O ditador da Venezuela, Nicolás Maduro, aumentou a repressão contra opositores para se manter no poder. A exemplo, na manhã de 7 de agosto, o ex-deputado Américo de Grazia avisou sua filha Maria Andreina que iria ao hospital em Caracas por causa de uma infecção pulmonar. Essa foi a última vez que Maria Andreina falou com seu pai.
De acordo com o jornal O Estado de S. Paulo, mais tarde, no mesmo dia, Maria foi informada que Américo estava detido no Helicoide. O local é conhecido por ser o maior centro de tortura para presos políticos da Venezuela. Desde então, os filhos de Américo, que vivem fora da Venezuela, desconhecem seu estado de saúde e as razões jurídicas de sua detenção.
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“Não sabemos se ao menos chegou ao médico”, afirmou Maria Andreina, em entrevista ao Estadão. “Não sabemos nem se está vivo.”
Américo de Grazia é um dos mais de 1,5 mil presos políticos contabilizados pela organização Foro Penal, desde as eleições de 28 de julho. Entre os detidos, há 200 mulheres, 129 adolescentes, 14 indígenas e 18 pessoas com deficiência, o que inclui adolescentes com autismo.
“Chegamos a níveis que nunca havíamos alcançado na Venezuela até agora”, diz Gonzalo Himiob, vice-presidente da Foro Penal.
Segundo Rafael Uzcátegui, diretor da organização não governamental (ONG) Laboratório de Paz, a repressão atual só é comparável ao Caracazo de 1989. Na época, cerca de 300 pessoas morreram durante levantes contra o então presidente Carlos Andrés Perez.
“O governo está promovendo um sistema de terror para que a população permaneça em suas casas e pare de exigir seus direitos”, afirma Uzcátegui.
Nicolás Maduro assume prisões
Nicolás Maduro afirma que mais de 2,4 mil pessoas estão detidas, mas o Foro Penal só contabiliza casos comprovados. Outras organizações, como Provea e Monitor de Vítimas, contabilizam mortos, feridos e outros abusos de direitos humanos.
“A intensidade desta escalada repressiva não tem precedentes”, conta Himiob.
Maria Andreina de Grazia usa uma camiseta com a foto de seu pai, que está detido no Helicoide, desde 7 de agosto. Uzcátegui denuncia que tem sido cada vez mais difícil obter informações, pois há relatos de pessoas sendo detidas quando procuram seus familiares nas prisões. A ditadura também tem detido advogados, como Kennedy Tejeda, do Foro Penal.
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“Primeiro lhes negam o direito a um advogado privado e lhes é imposta uma defesa pública”, denunciou Uzcátegui ao Estadão. “Depois essas pessoas estão sendo submetidas às audiências de custódia, que deveriam ocorrer em um tribunal formal em 48 horas. Essa audiência está acontecendo através de uma chamada por vídeo. O juiz se conecta e do outro lado da tela estão todas as pessoas detidas, e a todas elas são imputados os mesmos delitos.”
As prisões não se restringem a políticos ou ativistas. Há denúncias de pessoas sendo presas aleatoriamente nas ruas ou em suas casas, muitas vezes sem explicação. Entre os presos, há muitos adolescentes e pessoas com deficiência.
Denúncias contra a ditadura
Nas redes sociais do Foro Penal, Carmem Morillo denunciou que a ditadura prendeu sua filha Victoria, de 16 anos, enquanto caminhava com suas primas no dia seguinte às eleições. “Não a vi até agora”, afirmou.
A ONG Provea tem promovido mutirões para instruir as famílias dos presos, como o que ocorreu em 15 de agosto, na Universidade Central da Venezuela. Segundo o presidente da organização, Oscar Murillo, a repressão atinge principalmente as zonas pobres e comunidades de todo o país, o que torna o trabalho de auxílio ainda mais desafiador.
A repressão chavista escalou desde os protestos de 2014, contra as políticas econômicas de Hugo Chávez e Nicolás Maduro. Desta vez, a intensidade é maior, com uma estratégia para amedrontar a população.
“Houve duas fases dessa repressão: primeiro, a prisão massiva de manifestantes”, afirma Murillo. “Depois, a caça de opositores e pessoas que se manifestavam nas redes sociais.”
“Há muito interesse do poder em consolidar uma narrativa oficial segundo a qual todos aqueles que se opõem ao poder são terroristas”, disse Gonzalo Himiob, do Foro Penal. A organização tem focado em apresentar denúncias ao Ministério Público venezuelano para esgotar todas as fontes internas e internacionais de denúncias.
Não muito diferente do que aconteceu no 8 de Janeiro e acontece ainda aqui no Braçil…