Durante o mês de fevereiro de 2024, tivemos duas matérias “alarmantes” despachadas pela imprensa sobre “mudanças climáticas” que mostram a incoerência das simulações sempre usadas com o propósito de adivinhação do clima. A primeira saiu na revista científica Science Advances e foi alardeada pela mídia como um colapso do sistema de correntes oceânicas do Atlântico que teriam consequências drásticas para o clima, especialmente o da Europa. A segunda, saiu na revista Nature e envolveu a Floresta Amazônica, que, segundo a publicação, também entrará em colapso ambiental até 2050, passando por um ponto considerado irreversível para a recuperação da vegetação.
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Antes de falarmos da publicações, faço uma introdução sobre o relato histórico de 50 anos das “temperaturas do ar médias globais” que fizemos quando abordamos o trabalho do professor Roy Spencer que apresentou uma comparação entre: 1) os valores médios obtidos pelos dados das séries temporais das Estações Meteorológicas de Superfície (SEM); 2) os valores médios dos dados obtidos pela varredura da troposfera através dos sensores dos satélites; e 3) os principais modelos climáticos que simularam essas mesmas temperaturas.
Vimos que os satélites e as estações meteorológicas apresentaram valores bastante próximos, mesmo com as limitações próprias de cada metodologia. Também sabemos que, dada a vastidão do objeto a ser medido — a atmosfera da Terra —, sua tangibilidade integral torna-se algo impraticável. Assim, os métodos nos fornecem uma amostra da realidade, até mesmo bastante significativa, mas não plena. Contudo, quando comparamos os dados obtidos do mundo real com os cenários criados pelos modelos climáticos computadorizados, verificamos a extrapolação em demasia dos valores simulados, com alguns deles “esquentando” o planeta muito acima de qualquer valor minimamente coerente.
Publicações alarmistas na Science Advances e Nature
No mundo científico climático cético, já é bastante conhecido que a linha editorial de ambas as revistas tenha uma predileção pelo drama ambiental catastrófico. A Nature, para piorar, ainda afirmou em seu editorial que os críticos à hipótese do caos climático “só sabem negar, negar e negar”, quando é ela quem nega as evidências das trapaças sobre o clima. Ademais, a mídia embusteira publica seus artigos simplesmente copiando os mesmos textos uns dos outros, onde as palavras “colapso”, “irreversível”, “ponto sem volta” estranhamente fazem parte do vocabulário, exaltando um terror baseado em ficção pseudocientífica, pois não são passíveis de verificação e comprovação. Portanto, são meras especulações.
Para os casos dos dois exemplos trazidos, o que motiva o problema é o “aquecimento global”, ou seja, o estopim do drama ambiental. Contudo, o primeiro estudo diz que um dos possíveis efeito desse aquecimento — a entrada de água doce no Mar Ártico — irá provocar uma mudança nas correntes oceânicas do Atlântico Norte, levando um frio terrível para a Europa, derrubando as temperaturas em até 30oC até o final do século, mas que eles poderão ter um clima diferente já em 10 ou 20 anos (porque a Agenda urge, é claro!). No segundo, o mesmo aquecimento trará o fim da Floresta Amazônica porque ela não aguentará o “calor extremo” até 2050, em cerca de um pouco mais do que os 20 anos do caso anterior.
Se isso não fosse ruim, ainda piora. Afinal, o que são esses estudos? Estão baseados em alguma teoria robusta que tenha solidez para apoiar seus resultados? Não! Os dois artigos científicos são resultados de simulações realizadas em modelos computadorizados climáticos ou de circulação geral, os quais são programados para trabalharem somente na hipótese elencada, ou variantes dela.
As análises realizadas ao término dessas simulações jamais poderiam ser aplicadas ao mundo real de forma inequívoca, mas estritamente para avaliar o que o modelo reproduziu em sua saída, ou seja, ao funcionamento do modelo. Não passa de um cenário desconectado da complexidade da realidade e de todos os seus outros subsistemas.
Quais perguntas devem ser respondidas?
Ademais, as pessoas deveriam se perguntar como um aquecimento supostamente estimado em 0,1oC por década poderia causar extremos de frio e quente ao mesmo tempo? Isto é altamente divergente e foge de todas as realidades climáticas. Lembra-nos de caso semelhante ocorrido há uns 13 anos quando o Vórtice Circumpolar do Ártico foi acusado de causar temperaturas elevadas, mas nos anos de 1970 o mesmo fenômeno do vórtice foi declarado responsável pelas condições de frio extremo que sinalizavam um “resfriamento global”, na época. O assunto foi capa de uma revista famosa nos EUA e também tema de deboche recentemente, mostrando as incongruências da “ciência climática”, pois argumentar que um mesmo fenômeno cause uma divergência diametralmente oposta significa que chegamos à época do sorteio. Jogue a moeda: cara: Vórtice Circumpolar do Ártico provoca “aquecimento global”; coroa: vórtice causa “resfriamento global”.
Nesta primeira parte, estudaremos o caso sobre a mudança na Circulação de Retorno Meridional Atlântica (Atlantic Meridional Overturning Circulation — AMOC) que foi simulada no trabalho apresentado pela Science, segundo o qual o “aquecimento global” causaria frio extremo na Europa. Como a corrente do Atlântico Norte é derivada da corrente do Golfo (do México) e ambas são quentes, ela acaba transportando águas aquecidas para latitudes oceânicas mais altas do Hemisfério Norte, “sabotando” as massas árticas atmosféricas porque ameniza o frio com quantidades significativas de calor sensível e latente proveniente do oceano. Isto ocorre porque a troposfera, a primeira camada de baixo para cima, é influenciada pela superfície de contato inferior. Uma vez que a corrente cedeu bastante do seu calor e esfriou, ocorrerá uma reversão justamente no ponto térmico e salino mais críticos. Assim, as águas resfriadas fazem um afundamento e posterior reversão para o Sul/Sudoeste, quando se juntam com águas frias polares.
No exercício computacional da hipótese, o “aquecimento global” desencadearia uma sequência de processos concatenados: faria derreter muito gelo continental das regiões árticas que implica a alteração da salinidade e, em consequência, da densidade da água do mar, resultando em antecipar o posicionamento geográfico da AMOC, não deixando a corrente do Atlântico Norte contribuir com águas aquecidas para a Corrente Norueguesa Atlântica. Isto derrubaria a “sabotagem” das massas árticas, levando a Europa ao “caos” de uma era glacial.
Hipótese da Science não é nova
A hipótese não é nova, pois já foi estudada bastante no passado, sendo um dos possíveis indicadores de uma glaciação, especialmente para o Hemisfério Norte. O climatologista espanhol Antón Uriarte Cantolla (1949-2019) a descreveu em seu livro Historia del Clima de la Tierra (História do Clima da Terra, 2003) no capítulo sobre Paleoclima. Contudo, as causas não seriam por um “aquecimento global” decorrente de excesso de gás carbônico, mas por severidade das massas de ar árticas, que consumiriam com mais intensidade o calor proveniente das correntes oceânicas. Também teriam efeitos as variações de rotas destas altas polares extremamente frias, oriundas de um Ártico estendido pelas alterações orbitais e balanços negativos da incidência de radiação solar no polo Norte, ou seja, frio gerando frio.
O professor Uriarte, doutor em geografia, relatou em seu livro que, com ar mais frio, um significativo avanço da frente polar em latitudes mais baixas do Hemisfério Norte causaria o fechamento superficial do oceano no Atlântico Norte, congelando boa parte da superfície entre a Groenlândia e o Norte da Europa. Isto impossibilitaria a chegada da corrente oceânica quente do Atlântico Norte, que faria uma reversão mais antecipada, mas em sentido Sul/Sudeste, bem antes da península Ibérica, por volta da faixa de 35o a 40oN (Fig. 1A e B). Isso põe em dúvida a simulação apresentada pela Science em dois pontos: 1) se seriam águas com salinidade mais baixa oriundas de degelo, elas se congelariam com maior facilidade e não o contrário, especialmente porque o padrão que a AMOC apresentaria foi obtido através de dados secundários; 2) a Europa não poderia cair em uma nova mini era glacial se as massas de ar árticas estivessem mais aquecidas por se tratar da hipótese do “aquecimento global”. As coisas precisam pelo menos fazer sentido, especialmente porque a temperatura superficial do gelo é quase a mesma do ar ao seu redor.
Já Uriarte descreve que a baixa salinidade viria por ação de uma maior precipitação sobre as regiões continentais da Ásia, como a Sibéria, na Rússia. O maior carregamento das bacias hidrográficas da região ocasionaria uma maior descarga de água doce dos rios no mar gelado do Ártico. Este aumento de precipitação seria ocasionado pela maior evaporação proveniente da corrente quente do Atlântico Norte, antes da sua reversão. Os ventos predominantes de Oeste fariam o transporte continental (Fig. 2), exatamente como os ventos de Leste, na área tropical, levam a umidade oceânica do Atlântico para sobre a região amazônica sazonalmente. O artigo da Science vê essa possibilidade, adicionada do derretimento de geleiras continentais da Groenlândia, o que novamente corrobora a hipótese de massas de ar frias menos intensas.
Estes não são os únicos problemas, pois temos diversos processos concatenados que operam ao mesmo tempo e cujos padrões não apresentam uma linearidade como costumam apresentar os modelos computacionais climáticos. Os mecanismos de retroalimentação podem ser positivos e negativos. Também podem mudar de sinal rapidamente, alterando todo o resultado. A não linearidade interfere drasticamente e os modelos não sabem simular essas coisas e muito menos quando tais elementos mudam de peso no contexto geral.
O próprio artigo da Science alerta sobre as limitações em seus resultados, especialmente porque todas as condições de contorno estão sob controle e adverte que a simulação careceu de acoplamentos com sistemas de circulação geral, o que não aconteceria no mundo real. Dessa forma, o modelo computadorizado de circulação da AMOC carece de validação, pois ainda não foi observado diretamente no mundo real o que ele hipoteticamente desenhou. Um exemplo a ser lembrado que se encaixa nestas condições foi a brusca alteração das temperaturas ocasionadas pelo efeito do El Niño de 1998 e o recente, de 2015-2016. Trata-se também de um fenômeno oceânico-atmosférico e nenhum modelo o previu. Todos erraram!
Uriarte era um dos cientistas céticos, do lado mais forte do espectro. Na parte de Paleoclima, ele recordou os aspectos geográficos do clima, demonstrando que quando o istmo do Panamá, na América Central, não existia, no Plioceno, a circulação das águas quentes do Atlântico se ligava às do Pacífico. Isto não impediu que este período fosse quente e que o Ártico praticamente não existisse. No quaternário, nosso tempo geológico atual, o istmo fechou a conexão dos oceanos, alterando bastante as condições climáticas do mundo, especialmente no Atlântico, pois a corrente quente desvia-se para o Norte. Contudo, a distribuição de calor alterou-se, as temperaturas estão bem mais baixas e o Ártico está lá (Fig. 3A e B).
Quanto ao nosso tempo contemporâneo, ele também afirmava que as temperaturas médias na superfície da Terra no século 20 e início do século 21, medidas pelos termômetros de superfície, “aumentaram” aproximadamente 0,6oC. Isso basicamente não pode ser considerado um aquecimento e muito menos global, sendo parte das variações normais de temperatura dentro do mesmo período interglacial. Uriarte também ressaltava o quanto os relatórios do IPCC relatavam que as coisas iriam se alterar, mas não especificavam onde elas aconteceriam de fato, esquivando-se em relatos bastante gerais e genéricos.
Uma delas é o suposto aumento das áreas afetadas por secas serem de responsabilidade humana. Isso interfere diretamente na segunda parte que veremos a seguir, onde o “aquecimento global” destrói a Floresta Amazônica, segundo as simulações realizadas pelos modelos, os mesmos que disseram que as correntes oceânicas quentes como a do Atlântico Norte não chegarão até as latitudes mais altas. Contudo, se isso acontecer e juntarmos as duas hipóteses simuladas não teríamos uma incongruência? Se o calor ficará mais confinado às regiões tropicais, aumentará a evaporação oceânica, disponibilizando mais umidade. Consequentemente, a cobertura de nuvens eleva-se, e a probabilidade de chuvas sobre os oceanos aumenta, mas principalmente, sobre as áreas continentais tropicais e equatoriais quando é transportada pelos ventos de Leste. Será que isso favoreceria ou prejudicaria o desenvolvimento das florestas tropicais? Veremos em breve e daremos nosso veredicto sobre os trabalhos científicos realizados sobre modelos climáticos.