Presidente do Banco Mundial se desculpa por parecer um 'cético do clima'

O presidente do Banco Mundial, David Malpass, disse nesta sexta-feira, 23, que nenhum acionista, que são os governos de  187 países, pediu sua renúncia e que não pretende deixar o cargo. Também declarou que acredita que as mudanças climáticas ocorrem pela ação humana.

A declaração foi dada ao jornal norte-americano Politico e se refere ao pedido de renúncia feito na quarta-feira 21, por organizações não governamentais (ONGs) ambientais, depois que Malpass se recusou a responder se acreditava no suposto consenso científico de que a ação humana, pelo uso de combustíveis fósseis, causa o aquecimento global.

Durante um evento organizado pelo jornal The New York Times e dedicado ao financiamento do combate ao aquecimento global, o presidente da instituição foi várias vezes questionado sobre o impacto dos combustíveis fósseis nas mudanças climáticas. Ele recusou-se a responder. Diante da pressão do público, o presidente do Banco Mundial declarou: “Não sou cientista”.

Agora, porém, diante da repercussão do caso — o pedido de demissão e a informação de que o enviado especial dos EUA para o clima, John Kerry, estava defendendo uma “grande reestruturação” no banco, Malpass parece ter se arrependido da polêmica declaração.

Na entrevista ao Politico, Malpass claramente voltou atrás e aderiu ao suposto consenso, mesmo sem ser cientista. “Olha, está claro que as emissões de gases de efeito estufa da atividade humana estão aumentando e causando as mudanças climáticas”, declarou. “Foi uma linha mal escolhida, lamento isso, porque nós, como organização, estamos usando a ciência todos os dias.” Ele também disse que, com certeza, aceitaria treinamento de cientistas do clima para melhorar seu conhecimento da ciência por trás das mudanças climáticas.

No mesmo evento em Nova Iorque, o ex-vice-presidente Al Gore tinha acusado Malpass de ser um “cético do clima” e foi isso o que motivou a insistência das perguntas sobre sua posição sobre mudanças climáticas.

Na entrevista desta sexta-feira, Malpass disse que não respondeu de maneira adequada. “Quando fui perguntado ‘Você é um negador do clima?’, eu deveria ter dito não”, declarou. Segundo ele, o incidente foi “infeliz”, porque o Banco Mundial está assumindo uma forte posição de liderança para lidar com as mudanças climáticas.

O presidente dos EUA, de longe o maior acionista do Banco Mundial, costuma nomear o chefe da instituição. Trump nomeou Malpass para um mandato de cinco anos, que termina em 2024. O governo Trump frequentemente contrariou os esforços internacionais para reduzir as emissões de carbono, enquanto o governo Biden fez da política climática uma prioridade.

“Esperamos que o Grupo Banco Mundial seja um líder global em ambição climática e na mobilização de mais financiamento climático para países em desenvolvimento”, disse o porta-voz do Departamento do Tesouro, Michael Kikukawa, respondendo a uma pergunta sobre a posição dos EUA quanto às declarações de Malpass. “Temos — e continuaremos — de deixar essa expectativa clara para a liderança do Banco Mundial.”

A secretária do Tesouro, Janet Yellen, se reuniu com os chefes de instituições financeiras multilaterais, incluindo o Banco Mundial, para pressioná-los a aumentar o financiamento em projetos relacionados com mudanças climáticas e mobilizar o capital privado para investimentos destinados a reduzir as emissões de carbono.

Leia também: O autoritarismo escondido numa ‘emergência climática‘, artigo de Brendan O’Neill publicado na Edição 123 de Oeste, e ‘Falar que o clima é controlado pela atividade humana é patético’, entrevista com o climatologista Ricardo Felício, publicada na Edição 73 de Oeste.