Israel e Alemanha assinaram um acordo histórico, nesta quinta-feira, 28. O ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, afirmou que se trata do maior já feito entre os dois países, no valor de US$ 4 bilhões.
Gallant e o ministro da Defesa da Alemanha, Boris Pistorius, formalizaram a venda de um sistema de mísseis antibalísticos de longo alcance Arrow 3 para Berlim. A venda inclui uma variedade de infraestrutura tecnológica.
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“Desde o estabelecimento dos nossos laços, a Alemanha contribuiu grandemente para a segurança de Israel”, disse Gallant. “Apenas 80 anos desde o fim da Segunda Guerra Mundial, ainda assim Israel e a Alemanha unem-se hoje na construção de um futuro mais seguro para ambas as nações.”
O sistema Arrow, com entrega prevista para 2025, “preparará a defesa aérea alemã para o futuro”, ressaltou Pistorius. “É, sem exagero, um dia histórico para as nossas duas nações.”
O histórico
Desde o fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945, o que poderia ser motivo para um distanciamento profundo entre Israel, fundada três anos depois, tornou-se uma história de permanente aproximação.
A Alemanha, depois de implantar o regime nazista, organizar uma perseguição que, entre outros, causou a morte de cerca de 6 milhões de judeus, passou a ser governada por forças que buscaram reinserir o país na diplomacia mundial.
E o reconhecimento das atrocidades cometidas anos antes foi um primeiro passo, depois dos julgamentos de Nuremberg, entre 1945 e 1946, em que oficiais que tiveram participação no regime nazista foram punidos em um tribunal formado por juízes dos países aliados, vencedores da guerra (Estados Unidos, França, Inglaterra e União Soviética).
Os anos seguintes foram marcados por um repúdio dos judeus, que moravam ou não em Israel, à Alemanha. Foi uma época em que, nos passaportes israelenses, havia o seguinte adendo: “Este passaporte é válido em todos os países, exceto a Alemanha”.
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Mas, a partir de 1952, com a assinatura do Acordo de Luxemburgo, assinado entre Israel e Alemanha, o governo alemão começou formalmente a tentar provar que aquela política moldada no preconceito e na violência era coisa do passado. Naquele acordo, foram regulamentados pagamentos de indenizações por parte da Alemanha, assim como o comprometimento em devolver bens e valores patrimoniais.
A aproximação começou a ser costurada em virtude da postura do primeiro-ministro, David Ben-Gurion, e da ministra Golda Meir, que, entre 1949 e 1956, ocupou as pastas do Trabalho e das Relações Exteriores.
Meir e Ben-Gurion buscaram um diálogo enquanto observavam a postura dos novos governantes alemães, para ter a certeza de que eles estavam realmente comprometidos em deixar para trás o passado ligado ao nazismo.
Do lado alemão, o chanceler Konrad Adenauer, do partido conservador CDU, foi o protegonista desse novo tempo. Com astúcia, ele trabalhou para que o Parlamento (Bundestag) aprovasse o Acordo de Luxemburgo.
Ben-Gurion, neste contexto, começou uma campanha em que o slogan que prevalecia era “Outra Alemanha”. Para Israel era fundamental, como Estado recém-fundado, trabalhar para se inserir em uma era de modernidade e paz.
Mudanças na relação entre os dois países também ocorreram em função de interesses estratégicos
De lá para cá, prevaleceram décadas de entendimento, com alguns períodos minoritários de distanciamento, como a tensão gerada pelo atentado na Olimpíada de Munique, em 1972, em que terroristas mataram 11 membros da delegação israelense.
Ou quando Helmut Schmidt (1974-1982) foi o chanceler alemão, momento no qual quase houve um rompimento diplomático. Menachem Begin, então primeiro-ministro de Israel, criticou, em 1981, a postura de Schmidt de se aproximar de grupos palestinos e negociar venda de armas com a Arábia Saudita. Vale lembrar também que, nos tempos da Alemanha Oriental, uma ditadura comunista, a relação deste país com Israel era de hostilidade.
Fora isso, os primeiros-ministros Willy Brandt (1969-1974), Helmut Kohl (1982-1998), Gehard Schroeder (1998-2005) e Angela Merkel (2005-2021) não só mantiveram boas relações diplomáticas como visitaram Israel com declarações de amizade.
As mudanças na relação entre os países também ocorreu em razão de interesses estratégicos. Com Israel cada vez inserida como uma potência tecnológica, aliada a países do Ocidente, a Alemanha se tornou um dos principais interlocutores da nação na Europa.
A Alemanha, possivelmente, é o país europeu com o qual Israel mantenha os melhores laços diplomáticos. Isso apesar de algumas discordâncias do atual governo em relação às reformas judiciais propostas pelo governo do atual primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu.
Mais do que a França, e tanto quanto a Inglaterra, o governo alemão vê o Irã, país mais hostil a Israel, como uma ameaça. Em setembro de 2022, a Alemanha criticou o fato de o Irã não ter respondido positivamente na época às propostas europeias para retomar o acordo nuclear de 2015.
Em fevereiro de 2023, a Alemanha ressaltou que o principal objetivo dentro da política do Oriente Médio é impedir que o Irã tenha armas nucleares. As negociações sobre a retomada do acordo nuclear de 2015 continuavam paralisadas
“Nosso objetivo em todo o jogo é, e continua sendo, impedir que o Irã tenha armas nucleares, e não queremos uma corrida de armas nucleares no Oriente Próximo e no Oriente Médio”, disse, na ocasião a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Andrea Sasse. “É uma questão muito séria. É muito concretamente sobre o Irã não ter armas nucleares e ser capaz de desenvolver armas nucleares.”