No fim do mês passado, a invasão da Ucrânia pela Rússia completou seis meses. Sucessivas tentativas para chegar a um acordo de paz não deram certo. As “sanções” ocidentais não surtiram os efeitos desejados na economia russa. E os invasores têm encontrado uma série de dificuldades no caminho para manter o controle administrativo de territórios que conseguiram ocupar. Seis meses depois do início do conflito, não há indícios de quando ele acabará.
“O mundo em que vivíamos até o dia 23 de fevereiro dificilmente voltará a existir”, avaliou Antonio Gelis Filho, doutor em administração de empresas e professor de geopolítica empresarial na Fundação Getulio Vargas. Para o especialista, o conflito entre os dois países não vai acabar tão cedo.
A seguir, os principais trechos da entrevista com o especialista.
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1 — Podemos dizer que a invasão da Ucrânia pelos russos não deu certo?
É muito cedo para conclusões, mas não vejo o resultado até aqui como insatisfatório para Moscou. Os objetivos declarados pelo Kremlin, no início das operações, eram dois: desmilitarizar e desnazificar a Ucrânia. Certamente, a capacidade militar ucraniana foi muito reduzida, e muitos membros dos batalhões nacionalistas ucranianos — em especial do batalhão Azov, em Mariupol — foram mortos ou capturados, mas, como esses objetivos são imprecisos, é muito difícil julgar seu sucesso. O que sabemos de concreto é que cerca de 20% do território ucraniano está ocupado por tropas de Moscou. Essa área detinha cerca de 30% da população ucraniana antes da guerra, dois terços das reservas de carvão e de minerais, aí incluídas jazidas de lítio e terras raras.
2 — O que a Rússia pretende fazer com esses territórios?
Entre outros objetivos, realizar seu sonho geopolítico de ligar a Crimeia ao país. Com essas terras, pôde-se liberar o abastecimento de água do Rio Dnieper para a região, porque o aqueduto que faz esse transporte havia sido bloqueado por Kiev. Neste mês, Moscou cogita realizar o primeiro de uma série de plebiscitos para legitimar a anexação dos territórios ocupados, algo que se tornou politicamente possível pela total ruptura entre Ocidente e Rússia. A Ucrânia depende da ajuda ocidental não apenas para lutar, mas também para sobreviver economicamente. Cerca de 10 milhões de ucranianos precisaram deixar suas casas, a maioria rumo ao exterior, segundo a Organização das Nações Unidas.
2 — As sanções do Ocidente surtiram os efeitos desejados na economia russa?
Até o momento, não. O objetivo das sanções era induzir a população russa a derrubar o governo ou, ao menos, levar a Rússia a um colapso econômico, que levaria ao fim da invasão. Isso não aconteceu. Embora haja danos econômicos severos para a Rússia, o rublo não apenas não atingiu a cotação de 200 para US$ 1, como afirmava Biden que ocorreria, como está hoje em uma de suas maiores valorizações em muitos anos e agora é utilizado como moeda de comércio. O preço do gás e o do petróleo ajudam a economia russa. Uma lição nítida da guerra é que toda sanção econômica é recíproca e machuca também quem a lança. O Ocidente enfrenta uma severa crise de energia na Europa, inflação recorde em muitos países e perspectivas muito ruins para o inverno.
3 — Até que ponto os países democráticos estão dispostos a ajudar a Ucrânia?
Apenas países europeus (com algumas exceções, a mais importante sendo a Turquia), EUA, Canadá, Japão, Austrália e Nova Zelândia impuseram sanções à Rússia. Em outras palavras, o Ocidente. Dois terços da população mundial vivem em países que nem sequer condenaram a invasão da Ucrânia na ONU. O Ocidente, por sua vez, enfrenta as consequências da guerra e do apoio à Ucrânia, na forma de crise no abastecimento de gás e outros produtos, colaborando para que recordes de inflação sejam batidos em países como Alemanha, EUA e outros. Também houve imensa resistência da maior parte da comunidade global em impor sanção à Rússia, uma derrota geopolítica para o governo Joe Biden.
4 — Ainda há saída para o conflito?
Sim, porém, nenhuma das saídas viáveis nos levará de volta ao mundo de antes da guerra. O conflito não é apenas uma disputa entre Rússia e Ucrânia. Kiev, na verdade, depende hoje do Ocidente para existir. Sem apoio ocidental, Zelensky dificilmente se manterá no cargo. Portanto, a guerra é uma disputa entre a resiliência do governo russo em se manter no poder e manter ativa sua operação militar. Além disso, há a capacidade dos governos ocidentais de convencerem suas populações a pagar o crescente preço da guerra em termos de aumento no custo de vida. A chegada do inverno do Hemisfério Norte, aumentando as despesas com aquecimento e comida, será um grande teste.
5 — Uma negociação para o fim desse impasse é possível?
Muito improvável, a não ser que Kiev aceite grandes perdas territoriais. A vitória militar ucraniana, ao menos até aqui, é algo muito difícil de ser visualizado. O fim se dará por uma de duas razões: colapso econômico ou político da Rússia, algo que dependeria da improvável possibilidade de a China aceitar um governo pró-Ocidente em Moscou ou a fragmentação da Ucrânia após o esgotamento da ajuda militar e econômica ocidental. Governos prudentes pelo mundo afora deveriam trabalhar com um cenário de prolongamento da guerra e consequências duradouras. O mundo em que vivíamos até o dia 23 de fevereiro dificilmente voltará a existir.
Terror “made in Ukraine” não inquieta os russos
Por Dora Werner
18 Sep. 2022 13:27 Uhr
Pessoas no metrô de Moscou estão voltando para casa depois do trabalho. Os trens estão superlotados, os passageiros estão ocupados navegando na Internet ou lendo. À minha esquerda, um homem idoso está lendo as notícias: a agência estatal RIA Novosti, TASS e páginas do projeto patriótico de esquerda Russkaia Vesna (Primavera Russa). Uma mulher gordinha à minha direita está folheando os meios de comunicação ucranianos que dizem que a ponte da Crimeia foi explodida em agosto. E de qualquer forma: “A Rússia acabou.”
Esta é Moscou hoje. Uma cidade onde as pessoas lêem destemidamente fontes russas, ucranianas, europeias e norte-americanas, apesar dos protestos da mídia ocidental de que todas as visões alternativas foram eliminadas. Dependendo do que você preferir. Onde as pessoas podem andar de metrô com segurança sem pensar que um ataque terrorista pode encerrar sua jornada a qualquer momento.
Você vive como se nada tivesse acontecido. Sem comparação com os primeiros anos do século XXI, quando a cidade vivia com medo constante de ataques terroristas por causa da guerra na Chechênia. Naquela época, Moscou sofria de noites sem dormir e transtorno de estresse pós-traumático permanente. Desta vez você não percebe. Mesmo que a mídia às vezes fale de uma guerra terrorista entre a Ucrânia e a Rússia. Por exemplo, o diário Moskovsky Komsomolets escreveu no final de agosto:
“Os EUA admitiram que Kiev está usando um conceito desenvolvido pelos EUA para repelir as tropas russas. A CNN informou sobre a doutrina de “defesa total”, que inclui especificamente táticas usadas por forças especiais projetadas para sabotar dentro da Rússia, ataques de informação e o recrutamento de locais para a subversiva “defesa territorial”.
Em entrevista a Moskovsky Komsomolets, o veterano da inteligência Rustem Klupov analisou as táticas de terror dos EUA que os EUA já usaram no Iraque e na Síria, entre outros, e que agora estão sendo usadas pela Ucrânia:
“Aparentemente, Kiev está se voltando para a guerra subversiva em nosso território. Pense nos recentes bombardeios na Crimeia, no assassinato de Daria Dugina. O principal objetivo dos atos de sabotagem não é apenas danificar instalações militares, mas também intimidar a população civil. Ainda assim, civis são mortos no processo. Portanto, é um alvo terrorista. E temos uma espécie de terrorismo de sabotagem aqui.”
Klupov está convencido de que a liderança ucraniana será forçada a recorrer a essa tática: “Kiev não tem outras opções. Não tem como manipular a Rússia de outra maneira. Portanto, essas novas táticas são mais um sinal de fraqueza de Kiev do que de força”. , disse o especialista a Moskovsky Komsomolets.
A propósito, na própria Ucrânia não há como negar que o país está travando uma guerra de terror contra a Rússia. Kirill Budanov, chefe do principal departamento de inteligência do Ministério da Defesa ucraniano, disse em entrevista ao Financial Times no verão:
“Ataques terroristas e atos de sabotagem estão por toda parte, foram e continuam sendo cometidos na Rússia e em muitos outros lugares.”
O major-general Sergei Krivonos, ex-vice-comandante das forças especiais das Forças Armadas Ucranianas, expressou opinião semelhante em uma entrevista para uma estação de rádio ucraniana:
“As forças armadas da Ucrânia terão que dar um inferno aos russos. Eles devem realizar sabotagem e ataques terroristas em território russo.”
Nos últimos meses, pode-se ver como a Ucrânia tentou implementar essas táticas. Ataques a instalações na Crimeia, preparativos para assassinar jornalistas, ataques a refinarias de petróleo e linhas de energia na Rússia, ataques a alvos civis em regiões russas na fronteira com a Ucrânia e o assassinato de Daria Dugina são todos atribuídos a grupos terroristas ucranianos.
Isso contrasta fortemente com a calma – até mesmo a tranquilidade – das áreas metropolitanas da Rússia. Até mesmo os pequenos mercados nos arredores de Moscou e os shopping centers que foram focos de medo durante a guerra chechena agora parecem como se os russos não tivessem prometido uma guerra ao terror. O medo de possíveis ataques terroristas não é realmente um problema. Nem na imprensa nem em conversas privadas. Ao contrário de vinte anos atrás, quando o medo de ataques terroristas às vezes determinava completamente a vida.
De acordo com especialistas, no entanto, essa compostura externa tem um preço, pois os serviços secretos russos vêm ganhando experiência em lidar com o submundo terrorista ao longo dos anos desde a guerra chechena. Como o tenente-coronel aposentado do FSB Alexei Filatov explicou em entrevista ao jornal Izvestia:
“A Rússia tem uma grande experiência na luta contra o terrorismo, que adquirimos com nosso sangue. As estatísticas dos últimos dez anos mostram que nossos serviços de inteligência descobriram com sucesso como prevenir atividades terroristas de forma adequada e competente. Desde 2014-2015 “O número de ataques terroristas perpetrados diminuiu significativamente. O número pode ser contado nos dedos, enquanto o número de ‘células adormecidas’ neutralizadas, líderes e membros de organizações terroristas está na casa das dezenas e centenas a cada ano.”
O especialista acredita que, ao planejar a operação militar na Ucrânia, os serviços de inteligência avaliaram cuidadosamente todos os riscos. Também para a população civil do país. Portanto, tudo pode parecer calmo do lado de fora, mas o trabalho está acontecendo “nos bastidores”. As notícias às vezes passam pela mídia de que as medidas de segurança estão sendo reforçadas nos feriados, ou o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, é citado sobre o assunto de segurança dizendo que as medidas de segurança em todo o país foram reforçadas ao máximo. Mas geralmente essas informações não moldam a agenda de notícias ou a vida cotidiana.
Em vez disso, a vida na Rússia é determinada pela vida cotidiana do outono. As pessoas vão para o trabalho e levam seus filhos para a escola. Eles se sentam em cafés, compram nectarinas uzbeques e ameixas do Azerbaijão em mercados orgânicos, saem e compram pão recém-assado em pequenas padarias. Táxis Yandex e mensageiros de bicicleta percorrem as ruas sem parar, entregando pizza, sushi e costelas de porco assadas aos clientes. Não há controles mais rígidos ao sair da cidade. Tudo é rotina, não há estado de sítio. E saindo da cidade pela estrada de Kiev, você pode ver Strishi, a equipe acrobática da Força Aérea Russa, praticando no céu. Os caças voam como flechas, depois caem, giram 360 graus e realizam acrobacias impressionantes. Os pilotos acrobáticos têm sua base aqui perto de Moscou. Os seus voos fazem, portanto, também parte da vida quotidiana normal.
E a cervejada da paz, sugerida pelo ex-presidiário como forma de terminar a guerra, ainda está de pé? Nem a ‘esquerda’ do resto do mundo comprou a ‘ideia’?
Se quiser ser enganado, consulte um especialista. Deixa chegar o inverno e começar a morrer gente de frio. Vamos ver uma corrida de Dirigentes Europeus sentar no colo do Putim.
Difícil fazer qualquer prognóstico sobre essa guerra. Na verdade a guerra tem mostrado que não existem líderes fortes no ocidente mas sim um bando de lacradores que só falam e não agem. Não temos meios de avaliar a situação de Putim na sociedade Russa e qual é o suporte que ele tem da população. ( ninguém sabe).
O Putim tem a seu favor o desgaste das lideranças europeias e seus lacradores climaticos com chegada do inverno .
Só o tempo nos dará uma visão mais clara.
Vamos aguardar.
Um dito “especialista” na folha de pagamento dos russos.
Essa entrevista deve ter sido feita antes das duas últimas semanas. O exército russo está em debandada e desmoralizado, os crimes de guerra cometidos pelos russos aparecem em grande quantidade, estão apelando até para presidiários para combater, sem componentes eletrônicos para armas de precisão, tendo até que pedir armas da Coreia do Norte e Iran. E a oposição interna contra Putin já está aberta.
A economia está sim, muito afetada, sofrendo de progressiva “anemia”. E a médio prazo a Europa encontrará outros fornecedores de gás e óleo e outras fontes de energia, fazendo o tiro russo sair pela culatra.
E a história mostra que nenhum ditador sobrevive a uma derrota militar.
Lula tem acenado com várias propostas de cunho esquerdista radical em 2022, tais como revisão de privatizações, descontrole de gastos públicos, aumento de impostos volta da CPMF, libertação de bandidos, apoio financeiro a Cuba e Venezuela, perseguição a membros da Operação Lava Jato e partidos de oposição (direita), banimento de jornais e emissoras de oposição e maior abertura da economia brasileira ao capital chinês, inclusive à colaboração militar.
Em termos geopolíticos, Lula presidente afasta o Brasil dos EUA e nos aproxima da China e da Rússia, que têm interesse em colocar mais bases militares na América do Sul, Atlântico Sul e Pacífico.
Lula não pode ser eleito e, caso seja eleito, deve-se providenciar alguma maneira de impedi-lo de assumir.
Conclusão: mais uma aventura da esquerda ocidental que não está dando certo.