(J. R. Guzzo, publicado no jornal O Estado de S. Paulo em 20 de janeiro de 2020)
Como acontece a cada vez que um novo presidente norte-americano assume o seu cargo na Casa Branca, aparecem no noticiário nacional a discussão, as explicações e as teorias sobre “o que vai mudar” para o Brasil. No caso, a expectativa predominante é de que as coisas fiquem mais difíceis. O presidente que sai, Donald Trump, era o governante mundial mais admirado pelo governo brasileiro. O que entra, Joseph Biden, não faz o tipo que o Palácio do Planalto e seus arredores admiram. Trump podia não ajudar muito, mas não atrapalhava. Biden pode ser mais complicado.
As ideias, as ações e a atitude geral das novas autoridades norte-americanas têm muito pouco a ver, com certeza, com as do governo de Jair Bolsonaro, ou com a imagem que ele tem por lá. Bolsonaro, além disso, só cumprimentou Biden por sua vitória quando o resultado foi oficialmente anunciado, a exemplo dos presidentes do México, da Rússia e de outros que têm as mesmas reticências em relação ao sucessor de Trump. Os Estados Unidos de Biden, além do mais, dão a impressão de caminhar na mão oposta de quase tudo que o bolsonarismo pode significar.
Na prática, porém, não deve haver grandes tragédias. Um presidente norte-americano, cinco minutos após assumir o comando, tem uma montanha de preocupações bem mais importantes que o Brasil; a tendência natural é que não lhe sobre muito tempo, ou interesse, para lidar com questões brasileiras. Na verdade, em matéria de América Latina, especificamente, a grande questão e os grandes focos de problema para os Estados Unidos estão na imigração que vem do México e da América Central, e para a qual não há a mais remota perspectiva de solução.
Outro tema prioritário é o tráfico de drogas e a constante participação de governos latino-americanos como os seus grandes sócios — algo que também não envolve o Brasil. Não há, como ocorria no tempo dos governos militares, o problema dos direitos humanos, nem o da ausência de eleições diretas, e nem outras dificuldades desse gênero. Não há guerras comerciais em curso, e a economia brasileira continua sendo objeto de interesse para as empresas norte-americanas e os seus projetos.
Um pouco de calma, de lado a lado, deveria ser o suficiente para não acontecer nada de explosivo ou insolúvel nas relações entre o Brasil e os Estados Unidos. O mundo gira, e, se o governo brasileiro contentar-se em girar junto, estaremos daqui a quatro anos mais ou menos onde estamos hoje.
Leia também: “A nova velha Casa Branca”, artigo de Ana Paula Henkel publicado na Edição 44 da Revista Oeste
Só nos resta aguardar.
Os ditadores hoje vestem a suprema toga.
No meu ver, temos que dar tempo ao tempo, as vezes a imprensa quer ver o que ainda é impossível ver e diagnosticar. Temos carência de um jornalismo mais filtrado menos preocupado em querer ser o primeiro a dar a noticia independente de ser a correta ou não, ou fazer previsões imaturas……..estamos num período pandemocional que vai ficar ou já está, marcado por diversas contradições,.
Infelizmente em nosso país o vírus virou um politico (oculto ) mas nefasto…. precisamos rever atitudes ….é complicado mas precisamos rever e ver com urgência…..
…Não há, como ocorria no tempo dos governos militares, o problema dos direitos humanos…
Não? E o que dizer de Osvaldo Eustáquio?
Na mosca!
O cinismo é diretamente proporcional à degeneração celular.
Com certeza estaremos no mesmo lugar…literalmente.