Eram por volta das 22h30 da sexta-feira 8 quando a campainha da casa de Arthur Brand tocou. Ao abrir a porta, o detetive de arte encontrou uma caixa de papelão fechada aos seus pés. O detetive holandês Arthur Brand — conhecido como o “Indiana Jones do mundo da arte” — descobriu então que o pacote continha um dos objetos mais sagrados da Igreja Católica, que jamais havia sido roubado. A relíquia do “Preciosíssimo Sangue de Cristo” foi levada da Abadia de Fécamp, uma igreja localizada no noroeste da França, na madrugada de 2 de junho.
“Meu coração estava acelerado”, disse Brand, à agência de notícias AFP, em entrevista. A relíquia de cerca de 30 centímetros de altura conserva dois recipientes de metal, que, segundo os fiéis, contêm gotas de sangue de Jesus Cristo recolhidas durante a crucificação. “Como católico, isso é o mais próximo que se pode chegar de Jesus e do Santo Graal”, comentou. “Foi uma experiência religiosa.”
I recovered the legendary ‘Blood of Jesus' of Fécamp ('Précieux Sang’), one of the oldest and holiest relics of the Catholic Church. Said to contain blood drops of Jesus Christ, collected in the Holy Grail from his wounds at the Cross. Stolen on June 2nd 2022 in France. AMEN! pic.twitter.com/YhgK8RaUaf
— Arthur Brand (art detective) (@brand_arthur) July 12, 2022
Adornada com pedras preciosas, imagens de santos e de Cristo na cruz, a relíquia funciona como objeto de culto por peregrinos católicos há mais de mil anos. Estava exposta na Abadia de Fécamp até a virada do dia 2 de junho, quando foi roubada, duas semanas antes das celebrações anuais de Corpus Christi — data em que os fiéis celebram a instituição da Eucaristia.
O tesouro perdido deverá ser entregue às forças holandesas, que atendem a um pedido da França para investigar quem foi o responsável pelo roubo. A polícia também trabalha para comprovar a autenticidade da relíquia. Além do sangue de Cristo, outros itens roubados foram deixados na porta do detetive Arthur Brand, dentre eles placas litúrgicas de cobre e um cálice decorado.
“Outros mil anos”
De acordo com o “Indiana Jones da arte”, o seu envolvimento no caso começou logo depois do roubo, quando recebeu uma mensagem de um anônimo que alegava ter os bens roubados. A pessoa pediu para enviar o item roubado, porque seria muito arriscado devolvê-lo à igreja francesa.
“Esta pessoa escreveu para mim em nome de outra, em cuja casa a relíquia estava guardada”, disse Arthur Brand. Para ele, ter em sua casa o item era, na verdade, uma maldição. “Quando perceberam o que era, que não podia ser vendida, sabiam que tinham de se livrar”, explicou. “Essas pessoas conhecem minha reputação. O mais importante é devolver à Igreja. Esperamos que permaneça lá por mais mil anos.”
Além de ter recuperado a relíquia do “Preciosíssimo Sangue de Cristo”, Arthur Brand, 52 anos, ficou conhecido por ter salvado outros itens roubados, incluindo as esculturas de bronze Cavalos de Hitler, uma pintura de Picasso e um anel que pertencia a Oscar Wilde. Ele é considerado um dos detetives de arte mais famosos do mundo e é reconhecido por policiais e ladrões por seu fácil acesso ao comércio de obras roubadas.