O processo aberto pela África do Sul contra o governo israelense, sob a acusação de genocídio na guerra em Gaza, distanciou as duas nações a ponto de a situação correr o risco de se transformar em uma ‘guerra diplomática’. Não está descartada inclusive uma ruptura na relação entre os dois países – ou entre outros que se envolverem.
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O incômodo no governo israelense foi muito grande, conforme destacou o jornal The Jerusalem Post. Além de ter deixado o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu furioso. Já o advogado Tal Becker, um dos que representam Israel, classificou, nesta sexta-feira, 12, de “grosseiramente distorcidas” as acusações apresentadas pela África do Sul na Corte Internacional de Justiça, em Haia, Holanda.
“Você não apenas se tornou um inimigo de Israel, mas também se tornou um inimigo do povo judeu, como a luta que você escolheu deixará claro”, escreveu o colunista Amotz Asa-El, em mensagem ao presidente sul-africano Cyril Ramaphosa, que lidera a iniciativa.
Asa-El lembrou que Israel poderia ter evitado o julgamento, já que, de acordo com as regras deste tribunal, tal situação tem de ser aceita pelo próprio réu. Segundo ele, Israel fez questão de aceitar a acusação para poder se defender, com a certeza de que nada tem a esconder e tem muito a denunciar.
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“Veja bem, presidente Ramaphosa, quando você exige ‘cessar-fogo agora’, o que efetivamente exige é que os nossos inimigos sejam autorizados a regressar às ruas de Gaza e aos lançadores de mísseis que colocaram nelas e por baixo delas”, disse o colunista, que prosseguiu.
“Isso para depois eles voltarem a perseguir a nós e aos nossos filhos. Em suma, você está se transformando em nosso inimigo ativo. Você percebeu isso quando decidiu nos levar para Haia?”
O conflito diplomático pode se acirrar ainda mais com a entrada da Alemanha em defesa de Israel, na condição de terceiro, possibilidade admitida pelo primeiro-ministro alemão Olaf Scholz, segundo o The Times of Israel. Para a Alemanha é legítimo o direito de Israel à sua autodefesa, depois de sofrer ataques do grupo terrorista em 7 de outubro, que deixaram mais de 1,2 mil mortos. Outras 240 pessoas foram sequestradas.
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A intervenção de terceiro é legalmente concedida à parte não participante de determinada relação jurídica processual. Neste caso, ela atua ou é convocada, na defesa de interesses jurídicos próprios ou de um dos envolvidos.
Risco de afetar mercados consumidores
A tendência, com a entrada da Alemanha, é a África do Sul começar a se isolar em relação a países da União Europeia e outros ocidentais. Tal situação afetaria seus mercados consumidores em várias nações, segundo disse ao grupo Deutsche Welle o analista político Ran Greenstein, da Universidade de Witwatersrand, em Joanesburgo.
Em dezembro, depois de algumas moções do país contra Israel, Greenstein dizia ser improvável que o governo sul-africano cortasse completamente as suas relações diplomáticas com Israel. Com a ação neste Tribunal de Haia, no entanto, isso não pode ser descartado neste momento. O que, pelo argumento dele, acabaria sendo prejudicial à própria África do Sul.
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“Essa medida [rompimento de relações] traria [à África do Sul] repercussões na sua posição diplomática em relação à União Europeia, ao Reino Unido e aos EUA e, por isso, o governo separa bem as declarações simbólicas das políticas efetivas.”
Com essa iniciativa contra Israel, acredita o colunista Asa-El, o governo da África do Sul cometeu um grande erro.
“Você [Ramaphosa] não apenas enfrentará uma derrota legal e um desastre moral na luta que escolheu, mas também enfrentará a desgraça política.”
E o Brasil caminha para a mesma direção.
Com estes anés diplomático que temos, é capaz de sofremos no futuro um boicote.