Herdeiros ideológicos de Getúlio Vargas, João Goulart e Leonel Brizola estão se mobilizando para refundar o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB). Dessa vez, de volta às origens de esquerda.
O PTB deixou de existir em novembro, quando o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) aprovou a sua fusão com o Patriotas. Ambos deram lugar para o Partido da Renovação Democrática.
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Até o ano passado, a sigla estava sob comando do ex-deputado federal Roberto Jefferson. Ele foi preso em outubro de 2022, quando recebeu policiais federais, que realizariam uma operação em sua casa, a tiros e granadas.
Do bolsonarismo ao brizolismo
Com “Bob Jeff” no comando, o partido havia se aproximado de Jair Bolsonaro. A legenda abrigou aliados do ex-presidente como Fabrício Queiroz e o ex-deputado Daniel Silveira, preso a mando do Supremo Tribunal Federal.
A recriação do PTB “raiz” é encabeçada pelo ex-deputado constituinte Vivaldo Barbosa, presidente do partido. Em 1983, ele foi secretário da Justiça do primeiro governo Brizola, no RJ.
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“Já somos partido registrado no cartório, a sigla é nossa”, assegurou Barbosa em declarações à Folha. “Vamos recuperar o trabalhismo de verdade.”
O dirigente também garante a capilaridade do PTB, que já estaria presente em 20 estados. “Só nos falta RR, RO, MT, MS PA e SE”, disse.
Criado por ex-ditador, partido foi objeto de disputa
Getúlio Vargas, ex-presidente e ditador brasileiro, fundou o PTB original. Posteriormente, a ditadura militar o fechou, junto com outros partidos.
Ivete Vargas, sobrinha-neta de Getúlio, refundou a sigla em 1980, durante a reabertura democrática. Mais tarde, ela e Brizola travariam uma disputa judicial pelo direito ao comando do PTB.
À época, o TSE julgou em favor de Ivete. Arrasado, Brizola teve de seguir outro caminho, criando o Partido Democrático Trabalhista (PDT).
Sob a direção de Ivete, então, o PTB alinhou-se ao Partido Democrático Social. Esta sigla era a “herdeira” da Aliança Renovadora Nacional (a Arena), partido da situação ao longo do regime militar.
O novo PTB, de 2023, conta também com novo estatuto. O documento estabelece como norte “os princípios da democracia, o nacionalismo, o trabalhismo e do socialismo”.
Partido agora busca 500 mil assinaturas válidas
Com o registro do partido aprovado pelo TSE, vem a parte mais desafiadora. Para existir “de fato”, ou seja, poder disputar eleições e receber verbas públicas, o novo partido precisa coletar 500 mil assinaturas de eleitores por todo o Brasil.
No entanto, não basta coletar, é preciso validar junto aos respectivos cartórios eleitorais de cada eleitor, de modo que as assinaturas nas fichas de apoio batam com as registradas em cartório.
Além disso, cada ficha é válida por apenas dois anos. E mesmo antes de essa regra vigorar, houve casos, como o Partido Novo, em que se coletou mais de um milhão de assinaturas para se conseguir validar o meio milhão que a lei eleitoral exige.