Bangladesh, na Ásia, conviveu durante décadas com altos índices de pobreza e foi chamado pelo conselheiro de Segurança Nacional dos Estados Unidos Henry Kissinger como um “caso perdido”. Hoje, o país é considerado “ex-pobre” — e surpreende com o crescimento econômico apresentado.
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Ao leste da Índia, Bangladesh era uma região do Paquistão até 1971. Depois de sua independência, ele foi considerado um dos países mais pobres do mundo, com 80% da população vivendo na miséria. Os dados do Fundo Monetário Internacional (FMI) condenavam o país ao subdesenvolvimento.
Com o tempo, o país conseguiu se tornar um dos exemplos mais notáveis e inesperados de redução da miséria nas últimas décadas. Cerca de 30 milhões de pessoas saíram da extrema pobreza no Bangladesh nos últimos 32 anos, de acordo com o Banco Mundial.
Em 1990, o país possuía 43,8 milhões de pessoas vivendo com menos de US$ 2,15 por dia, o equivalente a 45,8% da população à época. O número caiu para 16,4 milhões de pessoas em 2022, cerca de 9,6% de todos os habitantes do país. No mesmo período, a população local cresceu 60%, para 171,2 milhões. Os valores foram ajustados pelo custo de vida do país em 2017.
Bangladesh também avança em áreas sociais
O ex-presidente do Banco Mundial Jim Yong Kim visitou o Bangladesh quando estava no comando da instituição. Ele falou sobre as mudanças sociais no país asiático.
“Os esforços de Bangladesh para reduzir a pobreza dariam um livro”, disse Yong Kim. “Bangladesh é um exemplo de quão rápido um país pode emergir das profundezas da miséria.”
Além dos avanços contra a miséria, o país evoluiu em outras áreas de desenvolvimento humano, como saúde e educação. Os dados demonstram uma diminuição na pobreza multidimensional, que considera dados além da renda da população.
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Na saúde, por exemplo, houve uma queda na taxa de mortalidade de crianças com até cinco anos de idade. Em 1990, cerca de 146 mil bebês morreram depois de nascer, mas o número despencou em mais de 80%, para 27,3 mil, em 2021. Os dados são do Banco Mundial. A expectativa de vida também melhorou, subindo de 58 anos para 72,4 anos, no mesmo período.
Na educação, o aumento de renda incentivou os adultos a voltarem para as escolas. No ensino fundamental, por exemplo, subiu de 78,3% para 117,7% da população pertencente à faixa etária, o valor excedente dos 100% são da população mais velha. No ensino médio, as matrículas aumentaram de 20% para 71,8% da população com idade correspondente.
O país registrou avanços inclusive no sistema de proteção à vida, o equivalente ao trabalho realizado pela Defesa Civil no Brasil. Por ficar em uma planície da Ásia, o país está sujeito a fortes ciclones e cheias de grandes rios. Bangladesh criou um sistema de alertas e uma rede de abrigos que ajuda a proteger a oitava maior população do mundo de desastres naturais.
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O crescimento econômico do país seria o principal responsável por possibilitar os investimentos nessas e nas demais áreas. O desenvolvimento segue o ritmo da China. O Produto Interno Bruto (PIB) de Bangladesh cresce, em média, cerca de 5,6% por ano, ficando na lista dos países que mais cresceram entre 1990 e 2022.
Bangladesh aumentou seu Produto Interno Bruto (PIB) de US$ 31,6 bilhões para US$ 460,2 bilhões, no mesmo período, se tornando a 41ª maior economia do mundo. O PIB per capita também apontou crescimento, saindo de apenas US$ 128 para US$ 2,2 mil. O crescimento foi de 21 vezes em 50 anos.
Indústria de vestuário
O principal impulso de Bangladesh foram os investimentos na indústria de vestuário para exportação. A produção iniciou nos anos 1980, com a entrada do grupo coreano Daewoo, com o apoio do governo, que reduziu tarifas de importações feitas pelo setor.
Depois da medida, o país tornou-se o segundo maior exportador de roupas prontas do mundo. São exportadas peças como agasalhos, camisetas, camisas e calças, feitas principalmente de algodão. Bangladesh perde apenas para a China.
A indústria de vestuário de Bangladesh se mostrou como uma alternativa à China, que registrou um aumento na remuneração dos trabalhadores. Com cerca de 4,5 milhões de funcionários, o setor responde por cerca de 80% das exportações do país, que quase dobraram nos últimos 30 anos.
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Apesar da melhora dos índices sociais, o país é acusado de oferecer condições precárias de trabalho. Em 2013, um edifício de nove andares, que abrigava confecções em Daca, capital do país, caiu. Na ocasião, cerca de 1,1 mil trabalhadores morreram. Depois do acidente, a indústria passou por transformações e melhorou as condições de trabalho.
Outro fator que teria contribuído para o bom desempenho e crescimento econômico do país seria a criação de um sistema de microcrédito com juros baixos para os mais vulneráveis. Focado na região rural do país, pessoas que não conseguiam empréstimos nos bancos tradicionais conseguiram o dinheiro para investir em ferramentas de trabalho e aumentar os lucros e de suas famílias.
Além disso, alguns anos depois da independência, organizações não governamentais (ONGs) realizaram um apoio aos moradores das áreas rurais e passaram a oferecer dinheiro para que as pessoas pudessem mudar para a cidade, onde havia emprego, informou a revista britânica The Economist. Elas também atuaram na realização de serviços públicos, que o governo não conseguia oferecer.
Bangladesh enfrenta problemas
Bangladesh também recebeu uma ajuda internacional do Banco Mundial, que enviou cerca de US$ 39,5 bilhões, desde 1972, por meio da Associação de Desenvolvimento Internacional. O valor foi aplicado em 271 projetos, dos quais 57 ainda estão em andamento.
Apesar disso, o governo viu uma queda considerável de exportações de vestuário desde a pandemia. O crescimento do PIB tem sido abaixo da média — em 2020, foi de 3,5%.
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A guerra na Ucrânia também tem influenciado negativamente o país asiático, com o aumento do preço do petróleo e gás, o que ampliou o custo de vida e de produção. A inflação atingiu os maiores patamares em dez anos, com um crescimento acima de 9% ao ano.
De acordo com o jornal O Estado de S. Paulo, o governo local tem focado na diversificação do mercado para tentar combater a queda nas exportações. O saldo negativo deixou mais de 1 milhão de desempregados. Dessa forma, a continuidade da redução da miséria no país será um desafio ainda maior.
Até o final do desgoverno Lula (PT), Bangladesh terá nos ultrapassado em índices de desenvolvimento.