Desde que o tenista Novak Djokovic ficou retido em um hotel no Aeroporto de Merlbourne, impedido de entrar na Austrália por não estar vacinado contra a covid-19, críticos e apoiadores estão se manifestando a favor ou contra a decisão australiana de impedir sua entrada no país para participar do Torneio Aberto da Austrália. Na segunda-feira 10, um juiz australiano decidiu liberar o tenista, que havia sido detido na semana passada. No entanto, ele ainda pode ter de deixar o país nos próximos dias, caso o ministro da Imigração use seus poderes para deportá-lo. Por trás de tudo isso, está o debate entre os defensores e os críticos da vacinação, que agora está sendo reacendido tanto em nível esportivo quanto político.
A resistência de esportistas de elite a receber a vacina está ligada, principalmente, às dúvidas sobre os efeitos de curto e longo prazo de uma imunização nova e aprovada sob o regime de emergência desencadeado pela pandemia. No caso de Djokovic, ele é um adepto de inúmeras terapias alternativas, acredita em telepatia e telecinese, e ficou bastante chateado quando soube que só a medicina tradicional daria um jeito na lesão em seu cotovelo direito. Ele costuma defender a prática de ioga e meditação e segue uma dieta baseada em legumes. Em uma entrevista, declarou que seu retorno à forma física, que culminou em títulos consecutivos de Grand Slam, foi resultado de uma trilha de cinco dias em uma montanha com sua esposa.
Em 2011 tive o privilégio de encontrar pela primeira vez Novak Djokovic. O atleta número 1 do mundo sempre se mostrou muito atencioso com todos. Surpreendeu-me a sua simpatia e por fazer questão de falar olhando nos olhos, diferentemente da maioria das celebridades. Não tem estrelismo e moldou sua personalidade buscando aplacar os exemplos do regime opressor e virulento no qual vivenciou tão de perto. Ele cresceu em meio aos conflitos étnicos que culminaram na Guerra Civil Iugoslava e, quando menino, precisou se abrigar durante o bombardeio da Otan em Belgrado, em 1999.
Já consagrado no esporte, criou a Fundação Novak Djokovic, que constrói pré-escolas e apoia o treinamento de professores na Sérvia para dar às crianças de áreas pobres a chance de aprender e brincar em um ambiente seguro, criativo e estimulante. Seu país está no centro de sua motivação. Ele diz que jogar pela seleção nacional da Sérvia é tão importante quanto disputar Grand Slams. Ele também adora distribuir raquetes para jovens torcedores.
Não sou contra vacinas, muito pelo contrário. Mas concordo com o pai do tenista quando ele diz que Djokovic representa um símbolo do mundo livre, pois a liberdade de escolha individual deveria ser sempre a primeira questão a ser defendida em qualquer discussão a respeito das garantias dos cidadãos.
Djokovic hoje é a cara da resistência, do exercício do contraditório, e precisa ser aclamado. Ele mostrou que quando se acredita em algo é preciso levar essa questão até o final. Não importa quão feroz seja a oposição a seus ideais. Além de seus méritos esportivos, a escolha por defender sua decisão parece estar assumindo contornos de uma guerra política contra a narrativa única que nos foi oferecida até agora.
Fazendo uma correlação com a realidade brasileira, a nossa Constituição Federal diz, em seu Artigo 196, que “a saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e aos serviços para sua promoção, proteção e recuperação”. Não restam dúvidas que a vacinação é direito de todos, pois visa a proteger a saúde. Mas o fato de ser um direito não significa, necessariamente, que esse direito é de exercício obrigatório ou automático.
A Lei 13.979/2020, que dispõe sobre as medidas para enfrentamento da emergência de saúde pública consequentes do coronavírus, trata a vacinação como medida de enfrentamento à emergência de saúde pública, mas não aborda acerca da compulsoriedade. Mas e se alguém não quiser se vacinar? E se a pessoa quiser exercer esse direito? De fato, a liberdade individual vem ganhando cada vez mais espaço e sendo mais valorizada através do Código Civil e da própria Constituição.
Verifica-se, assim, que estão em cheque direitos fundamentais: liberdade, vida, segurança e saúde pública. Nenhum direito é absoluto. Mas também nenhum direito precisa ser aniquilado, de forma absoluta, para prestigiar o outro. Há que se harmonizar. Já se viu que a vacinação compulsória e obrigatória não é necessária, pois, além de já existirem diversos outros métodos de prevenção, os principais prejudicados seriam os que se negarem a receber a vacina, sem prejuízo para o coletivo de pessoas imunizadas por essa via, assegurando a vida e a saúde pública.
O debate no entorno de Novak Djokovic está insuflando e espero que o entendimento recaia no bom senso crítico em prol do respeito ao direito individual. Djokovic tem se mostrado uma grande pessoa, tanto pela dedicação e garra como atleta de ponta, há muitos anos, como também como um ser humano verdadeiramente defensor da liberdade.
Ele é um ótimo jovem esportista, mas tem uma visão diferente da vida, sobre comer, beber, dormir e o que usar ou não para fortalecer seu sistema imunológico. É aí que não se pode criticá-lo. Caso consiga disputar o torneio, que será realizado entre 17 e 30 de janeiro, o sérvio buscará seu décimo título do Aberto da Austrália e o 21º título Grand Slam. Ele, provavelmente, poderá até ser vaiado por torcedores que o apelidaram de “Novax” (“Sem vacina”) — mas aplaudido por muitos que o apoiam como atleta e como símbolo da democracia e do direito às liberdades humanas.
Leia também: “É assim que as coisas mudam”, artigo de Ana Paula Henkel publicado na Edição 94 da Revista Oeste
*Filipe Sabará é empresário, filantropo, palestrante e gestor do braço social do Fundo Arcah Multimercado. É fundador da ARCAH, Associação de Resgate à Cidadania por Amor à Humanidade, uma instituição sem fins lucrativos que promove o desenvolvimento social de pessoas em situação de vulnerabilidade por meio de diferentes ações e projetos, com o intuito de ressignificar a vida de pessoas.
Excelente artigo. Vejo pessoas criticando e julgando as atitudes dos demais como se não tivessem espelhos em casa. A geração de perfeitos. Muitos fumantes que nunca se importaram em intoxicar os demais com as fumaças desagradáveis de seus cigarros apontam o dedo para acusar aqueles que não se vacinam, o que prejudicaria a si apenas, pois as vacinas não impedem o contágio, outros que cansaram de dirigir sob efeito de álcool também pondo em risco a vida de terceiros chamam aqueles que não se vacinam de assassinos, outros que torcem o nariz ao críticar os nazistas quando atualmente defendem os campos de concentração australianos e as atitudes totalitárias de certas autoridades. É uma psicose em massa e tem muitos que estão nesse estado de hipnose e não se dão conta.
Não podemos chamar esse “remédio”
De vacina pois no que pesem as três ou mais doses o paciente contrai, transmite e morre de Covid.
Celia Salama, mas se ele estivesse vacinado e não tivesse feito os teste (pois não seria obrigado) e tivesse assintomático e não ficasse sabendo da Covid ai estaria tudo certo??? A questão é de saúde ou de controle do que as pessoas estão fazendo??? Estão querendo buscar “pelo em ovo” pra desmoralizar quem não quer ser vacinado….segundo foi publicado pela acessoria dele, ele não tinha o resultado do PCR quando se encontrou com as crianças, ficou sabendo apenas depois e admitiu que errou ao participar de entrevista no dia seguinte do teste para um jornal espanhol….será que os jornalistas e as criancas foram infectados e morreram??? Isso não importa não é mesmo??? O importante é que ele não “está vacinado” e é um assassino em potencial!!!! Que mundo estamos vivendo???? Deus nos ajude…..
Bla Bla Bla! Se fosse realmente uma VACINA, tudo bem questionar o atleta ou quem seja.
Mas, Experimentos que estao matando gente a diário e sem direito a culpabilidade, em nome da ciência e com pretensa bandeira de proteger a populacao, sao aceitos pela grande massa de manobra e politicos corruptos movidos a dinheiro.
Apoio a decisao e postura de Djkovic!
Ele estava infectado? Ele não fez o teste antes de viajar, o que era obrigatório, sendo que não se vacinou???
Ele tem todo direito a não se vacinar. Não é obrigatório. Mas ele deve respeitar as regras do país que ele já tinha conhecimento há muito tempo e não usar de mecanismos para burlar. E muito menos, caso ele tenha sido diagnosticado positivo, não deveria colocar em risco a saúde de outras pessoas, muito menos de crianças. Imperdoável, apesar de todas qualidades e elogios que você discorreu sobre ele. Respeito às liberdade individuals também significa respeitar as liberdade dos outros, seja com respeito às leis, seja com se aproximar dos outros sabendo que está com covid e sem máscara.