Mais de 232 mil pessoas podem ter sido contaminadas na China continental na primeira fase de contágio
Os números da China em relação ao coronavírus são questionados ao redor do mundo. Vários países acusam o Partido Comunista chinês de não ser transparente quanto aos números e à origem da pandemia.
Nesta quinta-feira, 23, um estudo realizado em Hong Kong, território semiautônomo chinês, mostra que o número de infectados pela covid-19 na primeira fase de contágio deve ser quatro vezes superior ao divulgado por Pequim à época.
A conclusão, publicada no jornal britânico The Guardian, indica que mais de 232 mil pessoas podem ter sido contaminadas na China continental.
Até 20 de fevereiro, quando o país era ainda o epicentro da pandemia, as autoridades anunciavam ter registrado 55 mil casos de covid-19, já que até então elas não tinham determinado com exatidão quem era considerado doente.
Entre 15 de janeiro e 3 de março, a Comissão Nacional de Saúde da China lançou sete versões da definição de “caso de covid-19”.
“Se a quinta versão da definição de caso [de covid-19] tivesse sido aplicada desde o início do surto e fosse acompanhada de capacidade de testagem suficiente, estimamos que até 20 de fevereiro tivessem sido registrados 232 mil casos confirmados na China, em vez dos 55.508 divulgados”, considera o estudo.
Acusações
O levantamento é divulgado no momento em que a China vem sendo acusada por várias nações de não ter dito toda a verdade sobre os números da covid-19.
Os Estados Unidos são o país que mais responsabiliza a potência asiática. Ontem, quarta-feira 22, o secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, afirmou que o Partido Comunista chinês falhou em anunciar o surto em cima da hora.
Como registra a RTP, emissora pública portuguesa, também países europeus já manifestaram dúvidas quanto à honestidade da China.
O presidente da França, Emmanuel Macron, afirmou recentemente que “é certo que ocorreram coisas que não conhecemos”.
No Reino Unido, o ministro britânico dos Negócios Estrangeiros, Dominic Raab, defendeu como “absolutamente necessário” levar a cabo “uma revisão profunda de tudo o que aconteceu, incluindo a origem do surto”.
Donald Trump não só duvida dos números chineses como da origem do surto, tendo por várias vezes repetido a teoria de que o vírus escapou de um laboratório chinês na cidade de Wuhan.
Pequim negou em diversas ocasiões as acusações. Nesta semana, o embaixador da China nos Estados Unidos pediu que as bases da relação entre os dois países sejam “seriamente repensadas”, criticando Washington por ignorar os cientistas e por fazer “acusações sem fundamento”.
Na semana passada, as autoridades de Wuhan revisaram o número de mortes contabilizadas e concluíram que ele é 50% superior ao que tinha sido divulgado, supostamente devido a atrasos ou incorreções e não por omissão de informações da China.
A China tem atualmente mais de 82 mil casos de infecção pelo novo coronavírus, dos quais 77 mil se referem a pessoas restabelecidas. As mortes registradas são 4.633.