O fim da guerra contra a Ucrânia voltou a ser uma possibilidade para a Rússia. Depois de dois anos e cinco meses de conflitos intensos, pessoas com acesso ao Kremlin e ao Ministério da Defesa relataram iniciativas discretas para retomar as negociações de paz, interrompidas desde 29 de março de 2022.
Sinais públicos dessa movimentação também estão surgindo, embora as diferenças de abordagem entre russos, ucranianos e possíveis mediadores ainda sejam significativas. É o que mostra o jornal Folha de S.Paulo, em reportagem publicada na sexta-feira 26.
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Um observador próximo ao poder russo afirmou que o presidente Vladimir Putin não estava blefando ao propor termos para acabar com a guerra. Ele pediu a neutralidade da Ucrânia, o desarmamento do país e o controle das quatro regiões anexadas ilegalmente em setembro de 2022. Trata-se de Donetsk, Lugansk, Kherson e Zaporizhzhia.
As intenções de Putin
Diplomatas e outros especialistas acreditam que Putin pode aceitar menos, desde que isso não sugira uma derrota militar.
Um consultor que participou da cúpula da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) em Washington afirmou que a aliança militar considera inevitável alguma cessão territorial por parte de Kiev. No entanto, é crucial que essa concessão não pareça uma derrota para a Ucrânia. Dois generais afirmaram que os militares ucranianos são mais flexíveis nas negociações do que a retórica do presidente Volodymyr Zelensky sugere.
Atualmente, Putin controla cerca de 20% da Ucrânia. O temor em Kiev e no Ocidente é que ele use um cessar-fogo para se rearmar. O ministro da Defesa da Alemanha, Boris Pistorius, declarou que a Otan deve se preparar para um conflito com a Rússia em até cinco anos.
O fracasso da contraofensiva ucraniana em 2023 deu a iniciativa a Moscou, com avanços diários no leste da Ucrânia. Contudo, a Rússia enfrenta perdas significativas de material bélico, esgotando seus estoques soviéticos.
A Rússia aumenta a produção de mísseis
Apesar das dificuldades, a produção russa de mísseis está aumentando e a artilharia mantém uma vantagem significativa sobre a ucraniana. A ação em Kharkiv drena energia das forças ucranianas, que triplicaram seu contingente na região, abrindo brechas em outras frentes de batalha.
O apoio ocidental, depois de um período de indecisão nos Estados Unidos, sugere um reforço para Kiev — embora não suficiente para interromper o conflito, mas talvez para equilibrá-lo.
Putin parece buscar um empate. Se congelar o conflito com as fronteiras atuais, poderá apresentar isso como uma vitória ao público russo, segundo a Folha. O apoio à guerra ainda é significativo, mas pesquisas do Centro Levada indicam um crescente interesse por negociações de paz. Recentemente, houve conversas indiretas entre russos e norte-americanos, confirmadas por Moscou.
Viktor Orbán promove “tour da paz”
O premiê húngaro, Viktor Orbán, aproveitou seu semestre como presidente temporário da União Europeia para promover um “tour da paz”. Visitou líderes como Zelensky, Putin, Xi Jinping e Donald Trump. Na viagem a Moscou, ouviu os termos de Putin e repassou-os aos líderes europeus, que o criticaram publicamente.
Um sinal significativo foi a visita do chanceler ucraniano Dmitro Kuleba à China, onde seu homólogo Wang Yi afirmou que Kuleba está disposto a negociar. O porta-voz de Putin, Dmitri Peskov, saudou essa disposição e afirmou que os russos estão abertos a conversar com Zelensky.
A Ucrânia quer negociar
Zelensky também sinalizou um interesse em discutir com Putin. O ucraniano planeja uma segunda cúpula de paz, desta vez convidando Moscou. Esse caminho ainda é incerto, mas indica um movimento nas negociações diplomáticas enquanto Rússia e Ocidente continuam em conflito.
Se a China liderar as conversas, é possível que o Brasil, que ofereceu mediação junto dos chineses, tenha algum papel nessa negociação.
