Filme
Encanto (Disney+)
A família Madrigal perde seu patriarca na selva da Colômbia. Mas ganha uma vela que, enquanto estiver acesa, trará encantamentos a cada um dos seus descendentes — menos para a protagonista, Mirabel (Stephanie Beatriz).
Esta é a história básica de Encanto, uma das mais belas animações da Disney de todos os tempos. A produção optou pelo realismo mágico, a escola narrativa que o colombiano Gabriel Garcia Márquez (1927-2014) espalhou pelo mundo através de seu romance Cem Anos de Solidão (1967). Tudo em Encanto — incluindo a casita onde a família vive — é mutante e explode em cores, numa estética que já foi chamada de psicodélica.
Se existe uma decisão discutível na concepção de Encanto foi a de fazer o filme ser musical, no sentido mais tradicional da Broadway. Quem gosta vai adorar. Quem não gosta pode ficar contrariado com algumas canções mais convencionais. Mas a direção, de Jared Bush, Byron Howard (do ótimo Zootopia) e Charise Castro Smith, consegue extrair ângulos surpreendentes em qualquer momento.
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Jornalistas “progressistas” acharam lindo por Encanto ter trazido para a tela personagens “mulatos, negros e de cabelo crespo”. O que eles queriam de um desenho passado na Colômbia? Nesse caso, personagens “de cor” estão presentes porque fazem parte da história, e não por causa de cotas, “ações afirmativas” ou qualquer outra politicagem. Não há coitadinhos, não há vítimas. E, numa grande sacada para desenhos Disney, não existe um vilão propriamente dito.
Os temas centrais são conhecidos por quem assiste regularmente aos desenhos da Disney: a força interna de cada personagem, a necessidade da aceitação e fatores mais profundos da psicologia feminina. A lição, em resumo, já conhecemos: a magia está dentro de cada um.
Esse é o segredo dessa produtora, que vai completar um século no ano que vem: ser local e universal ao mesmo tempo. As histórias são culturalmente cada vez mais específicas. Luca mostrou a Itália. Moana, as ilhas do Pacífico. Raya, o sudeste da Ásia. E todas elas tinham o mesmo tipo de expressividade universal e temas que pertencem a todos nós. Além do humor infalível. E do tradicional toque de sentimentalismo que sugere ao espectador providenciar uma caixa de lenços de papel ao seu lado no sofá para dividir com as crianças.