No domingo 10, o jornal britânico The Guardian publicou as primeiras de uma série de reportagens sobre práticas ilegais e métodos agressivos da Uber para se instalar e se firmar em diversas cidades do mundo. Chamadas The Uber Files, as matérias foram produzidas pelo periódico inglês em parceria com dezenas de outros veículos jornalísticos membros do ICIJ, o Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos, na sigla em português, incluindo o francês Le Monde e a também britânica BBC, a partir de 124 mil documentos sigilosos da empresa, incluindo e-mails, mensagens de texto via operadoras de celular e WhatsApp, além de relatórios internos da plataforma entre 2013 e 2017.
O responsável pelo vazamento é Mark MacGann, um irlandês de 52 anos, poliglota e detentor uma impressionante rede de relacionamentos e contatos cultivados ao longo de duas décadas de lobby. Ele trabalhou na Uber entre 2013 até 2017, ao lado do cofundador da plataforma, Travis Kalanick, o principal implicado nas acusações. Encarregado de influenciar e persuadir poderosos e tomadores de opinião de mais de 40 governos da Europa, Oriente Médio e África a fim de favorecer a Uber, MacGann disse que vazou os documentos movido pelo remorso, pois sabia que a empresa havia desrespeitado as leis e enganado as pessoas sobre os benefícios do seu modelo de negócios deliberadamente.
O executivo, que fazia parte da equipe principal da Uber, afirmou na entrevista ao The Guardian que não se considera isento de culpa. “Eu sou parcialmente responsável. Fui eu que conversei com os governos, que disse às pessoas que deveriam mudar as regras porque os motoristas se beneficiariam, que assim as pessoas teriam muitas oportunidades econômicas”, disse. Além de detalhar conversas com altas figuras da política mundial, MacGann também revelou o que parece ser a mais grave transgressão da Uber no processo de entrada nos novos mercados: o uso e, sob certo ponto de vista, o incentivo dos conflitos violentos entre motoristas do aplicativo e taxistas em várias cidades do mundo como uma estratégia publicitária a favor da plataforma.
O executivo fala que a empresa adotou uma “estratégia de confronto” com adversários do setor de táxi, o que pode ser verificado nos documentos vazados. Em uma troca de mensagens, Kalanick parecia encorajar os executivos a enviarem motoristas do Uber para um protesto na França. MacGann e outros executivos alertaram, também por mensagens, que essa prática poderia colocar os trabalhadores em risco. Kalanick respondeu: “Acho que vale a pena. A violência garante o sucesso.” Em razão desses confrontos, MacGann disse ter sofrido ameaças de morte e, por isso, precisou andar com guarda-costas. Tal situação, disse ele, contribuiu para um diagnóstico de transtorno de estresse pós-traumático (TEPT).
O porta-voz de Kalanick declarou que ele “nunca sugeriu que a Uber deveria tirar vantagem da violência em detrimento da segurança do motorista”. A Uber, em nota, afirmou que MacGann não tem credibilidade para falar de assuntos passados. Sobre as denúncias, a empresa admitiu ter cometido erros e equívocos, mas assegurou que essas práticas não ocorrem desde 2017, quando Dara Khosrowshahi assumiu a liderança da companhia.
Intenção era quebrar a lei
Na entrevista, o ex-executivo da Uber também detalha sua missão, que, num primeiro momento, era desrespeitar leis locais e, posteriormente, convencer autoridades políticas a permitirem a entrada dos serviços da plataforma. O objetivo era, com o tempo, monopolizar cidades, transformar sistemas de trânsito e, um dia, substituir motoristas por veículos autônomos. “A abordagem da empresa nesses lugares era essencialmente quebrar a lei, mostrar o quão incrível era o serviço da Uber e depois mudar a lei. Meu trabalho era passar por cima das autoridades da cidade, construir relações com o mais alto nível do governo e negociar. Foi também para lidar com as consequências”, afirmou.
MacGann disse que a maioria dos políticos de alto escalão apoia instintivamente a Uber – enxergam a empresa como uma plataforma inovadora, que permite um trabalho flexível, que pode contribuir reanimar as economias após a crise financeira. O executivo afirma que conversou com o presidente da França, Emmanuel Macron, quando ele era ministro da Economia, sobre a Uber. Os documentos revelam, também, ajuda de outros políticos, como o presidente americano Joe Biden, que era, à época, vice-presidente de Barack Obama.
Não se fazem omeletes sem quebrar ovos! Poucos tiveram de perder, ou a chance de mudar, para que milhões ganhassem! Os fisiologistas em todas as áreas, sempre farão barulho.
Sinceramente, não vi nada que desmereça o Uber. É risível ele atribuir os problemas com os taxistas à direção da empresa. Aconteceu igual no início do século passado, quando os carroceiros e cocheiros incendiavam os postos de gasolina, por medo de perder seu negócio (e perderam). O modelo de negócio é bom, e foi aceito por todos, inclusive com o surgimento de concorrentes. Não vou elencar as vantagens dos aplicativos para não alongar o post. Parece mais ressentimento…
Já havia percebido que a Uber é uma empresa de viés progressista, então não me surpreende a canalhice.