A Moldávia escolheu romper com um passado sombrio e olhar para o futuro. Ninguém pode condená-los por isso
Por Márcio Coimbra*
Na lista de antigos satélites da União Soviética que passaram a desagradar Moscou, a Moldávia assumiu um lugar de destaque. Depois de possuir governos tutelados pelo Kremlin, finalmente o país parece se desprender das amarras do passado e olhar adiante, focado na Europa e nos valores democráticos, deixando de lado o sombrio passado socialista.
Maia Sandu é a mais nova preocupação de Moscou. A jovem política de 48 anos foi eleita presidente em segundo turno contra Igor Dodon, candidato dos russos, preferido de Vladimir Putin. A Moldávia, que faz fronteira com a Romênia, com quem divide laços étnicos e culturais, é um país que sente-se hoje mais perto da União Europeia do que de Moscou. Sandu é a mais forte expressão deste movimento.
A Moldávia segue o mesmo caminho de outras antigas repúblicas soviéticas, que hoje independentes, buscam maior autonomia em relação à Rússia. Apesar de formalmente não fazerem mais parte da União Soviética, a sombra de Moscou ainda paira em muitos destes países. Assim como em Belarus, a batalha está hoje em outro plano e foca em isolar a influência política dos russos em suas vidas.
Em Belarus, somente mais uma fraude eleitoral conseguiu manter Lukashenko no poder e a capital Minsk, mesmo sob a vigilância dos policiais do regime autocrático apoiado por Moscou, é palco todas as semanas de protestos pró-democracia. A Europa passou a apoiar o fim do governo e a adoção de eleições livres monitoradas por observadores internacionais, algo rejeitado pela Rússia.
Os conflitos nas franjas da extinta União Soviética chegaram ao Azerbaijão e Armênia, em disputa pela região de Nagorno-Karabakh que cessaram somente depois de mediação internacional. O caso da Moldávia lembra este conflito. A região da Transdnístria, na fronteira com a Ucrânia, considera-se independente e seus 500 mil habitantes, moldavos, russos e ucranianos étnicos, buscam reconhecimento internacional.
Fato é que a região é mantida sob controle com forças russas, que desde 1992 estão no local. O território respira a nostalgia dos tempos comunistas. Sandu, a presidente eleita, deseja que a Rússia retire os 1.500 soldados do local e estes sejam substituídos por forças internacionais. O Kremlin não gostou. A população da Moldávia tomou as ruas da capital Chisinau em apoio a Sandu. Putin não terá vida fácil com a nova líder do país. Ela deseja levar o antigo satélite soviético, hoje uma nação independente, mais para perto da União Europeia.
Moscou tem mais um problema sério a ser resolvido. Depois de Belarus, Armênia, Azeibaijão e Quirguistão, agora mais uma antiga república soviética rebela-se contra o poder do Kremlin. Na medida que a democracia e as benesses do capitalismo europeu penetram nas antigas repúblicas, torna-se cada vez mais difícil manter os mecanismos de fraude e controle impostos pela Rússia.
Já chegou o momento de verdadeiras democracias se instalarem na região e seus povos decidirem o seu próprio futuro. Sandu agora torna-se uma peça importante deste tabuleiro político que ousa desafiar as ordens emanadas do Kremlin. A Moldávia escolheu romper com um passado sombrio e olhar para o futuro, longe de Moscou. Ninguém pode condená-los por isso.
(*) Márcio Coimbra é coordenador da pós-graduação em Relações Institucionais e Governamentais da Faculdade Presbiteriana Mackenzie Brasília, Cientista Político, mestre em Ação Política pela Universidad Rey Juan Carlos (2007). Ex-Diretor da Apex-Brasil. Diretor-Executivo do Interlegis no Senado Federal
Ser uma nação livre e autônoma é sempre um ótimo negócio.
A busca da liberdade em todos os sentidos é a aspiração do adulto com formação psíquica razoável, apenas às crianças é que a dependência se faz necessária.
Moldávia e todos, têm e devem procurar seus próprios caminhos longe da tutela de terceiros!
Péssimo negócio para a Moldávia afastar-se de Moscou, acredite.