Ex-presidentes latino-americanos aliados à oposição venezuelana afirmaram nesta sexta-feira, 26, que foram impedidos de viajar do Panamá para Caracas, para acompanhar as eleições no país, a serem realizadas no domingo 28, relatou a Folha de S. Paulo.
Entre eles estão Mireya Moscoso (Panamá), Vicente Fox (México), Jorge “Tuto” Quiroga (Bolívia) e Miguel Ángel Rodríguez (Costa Rica).
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Segundo os ex-presidentes, a Copa Airlines informou que o voo não tinha permissão para decolar enquanto estivessem a bordo. Eles não estavam credenciados como observadores eleitorais, mas foram convidados por María Corina Machado, principal líder opositora. Chavistas afirmaram que eles não eram bem-vindos e não tinham permissão para entrar no país.
O presidente do Panamá, José Raúl Mulino, afirmou no Twitter/X que um avião da Copa com os ex-líderes não pôde decolar de Tocumen. Depois de horas de atraso, o voo partiu da Cidade do Panamá.
A assessoria de Mulino informou que a torre de controle de Barranquilla, na Colômbia, comunicou que aeronaves da Copa eram proibidas de entrar no espaço aéreo venezuelano, proibição que só foi retirada horas depois.
Pouco depois, o chanceler panamenho informou que repreendeu Caracas. O Ministério de Transportes venezuelano, então, garantiu que nenhum outro voo seria impedido.
A campanha de Edmundo González informou que uma delegação do Partido Popular (PP) da Espanha também foi barrada na Venezuela. Caracas não comentou o caso, e as autoridades não responderam às tentativas de contato da Folha.
Contradições sobre o fechamento do espaço aéreo
Nas redes sociais, a autoridade aérea venezuelana declarou que era falsa a informação a respeito do fechamento do espaço aéreo. Pessoas no aeroporto de Caracas disseram que os voos estavam chegando normalmente. A Copa Airlines não comentou o caso.
Entretanto, as fronteiras terrestres da Venezuela com Brasil, Colômbia e Guiana foram fechadas nesta madrugada depois de informações contraditórias. Inicialmente, os militares venezuelanos haviam dito que o fechamento começaria no início da semana, mas foi adiado e quase cancelado.
A Força Armada Nacional Bolivariana (Fanb) informou que o acesso de civis e veículos seria impedido de 0h01 desta sexta-feira, 26, até a manhã da próxima segunda-feira, 29.
O fechamento de fronteiras terrestres nas eleições é comum e ocorreu nas eleições presidenciais de 2018 na Venezuela e nas eleições de 2022 na Colômbia. No entanto, surgiram relatos de que imigrantes venezuelanos na Colômbia estavam tendo seus documentos retidos ao cruzar a fronteira surgiram. Alguns deles estavam autorizados a entrar na Venezuela.
“Isso é para que não possamos votar no domingo, um absurdo”, disse José Hurtado, 62, que vive em Cúcuta, mas tem residência eleitoral em San Antonio, na Venezuela. “Eu vou votar por Edmundo. Aliás, todo mundo aqui nesta região vai, mas isso que tem a ver?”. Cerca de 20 pessoas protestavam nos portões fechados, pedindo para votar.
Impactos do fechamento de fronteiras
Apesar de o fechamento de fronteiras ocorrer na semana anterior à eleição, a população fronteiriça costuma continuar transitando. Na quinta-feira 25, o fechamento foi anunciado e suspenso, mas na manhã desta sexta-feira, 26, placas metálicas já impediam o trânsito.
Os ex-presidentes que ficaram no Panamá fazem parte do Grupo Idea, que reúne políticos conservadores da Espanha e América Latina e apoia Edmundo González. Alejandro Bongiovanni, deputado conservador argentino, disse ter sido deportado da Venezuela para o Panamá.
Em Caracas, ex-líderes convidados pelo regime, como Ernesto Samper (Colômbia) e Leonel Fernández (República Dominicana), elogiaram o sistema eleitoral venezuelano. “Estamos muito satisfeitos com o que vi de perto do processo eleitoral venezuelano. É um dos sistemas mais blindados da América Latina”, disse Samper.
Horas depois, no Panamá, os ex-líderes acusaram Maduro de sufocar a democracia e forçar a emigração dos cidadãos, o que gera crises de refugiados. Celso Amorim, representante do presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, chegou a Caracas para observar o pleito. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) brasileiro também havia sido convidado, mas desistiu depois de Maduro questionar o sistema eleitoral brasileiro.
Organizações de imigrantes venezuelanos no Brasil, porém, enviaram carta à ministra Cármen Lúcia, presidente do TSE, na qual pedem que o órgão envie observadores para garantir a lisura do processo eleitoral.