimentos. Quem quebrasse as regras enfrentava uma dupla ameaça: uma multa de até 30.000 euros e a publicação de seus dados pessoais. Empresas, lojas, escolas e restaurantes permaneceram abertos.
Coreia do Sul
Na Coreia do Sul, o diagnóstico em massa da população ajudou a conter a propagação do vírus, graças a uma capacidade diária de 20.000 testes. No total, mais de 500.000 testes já foram realizados no país. Em 27 de abril, Seul registrou 10.738 casos de coronavírus e 243 mortes pela doença.
No fim de fevereiro, entretanto, a epidemia explodiu na cidade de Daegu, dentro da comunidade religiosa cristã de Shincheonji. As autoridades passaram a enfrentar um desafio: encontrar, testar e isolar os 210.000 membros da organização religiosa, bem como seus parentes e contatos recentes, graças a um exército de investigadores epidemiológicos e ao suporte de aplicativos de rastreamento digital.
A partir de 26 de fevereiro, os centros de triagem “drive-thru” permitiram que o maior número possível de pessoas fosse testado. Em março, o exército tomou as ruas de Daegu para desinfetar as áreas atingidas pelo coronavírus. A Coreia do Sul adotou controles rígidos, mas manteve suas fronteiras abertas. Todos os viajantes passaram a ter a temperatura medida e eram obrigados a assinar uma declaração de saúde e informar as autoridades de suas viagens recentes. Os passageiros que chegavam da Europa passaram a ser sistematicamente selecionados no aeroporto. Aqueles que testavam positivo eram imediatamente transferidos para o hospital. Os que testavam negativo eram colocados em quarentena.
Seul também passou a usar ferramentas digitais para rastrear casos confirmados e aqueles que estiveram em contato com um portador do vírus. Até extratos de cartões bancários são usados para verificar quais compras foram feitas e em quais lojas. Um aplicativo móvel localiza qualquer usuário em quarentena e permite que ele entre em contato direto com as autoridades de saúde para acompanhar o desenvolvimento de seus sintomas.
Singapura
Assim como a Coreia do Sul, Singapura também conta com o Big Data para conter a epidemia. Atualmente, porém, a cidade-Estado enfrenta uma segunda onda de contaminações, que a forçou a fechar escolas e negócios não essenciais. Em 27 de abril, Singapura registrou um total de 14.423 casos confirmados de coronavírus e 12 mortes.
Aproveitando a experiência anterior com a epidemia de SARS, em 2003, 21 dias antes do primeiro caso de coronavírus em seu território, Singapura passou a implementar medidas rigorosas. Todos os viajantes de Wuhan deviam passar por verificações de temperatura e as autoridades de saúde pediam que médicos identificassem pacientes com sintomas de pneumonia. Logo depois de detectarem o primeiro caso, em 23 de janeiro, as autoridades passaram a impor restrições à entrada de pessoas que haviam viajado para a China.
Em vez de determinar o isolamento social, o governo optou por iniciar uma grande operação de distribuição de máscaras: quatro por semana, para cada família, a partir de um estoque nacional.
Foi também neste momento que começou um rastreamento digital por meio do aplicativo “TraceTogether”. Graças ao sistema Bluetooth, o aplicativo identifica todos os usuários de smartphones que entraram em contato com um caso confirmado de Covid-19 e que, em seguida, são informados através de um SMS.
Hong Kong
Em Hong Kong, os 7 milhões de habitantes foram alertados assim que surgiram as primeiras informações sobre uma gripe misteriosa na China. Os moradores adotaram, espontaneamente, o uso de máscaras e medidas de distanciamento social.
Inicialmente, em janeiro e fevereiro, o governo local conseguiu controlar a propagação do vírus, mas desde meados de março, o número de casos aumentou. Ainda não é necessário que os moradores permaneçam confinados, mas, bares e karaokês estão fechados. É proibido se reunir em público com mais de quatro pessoas e, desde 25 de março, as fronteiras estão completamente fechadas. Até o momento, 1.037 casos foram relatados e apenas 4 pessoas morreram.
Desde que o primeiro caso de coronavírus importado de Wuhan apareceu, em 22 de janeiro, as autoridades acompanharam cada caso, confirmado ou suspeito, de perto. Eles foram imediatamente colocados em confinamento solitário, todos os seus contatos foram rastreados e submetidos à vigilância médica.
Em 8 de fevereiro, a quarentena de 14 dias se tornou obrigatória para todos os passageiros que chegavam da China, uma medida que seria estendida a todas as chegadas internacionais, em 19 de março. Ao descer no aeroporto, os viajantes são equipados com uma pulseira eletrônica e colocados em isolamento. O aplicativo StayHomeSafe permite à polícia e ao Departamento de Saúde monitorar todos os seus passos.
Parabéns à Revista Oeste! Uma das pouquíssimas que estão informando sem radicalismos, verdadeiro jornalismo portanto.
A população carente do Brasil, se não tem dinheiro para comprar um pão, não terá dinheiro também para comprar máscaras. Estas deveriam ser distribuidadas gratuitamente pelos Estados e Municípios em todo Território Nacional, urgentemente, afim de se evitar o aumento da doença.