Dia 22 de setembro de 2024 ocorreu o equinócio, momento em que o Hemisfério Sul entrou na estação sazonal de primavera. Para o Brasil, este período de transição exige atenção. As altas temperaturas da saída de um inverno bastante ensolarado, ocasionadas pela presença de um grande sistema de alta pressão que persistiu sobre vasta área do país, poderão gerar grandes contrastes térmicos. Desta forma, esperam-se quadros meteorológicos de vulto, especialmente para as regiões Sul e Sudeste.
Lembremos que há pouco mais de um ano, um ciclo de chuvas intensas, ampliadas pela condição de El Niño que se estabelecia na época, começou um período de devastação no Rio Grande do Sul. Foram meses em que as estiagens de outrora acabaram substituídas por verdadeiros aguaceiros vindos dos céus, culminando nos desastres ocorridos em maio de 2024. Os sistemas de drenagem e a falta de manutenção adequadas nas calhas dos rios prejudicaram imensamente diversos municípios.
Com a estiagem dando sinais de se encerrar, depois de um inverno bastante quente na maior parte do Brasil, observamos que em alguns lugares, o ano hidrológico desponta em iniciar as chuvas serôdias (de primavera) e com elas, retornam os problemas, pois ficou notório que as medidas necessárias de ação e infraestrutura não foram tomadas. Ao contrário, a única atitude “preventiva” que ofereceram à sociedade foi apresentar uma tentativa tola de forçar o abandono de terras agrícolas, além de elencar mais métodos de controlar a emissão de CO2, por meio de planos mirabolantes.
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A própria ocorrência do desastre natural foi associada ao uso da terra para agricultura na região, contribuindo para o surgimento do próprio evento por meio das “mudanças climáticas”. Tal discurso objetivou apenas disfarçar os problemas da falta de planejamento preventivo e a falha da ação paliativa governamental.
Deixando o engodo climático administrativo de lado, vejamos o recente quadro meteorológico ocorrido em 25 de setembro de 2024. Na ocasião, uma linha de instabilidade pré-frontal, fenômeno meteorológico de meso-escala composto por um grupo de células de trovoadas (nuvens Cumulonimbus) que se deslocam alinhadas como uma barragem, formou-se no interior do Rio Grande do Sul, movendo-se em sentido ao Estado de Santa Catarina (figura 1). Mais tarde, todos os Estados da Região Sul acabaram atingidos pelo resquício de um sistema frontal, cujo centro de baixa pressão atmosférica em superfície permaneceu bem distante dentro do Oceano Atlântico.
Quadro meteorológico para outubro
Esta primeira ocorrência de um quadro meteorológico de destaque mostrou bem o perfil da estação de transição, onde sistemas frontais mais intensos ainda são possíveis de ocorrer. O contraste entre a sucessão de tempos meteorológicos voltou a ocasionar transtornos significativos para muitos dos moradores das regiões atingidas anteriormente. Pessoas que acabaram de recuperar parcialmente suas vidas foram logradas mais uma vez em poucas horas.
“Se nada for feito, teremos chances de novas ocorrências problemáticas em futuro próximo, com ou sem El Niño”
Ricardo Felício
Fica claro que urgem medidas preventivas, especialmente na desobstrução das calhas dos rios, com dragagens nas áreas mais baixas das planícies de inundação. Ministério Público não pode interferir na gerência administrativa do Executivo, atuando por ideais ambientalistas antagônicos e ilógicos. Se nada for feito, teremos chances de novas ocorrências problemáticas em futuro próximo, com ou sem El Niño. É nesta hora que os Poderes da República precisam entrar em consonância.
Entrementes, o sistema de alta pressão em superfície que dominou por meses vasta área do Brasil aparentemente vai se enfraquecendo. Até o presente momento, foram poucas as chuvas pelo interior do país. Os Estados mais ao Sul da Região Nordeste, como a Bahia, por exemplo, podem receber ainda as chuvas de outubro, derivadas da presença deste anticiclone que força uma circulação dos ventos do Oceano Atlântico para o continente.
A calha norte do país deve entrar em seu ciclo de chuvas com alguma influência da zona de Convergência Intertropical somente no fim de outubro. Com o decorrer dos meses, a quantidade de precipitação deve ser suficiente para recarregar as bacias hidrográficas da região, especialmente porque o Atlântico tropical permanece apresentando temperaturas da superfície do mar ainda elevadas, o que favorece a evaporação e transporte de umidade para o interior do continente. Em um possível quadro de La Niña, essa região tem grande probabilidade de ser privilegiada por uma entrada maior de umidade.
Ciclo solar
Embora a estação de inverno tenha terminado, questionou-se bastante sobre as altas temperaturas registradas pelo país durante o seu período. Como explanamos, o sistema de alta pressão do anticiclone semi-estacionário ocupou vasta área brasileira, inibindo a formação de nuvens. Isto permitiu que em todo o período diurno as taxas de insolação se mantivessem altas. A situação favoreceu o quadro de estiagem com temperaturas elevadas e baixa umidade do ar.
Contudo, também devemos trazer a condição solar observada nestes últimos meses, tanto “esquecida” ou dita como “refutada” pela turma do terrorismo climático. Este é um caso interessante de discurso paradoxal que nos serve como mais uma prova de que todos os que pregam essa falácia são embusteiros. Quando elencamos a atividade solar, eles rapidamente invalidam a sua contribuição na variabilidade do clima, dizendo que o Sol não apresenta nada de significativo, mas quando há a necessidade de se aprovar projetos de geoengenharia para os mirabolantes planos de tampar o Sol ou reduzir a sua ação, aí ela se torna importante!
O fato é que o ciclo solar 25 tem se apresentado bastante ativo, superando as expectativas apresentadas em seus prognósticos elaborados desde 2020, ocasião de seu início. Não somente a amplitude do ciclo completo não correspondeu ao que se esperava, mas também a rampante de elevação no início de seu ciclo de atividade (velocidade do aumento da atividade em relação ao tempo), os valores máximos diários e mensais, a perpetuação do pico do ciclo, bem como o alongamento da projeção de sua duração (figura 2).
Segundo o Observatório Real da Bélgica, a atividade solar, medida pela contagem do número de manchas solares, tem demonstrado que o ciclo 25 vem superando a atividade do ciclo anterior. Este fato tornou-se notável, pois se esperava que o longo período intermediário de ciclos de aproximadamente 90 anos se encerrasse no ciclo 25, tendo em vista que desde o ciclo 21, as amplitudes máximas vinham diminuindo.
Os últimos meses registraram uma maior atividade solar, provavelmente até o presente momento, a fase culminar do ciclo 25. Neste tempo, o fluxo da irradiância se apresentou levemente elevado, disponibilizando mais energia de ondas curtas para incidir sobre a superfície terrestre
No caso do Brasil, este quadro solar ocorreu no período de longa ausência de nebulosidade, especialmente de nuvens baixas, durante a estiagem. Com frações mais altas dessa energia chegando à superfície, tivemos uma resposta nas temperaturas do ar, apresentando valores mais altos. Isto é significativo, pois o que subiu foi o saldo de radiação de onda curta proveniente do Sol — e não a radiação de onda longa “reemitida” por CO2 ou “estufa”, como a hipótese sem fundamento do “aquecimento global” tanto prega. De qualquer forma, dedicaremos mais tempo para discutir esse assunto em ocasião oportuna, pois os trabalhos científicos que abordam o tema tem tomado a atenção ultimamente.
Enquanto isto, continuaremos nossos alertas para a estação chuvosa que se iniciará em breve em vários lugares do Brasil.
Legenda Fig.2:
Linha amarela — Contagem diária de manchas solares;
Linha azul — Média mensal de manchas solares;
Linha vermelha — Média mensal suavizada de manchas solares;
– – – – – SC — método prognóstico baseado em uma interpolação das curvas padrão de Waldmeier; Ele é baseado apenas na série de números de manchas solares; e
– – – – – CM – método prognóstico (de K. Denkmayr e P. Cugnon) combinando uma técnica de regressão aplicada à série de números de manchas solares com o índice geomagnético “aa” usado como precursor (previsões aprimoradas durante a fase mínima entre os ciclos solares).