Deputados do PSD, União Brasil e PL recusam-se a apoiar um indicado do PT para a vaga de ministro do Tribunal de Contas da União (TCU), que será disponibilizada com a aposentadoria do ministro Aroldo Cedraz. Com isso, o acordo articulado pelo presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta, com o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) está ameaçado. A reportagem é do jornal Folha de S.Paulo.
A vaga só ficará aberta em fevereiro de 2026, mas a disputa foi antecipada devido a um pedido do PT no ano passado. Agora, outros partidos reagem e tentam reivindicar o cargo.
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Motta se comprometeu com os petistas a viabilizar a eleição de um nome do partido para a função, que tem caráter vitalício, remuneração de R$ 41,8 mil por mês e autoridade para deliberar sobre contratos e licitações governamentais.
Em troca, o PT e o governo se abstiveram de fomentar candidaturas concorrentes à presidência da Câmara e apoiaram a campanha de Motta, o que levou os líderes do União Brasil e do PSD a desistirem da disputa.
O compromisso com os petistas em relação ao TCU foi firmado por Motta e pelo ex-presidente da Câmara Arthur Lira (PP-AL) e reforçado em reuniões recentes com deputados. A condição estabelecida foi que o PT escolhesse um nome moderado, afastado das alas mais ideológicas, a fim de facilitar a aprovação no plenário, cuja maioria dos parlamentares pertence à centro-direita ou à direita.
O compromisso também prevê que, posteriormente, o PT retribua com apoio a um nome escolhido por esses partidos para outra vaga, que será aberta com a aposentadoria do ministro Augusto Nardes. Ele terá saída obrigatória em outubro de 2027, ao completar 75 anos, mas existem tratativas para que sua saída seja antecipada ou para que a escolha do substituto ocorra antes do término de seu mandato.
Deputados de outras legendas, porém, afirmam que não participaram desse acordo e articulam candidaturas próprias nos bastidores. Atualmente, pelo menos seis deputados buscam apoio para disputar a vaga na Corte de Contas.
A escolha ocorre por meio de voto secreto no plenário da Câmara, em turno único, o que torna o resultado mais imprevisível. O vencedor ainda precisa ter seu nome ratificado pelo Senado.
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“Não tem esse acordo”, disse deputado Sidney Leite (PSD-AM) em entrevista à Folha. “E, mesmo se tiver acordo na cúpula da Câmara, a bancada do PSD não vota no candidato do PT.”
Segundo Leite, a razão para essa posição é a insatisfação do PSD com a falta de apoio dos petistas à candidatura do líder do partido na Câmara, Antonio Brito (PSD-BA), à presidência da Casa. Ele também criticou o fato de o PT ter submetido Brito e outros deputados da legenda a uma “sabatina”, mesmo depois de já ter decidido apoiar Motta.
Dois dos interessados na vaga são do PSD do Rio de Janeiro: os deputados Pedro Paulo e Hugo Leal. O partido busca um consenso interno para definir qual dos dois será o candidato. “Vamos dialogar com os outros partidos e fazer uma discussão interna, mas o PSD com certeza terá um candidato”, disse Leal.
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Pedro Paulo declarou que parte da bancada o incentivou a concorrer e que está avaliando a possibilidade.
“O primeiro aspecto é político: não existe compromisso de apoiar a candidatura do PT ao TCU”, disse. “O segundo é que o partido tem posições sobre a agenda econômica, a agenda fiscal, a agenda de contas públicas, que têm sido marcadamente diferentes do que tem sido a agenda fiscal do PT.”
Outros deputados que estão se movimentando nos bastidores para disputar a vaga, segundo interlocutores, são Danilo Forte (União Brasil-CE), Elmar Nascimento (União Brasil-BA), Soraya Santos (PL-RJ) e Hélio Lopes (PL-RJ).
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Elmar Nascimento pretendia concorrer à presidência da Câmara, mas desistiu depois de perder o apoio de Lira para Motta e não conseguir unir o governo em torno de seu nome.
Em entrevista à Folha, ele não descartou disputar a vaga no TCU, mas afirmou que tomará uma decisão “no momento certo”, pois a eleição “envolve uma série de outros fatores”. Ele também ressaltou que haverá duas vagas em disputa.
Uma das interessadas na vaga era a presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR), que nesta segunda-feira, 10, assumiu o cargo de ministra da Secretaria de Relações Institucionais, pasta responsável pela articulação política do governo.
Deputados do centrão já haviam aconselhado a ela que desistisse da candidatura ao TCU, por ser fortemente associada à esquerda e suscetível a resistências no plenário.
PT tem favorito para disputar vaga no TCU
O favorito no PT para disputar a cadeira no TCU é o deputado Odair Cunha (MG), ex-líder da legenda na Câmara e visto como um nome mais moderado.
Cunha selou a aliança com Motta e participou de viagens e eventos ao lado dele durante a campanha, fortalecendo seu nome nos bastidores. Procurado pelo jornal, ele preferiu não comentar as candidaturas avulsas e destacou que a eleição ainda está distante.
O receio dos petistas é repetir os resultados das duas vagas abertas no primeiro mandato de Lula, ambas de indicação da Câmara. Em 2005, Augusto Nardes (então no PP-RS) venceu o deputado José Pimentel (PT-CE) por 203 votos a 137. No ano seguinte, Aroldo Cedraz, na época no PFL, recebeu 172 votos, contra 148 de Paulo Delgado (PT-MG).
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Para evitar um novo revés, os petistas contam com a intermediação de Motta e Lira para desestimular candidaturas concorrentes. Uma das estratégias cogitadas é antecipar a eleição para 2025, de modo a distanciá-la da polarização da disputa presidencial.
O Brasil não evolui mesmo. O Brasil só anda a base de acordos. É um toma lá da cá q chega a dar nojo. Ninguém em Brasília entende do básico que é a MERITOCRACIA. Todos se fazem de bobo.