Senadores da Comissão de Agricultura e Reforma Agrária criticaram a falta de uma posição contundente do governo Lula contra as invasões de terra, que aumentaram significativamente desde que o petista tomou posse. Eles fizeram questionamentos aos ministros da Agricultura, Carlos Fávaro, e do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira, que participaram de audiência pública na comissão nesta quinta-feira, 4.
O senador Sergio Moro (União-PR) lembrou que em vez de condenar as invasões, o presidente Lula dá sinais em sentido contrário. Um deles foi levar, na comitiva oficial da viagem à China, o líder do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), João Pedro Stédile, no mês passado, enquanto o MST promovia o “Abril Vermelho”, invadindo terras em todo o país.
“O que nós vemos são sinais contraditórios. Ao mesmo tempo que se faz invasão de terra aqui no país, o presidente leva o líder do MST numa viagem internacional, dando àquela liderança uma posição de prestígio”, disse Moro. “A gente não encontra uma explicação pela omissão do presidente”, afirmou o senador, destacando que Fávaro, em pronunciamentos anteriores, condenou as invasões. “Vossa Excelência parece uma voz isolada no governo.”
Jorge Seif (PL-SC) alertou sobre a possibilidade de conflitos violentos no campo. “Eu quero saber quando o governo vai se manifestar dando um basta nessas manifestações que podem promover mortes, conflitos, problemas gravíssimos, sociais, e não vemos uma posição contundente do governo”, declarou Seif.
“Se não tivermos uma providência urgente, nós podemos ter conflitos e talvez até mortes no campo”, afirmou Jaime Bagattoli (PL-RO).
‘Voz isolada’ contra as invasões
Fávaro, apesar das evidências, disse que não é uma “voz isolada” no governo. “Posso garantir que não.” Ele citou os ministros Paulo Teixeira e Alexandre Padilha, das Relações Institucionais, como membros do primeiro escalão que teriam condenado as invasões. Padilha e Teixeira, no último fim de semana, participaram de evento promovido pelo MST, em São Paulo. A fotografia do clima amistoso foi postada nas redes sociais.
Fávaro justificou a ausência de uma fala contundente de Lula contra as invasões alegando que o presidente quer diálogo. “O presidente vem dizendo que não quer colocar gasolina no fogo. Diz: ‘busquem a negociação, busquem a paz’ e é isso que nós estamos fazendo”, contemporizou o ministro.
‘Ninguém reclama que tinham 110 empresários’
Fávaro também tentou atenuar o impacto do convite de Lula a Stédile para integrar a comitiva oficial à China. “É um governo de diálogo, um governo que diz ‘vamos viajar juntos, vamos conhecer novas tecnologias, vamos conhecer novos modelos de produção’”, justificou o ministro.
“Ninguém reclama que tinham lá, só na delegação do Ministério da Agricultura 110 empresários pequenos, médio e grandes na busca de oportunidades na China”, comparou, esquecendo que nenhum desses empresários é acusado de invasão de propriedades particulares.
Cobrar do chefe do MST para ser contrário ao que ele mesmo determina é um tanto esquisito.