O governo federal contratou uma empresa “laranja” para realizar a manutenção da Penitenciária Federal de Mossoró (RN), onde dois presos ligados ao Comando Vermelho (CV) fugiram, em 14 de fevereiro. O dono da companhia, cujo faturamento anual é de R$ 195 milhões, recebeu auxílio emergencial e mora em uma periferia de Brasília.
Além disso, conforme o jornal O Estado de S. Paulo, ele não soube dar detalhes sobre as operações da empresa.
Governo federal assina contrato com empresa “laranja”
A contratação da R7 Facilities, com sede em Brasília, ocorreu em abril de 2022, na gestão de Anderson Torres, então ministro da Justiça. Um ano depois, em abril de 2023, o contrato foi prorrogado na gestão de Flávio Dino no comando da pasta.
Contudo, ambos os ex-titulares das pastas não assinaram diretamente os contratos. A tarefa esteve sob a responsabilidade dos setores que cuidam de presídios no ministério.
A suspeita, segundo o Estadão, é que uma das obras teria facilitado a fuga dos criminosos, a primeira da história dos presídios federais de segurança máxima no país. Rogério da Silva Mendonça, o Tatu, e Deibson Cabral Nascimento, o Deisinho, ainda não foram encontrados, e as buscas entraram no 7º dia nesta quarta-feira, 21.
Saiba mais: “Fuga em Mossoró leva crise ao ministério de Lewandowski“
O contrato para a obra de manutenção em Mossoró era de R$ 1,7 milhão. A companhia informou, em balanços de 2023, ter R$ 353 milhões em contratos ativos com os setores público e privado.
Quem é o “laranja” da empresa
Apesar do tamanho da companhia contratada pelo Ministério da Justiça, o sócio-administrador é Gildenilson Braz Torres, de 47 anos. Conforme o Estadão, ele é um técnico de contabilidade e recebeu 12 parcelas do auxílio emergencial, pago a cidadãos em vulnerabilidade financeira durante a pandemia do covid-19.
Ainda de acordo com o jornal, Gildenilson mora em uma casa simples no Riacho Fundo, região periférica do Distrito Federal. Além disso, a publicação informa que Gildenilson tem uma dívida de mais de R$ 8 mil com o governo do Distrito Federal, com bens bloqueados pela Justiça.
Leia mais: “Imagens mostram cela de onde presos fugiram no presídio de Mossoró (RN)”
Diante de todo o histórico, que contradiz a sua posição de dono da empresa milionária, ele afirma ter um escritório de contabilidade no Núcleo Bandeirante. No entanto, não há evidências da presença da R7 Facilities no local.
Antes de Gildenilson, o proprietário da empresa era Wesley Fernandes Camilo, bombeiro civil, que assinou o contrato com o antigo Departamento Penitenciário Nacional, atual Secretaria Nacional de Políticas Penais (Senappen), em 2022.
Wesley repassou a empresa para Gildenilson sem desembolsar nada, mas com a intenção de trabalhar para recuperar os créditos. O brigadista negou ser um “laranja”. Atualmente, Wesley trabalha em um hospital particular de Brasília, com renda mensal de R$ 4 mil.
Leia também: “Câmeras do presídio de Mossoró estavam com defeito desde 2023, indica relatório”
Ainda segundo o jornal paulistano, Wesley mora numa casa em Ceilândia, uma das regiões mais pobres do Distrito Federal. Ele possui um carro avaliado em R$ 111 mil, que está em nome da R7 Facilities.
Reposta da empresa e do Ministério da Justiça
Ao Estadão, o Ministério da Justiça afirmou que vai acionar os órgãos competentes para investigar internamente o caso. A pasta ressaltou que, durante o contrato em 2022, a empresa atendeu a todos os requisitos técnicos, apresentou as certidões necessárias e cumpriu as obrigações solicitadas.
+ Leia mais notícias da Política em Oeste
A R7 Facilities alegou, por sua vez, que a reportagem de O Estado de S. Paulo foi “imprudente” ao classificar o dono como “laranja”. Porém, a empresa não esclareceu os questionamentos nem as informações sobre a atuação no Presídio Federal de Mossoró.
Segundo o Estadão, contratos como o da R7 Facilities são comuns na administração de presídios. Isso facilita a manutenção periódica sem a necessidade de licitações frequentes. No entanto, para especialistas, é fundamental garantir que as empresas contratadas estejam regularmente constituídas e cumpram todas as exigências.
Leia também: “Aqui é permitido roubar”, artigo de J. R. Guzzo publicado na Edição 190 da Revista Oeste
É simples saber que é o verdadeiro dono da empresa, é só ir ao banco aonde a empresa tem conta e ver que é o responsável financeiro da empresa.