A nova espécie de dinossauro brasileiro Farlowichnus rapidus percorria um deserto com dunas no interior do Estado de São Paulo, no período Cretáceo inferior, há 135 milhões de anos. O carnívoro habitava na região onde hoje está a cidade de Araraquara.
A descoberta do animal envolveu pesquisadores da Universidade Federal de São Carlos (Ufscar) e da Universidade do Rio de Janeiro (UFRJ). Além disso, foi publicada na revista científica Cretaceus Research.
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Segundo o pesquisador Marcelo Adorna Fernandes, professor do Departamento de Ecologia e Biologia Evolutiva da Ufscar, o predador tinha cerca de 90 centímetros de altura, 1,5 metro de comprimento e foi identificado por meio das pegadas que deixou nas rochas usadas para construir as calçadas de Araraquara.
Os passos mostraram que o dinossauro jovem possuia uma adaptação boa ao clima seco e de duna, o que corresponde às formações geológicas da região à época.
O nome da nova espécie é em homenagem ao pesquisador norte-americano James Farlow, que também era um corredor. Esse é o segundo animal identificado no Paleodeserto Botucatu, o grande deserto fóssil que existiu no interior.
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Segundo o professor universitário, em 1981, havia a descrição de um Brasilichnium elusivum, um mamífero saltador, por meio do missionário e paleontólogo italiano Giuseppe Leonardi, também com base nas pegadas de Araraquara.
Agora a descrição do dinossauro foi formalizada, pois antes havia apenas a ocorrência informal de dinossauros carnívoros. Conforme o paleontólogo, o ângulo do passo de mais de 170 graus indica que o animal estava correndo pelas paleodunas, por isso, o “rapidus” no nome.
“O que o difere dos demais é que o dinossauro produtor dessas pegadas de três dedos, em forma de gota, ou seja, dedos bem juntinhos, possuía o segundo dedo do pé bem maior, mas com uma característica monodáctila, ou seja, apoiava sempre o peso do corpo no dedo mediano, que era o maior dentre os três dedos”, contou, segundo o jornal O Estado de São Paulo.
A descoberta dos dinossauros de Araraquara aconteceu em 1976, quando Leonardi andava pelo município e viu as marcas nas lajes das calçadas. Ele então recolheu as amostras dos vestígios e as guardou até voltar ao Brasil para terminar a pesquisa.
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O professor universitário estuda há anos pesquisas sobre o material, já usado como calçamento em São Carlos e até em calçadas do Zoológico da capital paulista.
Ao lado de sua mulher, Luciana Fernandes, que também é pesquisadora, o professor encontrou os melhores exemplares das pegadas, permitindo a descrição formal do autor delas com exatidão.
“Além disso, encontramos na pedreira São Bento, em Araraquara, diversas trilhas de dinossauros terópodes, desde os menores, que provavelmente eram do tamanho de um pombo, até esse do trabalho que, adulto, poderia atingir 3,5 m de comprimento”, contou. “Então descobrimos uma série ontogenética, desde os filhotes, até os adultos que habitaram o paleodeserto de Botucatu durante o Cretáceo inferior.”
Conforme Fernandes, o dinossauro em questão poderia ser um noassaurídeo, parecido com o Vespersaurus, cujos osssos foram encontrados no Estado do Paraná, em outra formação geológica.
“Fósseis de dinossauros carnívoros são raros no Brasil, talvez pela fragilidade dos ossos em se preservarem ao longo de milhões de ano, mas também em virtude da competição por nicho ecológico entre os predadores de topo que existia por aqui, especialmente crocodilos terrestres de grande porte”, continuou.
Número de dinossauros brasileiros cresce com descoberta
A descoberta do dinossauro Farlowichnus rapidus faz a lista da espécie aumentar no Brasil. Já são cerca de 30 descritos formalmente. Em 2023, uma equipe de pesquisadores da Universidade de São Paulo e de outras faculdades brasileiras descreveu e identificou o Ibirania parva, um dinossauro herbívoro da família dos titanossauros.
O animal tinha pouco mais de cinco metros de comprimento, o que o tornou pequeno perto dos parentes maiores. Os fragmentos fósseis do animal foram descobertos em 2005 por Fernandes.
Ele ainda foi o primeiro a identificar e descrever um urólito, xixi fóssil de dinossauro, nas pedras de Araraquara. Conforme o professor universitário, ainda existe muita pesquisa pela frente. “Ainda falta a descrição formal dos ornitópodes (herbívoros)”, contou.
Marta Suplicy.