Depois de ter se livrado formalmente do apartheid, a África do Sul passou a conviver com décadas de violência xenofóbica. O país, que entrou com uma ação na Corte Internacional de Justiça contra Israel, se depara com um aumento da discriminação e de mortes causadas por intolerância.
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O alerta foi dado por especialistas em direitos humanos da Organização das Nações Unidas (ONU). Eles disseram que “o governo sul-africano tem de tomar medidas urgentes para conter a figura de imigrantes e refugiados como bodes expiatórios, a violência e intimidação desses grupos.”
Para os relatores da ONU, se isso não ocorrer, “o país estará à beira de uma xenofobia explosiva”. A análise foi feita em julho de 2022, mas, em 2023, a onda discriminatória ainda prevalecia no país.
Hassan Logart, funcionário da People´s Media Consortum, declarou que, em 2024, sem a intervenção do governo, a próxima onda de “ataques xenofóbicos poderá ser pior do que a que vimos nos anos anteriores.”
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Neste ano, o país realiza eleições presidenciais, e o clima de ódio aos estrangeiros deverá ser explorado por vários partidos. Isso em meio ao aumento do desemprego, que passou de 21,5% da população em 2012 para 31,9% em meados de 2023, segundo a consultoria CEIC.
“A mobilização xenofóbica é mais profunda e ampla e se tornou uma estratégia central para vários partidos políticos no país”, informa o relatório da ONU.
Xenofobia na África do Sul, segundo a ONU
De acordo com o portal da ONU, a xenofobia existe especialmente contra imigrantes e refugiados de países de renda baixa na África e no sudeste da Ásia. “E tem ocorrido há anos na política sul-africana.”
A ONU responsabilizou representantes do governo sul-africano pela disseminação da intolerância contra imigrantes e estrangeiros.
“A narrativa contra imigrantes, de integrantes seniores do governo, está levando à violência”, ressaltou a entidade. “E outros agentes falham em conter esses abusos e levar os culpados à Justiça.”
A violência de grupos de vigilantes, incêndios criminosos contra casas e negócios de imigrantes e assassinatos de estrangeiros têm sido frequentes, segundo os relatores.
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Os ataques e os assaltos a transportadores fizeram empresas moçambicanas suspenderem a ligação entre Maputo, a capital Moçambique, e Durban, na África do Sul.
“Milhares de cidadãos estrangeiros ou considerados ‘forasteiros’ foram assediados, atacados ou mortos, como resultado desta violência”, afirma o portal saferspaces.
Somente em 2008, pelo menos 100 mil pessoas foram obrigadas a se deslocar do país por causa de perseguições, de acordo com os relatores das Nações Unidas.
Guerra contra o Hamas
A ação sul-africana proposta contra Israel ocorreu em meio a esse permanente crescimento do discurso de ódio no próprio território. Nesta quinta-feira, 11, os rumos jurídicos preliminares tiveram início na Corte em Haia, na Holanda.
A alegação da África do Sul contra Israel é que as Forças de Defesa do país judaico, no conflito contra o grupo terrorista Hamas, teriam violado obrigações previstas na Convenção para a Prevenção e Repressão do Crime de Genocídio. As acusações são refutadas pelo governo israelense.
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A Confederação Israelita do Brasil (Conib), em nota, criticou a postura e o que considera falta de informações do governo sul-africano em relação às respostas israelenses aos ataques terroristas de 7 de outubro.
“Nesta terrível guerra iniciada pelo Hamas, as Forças de Israel tomam precauções que nenhum outro exército tomou para preservar a população civil.”
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De acordo com a Conib, as Forças de Defesa de Israel continuam “alertando sobre ataques em áreas urbanas, orientando civis a saírem da zona de conflito, permitindo ajuda humanitária”.
Para a entidade judaica, o Hamas provoca situações para as mortes de civis. “O Hamas se esconde covarde e deliberadamente atrás dos civis de Gaza, porque suas mortes são usadas como arma contra Israel na opinião pública mundial.”