Na semana passada, um grupo de homens palestinos abordou um armazém das Nações Unidas (ONU) no centro de Gaza e exigiu acesso aos mantimentos armazenados. No entanto, o interesse não era por alimentos, combustível nem remédios, mas por cigarros contrabandeados escondidos entre os itens de ajuda humanitária, informou The Wall Street Journal, em reportagem publicada nesta quarta-feira, 19.
Com custo de aproximadamente US$ 25 (mais de R$ 125), o cigarro é um item valioso e extremamente lucrativo na região. Os preços subiram desde que Israel restringiu as importações apenas a bens essenciais, deixando os cigarros fora da lista. Isso ocorreu depois que os terroristas do Hamas atacaram Israel, em 7 de outubro, e mataram mais de 1,2 mil pessoas.
Um oficial da ONU relatou ao WSJ que a ação dos palestinos registrada na semana passada ilustra um novo obstáculo significativo para a entrega de ajuda na região. Segundo autoridades da ONU e de Israel, caminhões de ajuda e depósitos de armazenamento tornaram-se alvos de contrabandistas palestinos que buscam recuperar cigarros ilícitos escondidos em remessas, com outros criminosos locais também atacando veículos suspeitos de transportar os produtos.
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Rotas alternativas para o contrabando de cigarros em Gaza
O comércio de cigarros continuou por meses, com produtos contrabandeados passando pela fronteira de Rafah, entre Egito e Gaza, controlada por autoridades apoiadas pelo Hamas.
No entanto, quando as forças israelenses tomaram o controle dessa passagem, em 6 de maio, o fluxo de cigarros foi interrompido. Contrabandistas encontraram outra rota através da Passagem de Kerem Shalom, entre Israel e Gaza, mas não conseguiram descarregar os produtos ilícitos como faziam em Rafah.
Com isso, os ataques criminosos a comboios de ajuda se tornaram tão severos que mais de mil caminhões de ajuda ficaram parados no lado de Gaza da Passagem de Kerem Shalom. Mesmo uma pausa diária nos combates por parte de Israel ao longo de uma rota de abastecimento crucial não foi suficiente para encorajar as organizações de ajuda a moverem as remessas.
Um segundo oficial da ONU relatou ao WSJ que, na terça-feira 18, três homens armados chegaram a outro armazém da ONU em Gaza central e exigiramo revistar os mantimentos. Eles encontraram os cigarros que procuravam em uma caixa de ajuda. O jornal viu uma foto da caixa com o logotipo da ONU rasgado, que expunha maços de cigarros dentro.
“Os cigarros se tornaram como o novo ouro em Gaza,” disse o oficial ao WSJ.
Um palestino afirmou ao jornal que os contrabandistas escondem um ou dois maços em melancias ocas ou os enfiam em sacos ou caixas de mercadorias legítimas.
A principal agência da ONU em operação em Gaza informou que 1,6 mil caminhões de ajuda entraram no enclave em maio. Na primeira metade de junho, entraram 460. Antes da guerra, cerca de 500 caminhões de mercadorias comerciais entravam diariamente na Faixa de Gaza, além de cem caminhões de ajuda humanitária para os necessitados, segundo a ONU.