Em artigo publicado na Edição 70 da Revista Oeste, Dagomir Marquezi argumenta que a ameaça da covid-19 serviu para camuflar o vazio de quem foi criado numa redoma emocional de privilégios e justificativas rasas. Segundo o colunista, a grande maioria dos jovens brasileiros teve de frequentar ônibus lotados, rezando para não perder o emprego. Para esses, o fantasma da covid ficou de um tamanho mais próximo ao real.
Leia um trecho
“O paranaense Mário era o tipo de pessoa que viajava todos os fins de semana para percorrer trilhas ou passear em alguma praia. Estava sempre pronto a rechear a mochila e cair na estrada. Até que veio a pandemia de covid-19.
Apavorado com o que via na TV, Mário se trancou no apartamento. Por quase um ano. Amigos e parentes traziam comida e remédios e deixavam os pacotes do lado de fora. Quando partiam, Mário colocava a máscara, abria cuidadosamente a porta, empunhando a garrafinha de álcool como uma arma. Antes de levar as encomendas para dentro do apartamento, borrifava cada embalagem, e cada produto. Quando abria as janelas, procurava não respirar muito fundo. Um ano depois de se trancar, pegou covid — a qual, por sua vez, se revelou uma gripe chata. Mas Mário ainda não teve coragem de voltar a suas trilhas.”
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Revista Oeste
A Edição 70 da Revista Oeste vai além do artigo de Dagomir Marquezi sobre o medo desmedido causado pela pandemia de covid-19. A publicação digital conta com reportagens especiais e artigos de J. R. Guzzo, Augusto Nunes, Silvio Navarro, Guilherme Fiuza, Rodrigo Constantino, Afonso Marangoni, Frank Furedi, Daniel Ben-Ami e Fábio Matos
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