(J.R. Guzzo, publicado no jornal Gazeta do Povo em 11 de abril de 2022)
Desde o início da tragédia mundial da covid, ficou claro para quem tentava pensar com objetividade, coerência e isenção política, que o “lockdown”, como se passaram a chamar as medidas de fechamento maciço da atividade social, era a arma errada para combater a pandemia. Não só errada: era a mais errada de todas as possíveis. Rapidamente, a paralisia total revelou-se o que realmente foi: uma reação de pânico e de ignorância das autoridades públicas, turbinada, também desde o começo, por uma vasta lavagem cerebral de ordem ideológica. O “lockdown”, na tábua de mandamentos da militância da covid, era um imperativo para “mudar a sociedade”; deveria ser criada uma “nova normalidade”, caso a humanidade quisesse sobreviver. Quem tentava argumentar, com fatos e realidades, que o fechamento radical não fazia sentido, era amaldiçoado como “negacionista” ou “genocida”.
A covid passou, depois de deixar mais de 6 milhões de mortos em todo o mundo, cerca de 660 mil no Brasil — ou é isso que dizem os registros de mortes atribuídas ao vírus. Sobrevive em alguns focos de resistência entre os jornalistas, funcionários públicos etc. etc. etc. mas acabou na vida real — e vai deixando a claro, pouco a pouco, o tamanho da mentira que foi o “lockdown”. Se ele funcionasse, por que o vírus continuou a se espalhar livremente, durante dois anos, com todas as medidas de repressão à vida em sociedade? Por que as pessoas que obedeciam ao “fique em casa” continuaram a pegar covid?
Agora, num clima mais racional, a ciência de verdade — não o charlatanismo dos ministros do STF, dos governadores e dos prefeitos, que passaram a maior parte dos últimos dois anos brincando de ditador — começa a esclarecer as coisas. Um estudo de economistas-pesquisadores da Universidade de Chicago, publicado pelo National Bureau of Economic Research do governo federal dos Estados Unidos e citado pelo Wall Street Journal, é o mais recente demonstrativo concreto, com base em números, do desastre universal que foi o “lockdown”. Tomando como base três critérios — mortes, educação e economia — e computando as cifras de todos os Estados norte-americanos, a pesquisa comprova que o fechamento teve efeito próximo ao zero na redução de mortes; ao mesmo tempo, foi devastador nas escolas e na performance econômica.
A pesquisa demonstra que a Flórida, Estado que aplicou um mínimo de restrições durante a pandemia — seu governador, Ron de Santis, foi chamado pela mídia, o tempo todo, de “Governador Sentença de Morte” — teve o mesmo número de mortes, proporcionalmente, que a Califórnia, onde o governo aplicou as medidas de repressão mais agressivas de todo o país. Mas, entre os 50 Estados, a Flórida ficou em terceiro lugar na relação dos que menos perderam em educação; a Califórnia ficou em último. Dos mesmos 50, a Califórnia ficou no 47º lugar entre os que tiveram o pior desempenho econômico; a Flórida ficou entre os melhores, no 13º lugar. Resumo da ópera: a Flórida registrou um número de mortos equivalente ao da média nacional, mas protegeu muito melhor os seus cidadãos das devastações que a covid provocou na economia e no desempenho escolar das suas crianças e jovens.
O estudo mostra outras realidades reveladoras. O Havaí, que adotou medidas extremas de “lockdown” — chegou a proibir, pura e simplesmente, o desembarque de qualquer pessoa em seu território — ficou em primeiro lugar em número de mortos, entre os 50 Estados. Na economia foi o pior de todos, com o 50º lugar — e na educação levou o 46º. Em Nova Iorque, o ex-governador Andrew Cuomo, que renunciou ao cargo em meio a um escândalo, foi um campeão do “fique em casa”. Seu Estado teve o 48º lugar entre os 50, em termos de desempenho econômico. No Brasil, obviamente, não haverá nenhum estudo semelhante. Aqui o STF vai continuar dando 100% de razão a qualquer autoridade que quiser prender a população dentro de casa. A mídia vai continuar considerando como heróis nacionais os governadores que receberam poderes absolutos e exclusivos — ninguém podia interferir nas suas decisões — para tratar de uma epidemia que deixou 660 mil mortos. As classes intelectuais continuam tratando o “lockdown” como uma causa da esquerda; quem é contra é condenado como sendo “de direita”, bolsonarista e negacionista. Vamos continuar, oficialmente, não sabendo nada.
Leia também: “Como foi que deixamos o lockdown acontecer?”, artigo de Fraser Myers, da Spiked, publicado na Edição 106 da Revista Oeste