Deputados de esquerda e de direita se preparam para votar uma moção de censura que pode derrubar o primeiro-ministro da França, Michel Barnier. O premiê, que nem chegou a completar seus primeiros cem dias no governo, ocupou o cargo por indicação do presidente Emmanuel Macron.
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Nesse processo, o primeiro-ministro enfrenta duas moções de censura. A votação ocorre nesta quarta-feira, 4, na Assembleia Nacional.
Para sua aprovação, a moção precisa do apoio de pelo menos 288 parlamentares. Os grupos de oposição detêm quase 330 cadeiras, o que aumenta a tensão para Barnier. Os debates começam às 16 horas, no horário local, meio-dia em Brasília.
Em visita à Arábia Saudita, Macron se prenunciou sobre o assunto.
“O interesse do país é mais importante que o interesse dos partidos”, declarou o chefe de Estado.
Ele tentou tranquilizar o mercado financeiro sobre um cenário de maior instabilidade no país, caso o premiê caia. “A França tem uma economia robusta”, afirmou o presidente francês. No entanto, o ambiente político interno permanece duvidoso.
Impacto histórico de decisão para a França
Se a moção de censura passar, o governo de Barnier será o mais curto da história da Quinta República, que começou em 1958. Também será o segundo governo a cair, depois da administração de Georges Pompidou, em 1962.
Macron poderá reconduzir Barnier ou escolher outro primeiro-ministro. Mas o equilíbrio no Parlamento não deve mudar agora, pois eleições legislativas antecipadas só são possíveis a partir de meados de 2025.
Crise política na França
A crise política na França começou em junho, quando Macron antecipou eleições programadas para 2027, após o avanço da direita nas eleições para o Parlamento Europeu. Mesmo reeleito em 2022, Macron perdeu a maioria absoluta, algo que levou a uma Assembleia dividida em três blocos principais: esquerda, centro-direita e direita.
Nova frente popular e o papel de Marine Le Pen
A Nova Frente Popular, composta de socialistas, comunistas, ambientalistas e a esquerda radical, venceu as eleições, mas Macron nomeou Barnier para tentar promover uma estabilidade política. Barnier, no entanto, só conseguiu apoio da aliança de centro-direita e de seu partido, o Republicanos.
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Isso fez com que a sobrevivência de seu governo dependesse da líder da direita, Marine Le Pen, que optou por apoiar a queda do primeiro-ministro.
No entanto, a negociação do Orçamento para 2025 foi o estopim para a moção de censura, de acordo com informações da agência de notícias AFP.
Tensões políticas e econômicas
O plano orçamentário do governo, cujo objetivo é reduzir o déficit e a dívida pública, propõe cortes nos gastos públicos e um aumento temporário de impostos para grandes empresas. Marine Le Pen criticou duramente a continuidade das políticas de Macron, afirmando que “o primeiro-ministro só poderá fracassar”.
Em resposta, Barnier disse que ajustes foram feitos no plano inicial e acusou Le Pen de participar de “uma espécie de disputa”, com reivindicações intermináveis.
Além das questões econômicas, os partidos já se preparam para a eleição presidencial de 2027, quando o sucessor de Macron será escolhido, já que ele não pode concorrer novamente.
A insatisfação popular com Macron continua a crescer, especialmente com a percepção de que ele é responsável pela situação atual. Há um clamor crescente por sua renúncia, possibilidade que ele classificou como uma “ficção política”.
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