Em entrevista concedida ao Oeste sem Filtro nesta terça-feira, 18, o ex-presidente Jair Bolsonaro comentou a recente decisão do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) em licenciar-se de seu mandato para permanecer nos Estados Unidos, onde deve intensificar sua agenda pela anistia aos presos do 8 de janeiro junto aos políticos norte-americanos.
Bolsonaro recorda que a decisão de Eduardo resulta de um pedido do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), para apreender o passaporte do deputado, mesmo com parecer contrário da Procuradoria-Geral da União (PGR).
“Ele resolveu estar com toda a família lá e permanecer por lá”, nos EUA, diz Bolsonaro. “Ele vai fazer aquilo que sua consciência manda fazer: buscar maneiras de botar um ponto final nessas covardias que fazem aqui no Brasil contra o cidadão de bem.”
“Eu prefiro ele livre nos Estados Unidos do que sendo ameaçado aqui dentro do Brasil”, disse Bolsonaro. “Da minha parte, todo o apoio ele vai ter.”
Como exemplo dessas “covardias”, Bolsonaro citou as prisões do 8 de janeiro. “Não se condena até 17 anos de cadeia pessoas que nunca viram uma arma na sua frente”, disse. “Muitas nem estavam em Brasília, ou nem estavam na região da Praça dos Três Poderes.”
Esta acusação acarreta na responsabilização de Bolsonaro, apontado pela denúncia como o “mentor” do suposto plano golpista. “[Moraes] vai levando avante essa proposta de buscar eliminar a direita no Brasil”, disse o ex-presidente. “Segundo me consta, a minha eliminação — da minha liberdade ou física — seria o ponto máximo do Alexandre de Moraes.”
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“Pelo que parece, Alexandre de Moraes quer me ver longe de uma possível disputa no ano que vem”, disse Bolsonaro. “Porque viram que estão bem fragilizadas as duas inelegibilidades”
Hoje, Bolsonaro está inelegível em dois processos: por abuso de poder político, ao denunciar a possibilidade de fraude das urnas eletrônicas durante reunião com embaixadores, em julho de 2022; e por abuso de poder econômico, por ter subido em um carro de som particular durante um desfile de 7 de setembro.
“Como isso fica bastante frágil e dá pra ser derrubado, porque se muda a composição de tribunais, decidiram partir para o ‘tudo ou nada’, com essa história sem pé nem cabeça de golpe”, disse o presidente, que garantiu que não sairá do Brasil em caso de condenação.
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“Usando a força jurídica, lawfare, acabam tirando do páreo quem eles querem tirar”, disse Bolsonaro, que considera ser o candidato que melhor performa contra a esquerda nas próximas eleições. “O ideal para a esquerda é concorrer sem eu do outro lado, porque comigo vai ser muito mais difícil a esquerda vencer aqui no Brasil.”
Bolsonaro deve ser julgado daqui a uma semana, na próxima terça-feira, 25. “A justificativa é que eles querem iniciar 2026 já com essa questão resolvida”, disse Bolsonaro, que confessou que seus advogados estão preocupados.
Bolsonaro: “Foi um evento fantástico”, sobre ato em Copacabana
O presidente celebrou o sucesso do ato pela anistia em Copacabana, no Rio de Janeiro. Ele ressaltou que, além dos manifestantes presentes, houve cerca de 3 milhões de espectadores pelas transmissões ao vivo. “Foi um evento fantástico”, avaliou. “Quem consegue botar gente na rua hoje em dia? Só nós.”
Ele ainda desafiou seus opositores de esquerda, que convocaram uma manifestação contra a anistia e pela prisão de Bolsonaro no dia 30 de março, na Avenida Paulista, em São Paulo. “Vamos ver quantos eles vão botar lá, e quantos nós botaremos dia 6 de abril, também na Paulista”, disse.

O ex-presidente também garantiu o apoio do PSD, partido com 11 senadores e 44 deputados federais, para o projeto da anistia. “Ele [Gilberto Kassab, presidente do PSD] sinalizou para que o partido votasse ao nosso favor”, disse.
Bolsonaro também acredita no apoio do PP — que conta com uma bancada formada por 50 deputados e seis senadores — e aguarda o “sinal verde” do Republicanos, que conta com 44 deputados e quatro senadores.
Com saída de Eduardo, Barros assume candidatura à presidência da Creden
Bolsonaro anunciou que, com a permanência de Eduardo nos EUA, o candidato do PL à presidência da Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional (Creden) será Filipe Barros (PL-PR).
O ex-presidente destaca que a comissão é responsável por analisar acordos de extração de minerais pela China em terras brasileiras. “A China não tem material suficiente e veio aqui buscar o nosso urânio“, denuncia. “Comigo, esse acordo não seria assinado.”
No âmbito internacional, Bolsonaro ainda disse ser grato ao presidente norte-americano, Donald Trump. “Ele convidou apenas quatro chefes de Estado, e convidou a mim também”, recorda, por ocasião da sua posse presidencial.
“Infelizmente, não tinha nada contra mim, a não ser essas denúncias absurdas, que só passam na cabeça de quem beira ser um débil mental, para dizer que houve uma tentativa de golpe no 8 de janeiro”, disse Bolsonaro.
Bolsonaro ainda classificou como “impossível” que o Brasil se pacifique naturalmente. “Não temos, no momento, como buscar paz, tranquilidade e democracia internamente, é impossível”, disse o ex-presidente. “Precisamos de ajuda de fora.”
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