Os ataques do grupo terrorista Hamas contra Israel são mais um capítulo em uma história de ódio que já dura décadas.
Do lado palestino, mudam-se os nomes, os personagens e os pretextos, mas o objetivo é um só: destruir Israel, não importando se recebessem as terras que dizem ter-lhes pertencido, e boa parte delas não foi nem conquistada à força por Israel.
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Do lado de Israel, há a urgência permanente em se defender, na busca da sobrevivência. Mas, em vez de chorar pela permanente perseguição ao redor, o país apostou no crescimento para mostrar que sempre se pautou por uma agenda construtiva.
Acima de religioso, o conflito é cultural. Pelo menos desde que grupos de judeus retornaram a Israel, fugindo de perseguições, para se juntar a aqueles que já estavam por lá. Então, as populações judaicas que, a duras penas, se estabeleciam no país, tinham de lidar com a hostilidade de parte da comunidade árabe.
E o conflito é cultural justamente porque, desde a infância, muitas crianças, hoje palestinas, já nascem com a ideia de que Israel é seu maior inimigo.
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Nessa lavagem cerebral, de geração em geração, prevalece uma ideia irracional e distorcida em relação ao país judaico. É um alimento e tanto para o extremismo religioso, e, depois, para o caminho do terrorismo, já no âmbito da criminalidade.
Mudam-se os nomes porque, nos anos 30, em vez do Hamas, atuavam os fedayn. Durante três anos, entre 1936 e 1939, a chamada Grande Revolta Árabe foi um tormento para os judeus, que, em vastos campos a serem desenvolvidos, e que nunca haviam sido explorados, eram atacados por grupos árabes da região.
Era uma época em que ainda não havia o termo “palestino”, em referência às populações atuais da região. O termo surgiu depois da Guerra de 1947, iniciada pelos países árabes, inconformados com a Partilha da Palestina, definida pela Organização das Nações Unidas (ONU).
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Iniciou-se uma guerra, da qual, depois de meses lutando pela sua sobrevivência em várias frentes, Israel saiu vencedor. E, em 1948, foi fundado o Estado Judaico.
A partir desse momento, os árabes que moravam no país tinham a opção de permanecer por lá e viver em um país que nascia disposto a crescer de forma sustentável (já havia essa visão na época) e, acima de tudo, em paz.
Conforme o StandWithUs Brasil, com base em números oficiais de agências internacionais e estudos de especialistas, cerca de 750 mil árabes se tornaram refugiados depois da guerra. O que pouco se fala é que, no mesmo período, e de maneira muito mais violenta, 850 mil judeus foram expulsos de países árabes.
Os árabes que deixaram Israel, o fizeram por vários motivos: saíram durante a guerra, sem confiar em suas liderança; foram incentivados a sair com a promessa de que voltariam depois do fim de Israel; foram forçados a sair durante os combates e, o que ocorreu com uma grande quantidade de árabes, venderam propriedades para o Fundo Nacional Judaico, antes mesmo da guerra.
Sem ser acolhidos pelos países árabes, se estabeleceram em campos na Faixa de Gaza, então sob domínio do Egito, e na Cisjordânia. A área foi ocupada pela Jordânia na guerra de 1948 e depois voltou ao domínio de Israel na Guerra dos Seis Dias, em 1967.
Israel começa a ter grupos terroristas como maiores inimigos, a partir dos anos 80
O surgimento da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), em 1964, foi mais um sintoma desse caldo de cultura que insistia em não evoluir em suas ideias. Calcada no ódio dos filhos dos que vivenciaram a guerra de 1948, mantinha o ideal de destruir Israel a todo custo.
Alcançou o protagonismo nos anos 1970 e 1980, comandada por Yasser Arafat, depois que Israel venceu as guerras de 1967 e 1973. A partir daí, seu maior inimigo, exceto o Irã, (desde 1979) passaram a ser grupos terroristas e não mais nações constituídas.
Então, a partir de 1987, os netos dos que testemunharam a guerra de 1948 mantiveram o discurso petrificado há décadas e concentraram toda a sua razão de viver em hostilizar Israel. Surgiu aí, durante a primeira intifada, o Hamas, Movimento de Resistência Islâmica.
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No início, as revoltas eram por meio das pedras, jogadas por jovens com turbantes escondendo os rostos. O termo intifada significa “guerra das pedras” e surgiu depois do levante que se iniciou, em 9 de dezembro de 1987.
O movimento foi controlado na época pelo governo de Ytzhak Shamir, do Likud, com Itzhak Rabin no comando da Defesa. Mas a situação permaneceu tensa nos anos seguintes. E, em 2000, com a ida do então primeiro-ministro Ariel Sharon, ao Monte do Templo, explodiu a segunda intifada, já com muitos bisnetos da geração de 1948.
Sharon, em 2005, tomou a inédita iniciativa, dentro de seu partido, de retirar Israel da Faixa de Gaza. A região passou a ser totalmente administrada pelos palestinos. Então veio a vitória do Hamas nas eleições de 2006.
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E uma sucessão de ataques teve início. Já na segunda intifada, o Hamas começou a incrementar seu arsenal com alguns foguetes e morteiros. Em 2006, depois da retirada, foi mais ousado ao sequestrar o soldado Guilad Shalit e deixá-lo como peça de barganha por cinco anos, até trocá-lo por prisioneiros.
Em 2008, lançou seu primeiro míssil para além de Sderot, na fronteira, e atingiu Ashkelon. O ataque culminou na Operação Chumbo Fundido, quando houve incursão militar em Gaza.
Em Ashkelon, aliás, milênios antes, os filisteus, que deram origem ao nome Palestina, já odiavam os judeus liderados por Sansão. Coisa mesmo de gerações.
Em 2012, em novos ataques, mísseis caíram pela primeira vez em Tel Aviv e em Jerusalém.
Veio a Operação Pilar de Defesa, apenas com incursão aérea. Foi a época em que os terroristas do Hamas passaram a ver na construção de túneis uma maneira eficiente de obter contrabandos e até de invadir o território israelense.
Em 2014, conforme conta o jornalista Seth Frantzman, o arsenal do Hamas já era de 10 mil mísseis. Novos ataques, novas operações, agora com a participação da Jihad Islâmica se revezando com o Hamas.
Até que, em 2018, militantes do Hamas participaram de um prenúncio do que aconteceria neste sábado. Das cercas da fronteira, tentaram entrar em Israel e lançavam pedras em meio a uma barricada que manteve o Exército em alerta. Em 2021, na Operação Guardião dos Muros, o Hamas disparou foguetes contra Jerusalém.
À esta altura, há um bom tempo essa revolta de gerações já havia se tornado atrativa para países hostis a Israel. Como o Irã, que tem se utilizado desses grupos para minar a segurança israelense. Estes ataques sem precedentes foram mesmo mais um capítulo nessa história de gerações.
Uma história que lembra a de um famoso livro, sobre famílias que mantiveram características enraizadas por anos, testemunhadas por uma matriarca que viveu até os 115 anos.
O nome da obra é um bom retrato do que acontece hoje com os palestinos, enraizados na ideia de que a culpa por suas frustrações vive no outro, no caso Israel. O nome do livro que fala das gerações é bem sugestivo para o caso: Cem anos de solidão.
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As redes sociais já têm um lado. Fui comentar no Instagram falando que o Hamas é um grupo terrorista e a plataforma não permitiu