Nada mais natural do que homenagear os grandes cientistas, as personalidades que, em função do seu talento, expandiram a nossa compreensão do mundo material. É natural também que imagens de cientistas sejam exibidas em muitos lugares; no entanto, algumas dessas representações gráficas não são confiáveis. A famosa imagem de Arquimedes saindo da banheira e gritando “Eureka!”, por exemplo, é muito posterior ao sábio de Siracusa.
Que gênios da Antiguidade, como Platão, Arquimedes e Demócrito não possam ser fidedignamente representados porque carecemos de dados confiáveis sobre a sua aparência física é perfeitamente compreensível. Mas há um cientista da era moderna, um matemático de grande relevância, cujo retrato é uma farsa. Trata-se do matemático francês Adrien-Marie Legendre (1752-1833).
Na história da ciência, Legendre é um dos quatro grandes “Ls” com os quais a França brindou o mundo da matemática nos séculos 18 e 19. Seu nome consta ao lado de Laplace, Lagrange e Leverrier. Marcelo Viana, o diretor-geral do Instituto de Matemática Pura e Aplicada, disse que “Legendre fez trabalhos fundamentais em teoria dos números, análise, mecânica celeste e várias aplicações da matemática. Existem diversos conceitos com o seu nome: transformada de Legendre, símbolo de Legendre, relação de Legendre, entre outros”.
Há inscritos na Torre Eiffel os nomes de 72 cientistas, dentre os quais o de Legendre. Ele também recebeu o título de cavaleiro pelo próprio Napoleão Bonaparte — que era fascinado por matemática. Mas, apesar do seu indiscutível prestígio, pouco se sabe acerca de vida de Legendre, e não há uma imagem fidedigna dele. Os quadros que supostamente representam o cientista — que não são poucos — são de outra pessoa. E pior, como disse ainda Marcelo Viana: “São de alguém cujas ações tiveram impacto muito negativo na vida do matemático”.