Neste sábado, 13, o movimento Democracia sem Fronteiras completa dois anos. O grupo criado em Brasília é encabeçado por dois jovens e realiza ações para conscientizar o público sobre a importância do regime democrático. Ainda pequena, a iniciativa não têm vinculação partidária e usa recursos próprios para realizar os atos, que consistem em projeções de luzes em prédios públicos.
Oeste conversou com o presidente do movimento, Jorge Santos, 27, e o porta-voz, Rafael Calixto, 24. Eles detalham a ideia do grupo e explicam como surgiu a iniciativa. A principal crítica do Democracia sem Fronteiras é ao comunismo e, por isso, concentra suas manifestações contra a ditadura chinesa.
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“Somos contra o comunismo. Porque falamos mais da China? Porque é o maior país dentre os quais não possuem democracia. Perto de todos os comunistas, é o país com o maior poder financeiro”, afirma Jorge Santos.
Leia os principais trechos da entrevista
Como surgiu a ideia de criar o movimento Democracia sem Fronteiras?
Jorge Santos – Sempre gostamos de política e o movimento começou a partir de uma conversa entre amigos sobre a conjuntura internacional. O Democracia Sem Fronteiras surgiu um ano depois das eleições de 2018, em que houve esse embate entre esquerda e direita no Brasil, sendo que a esquerda é muito voltada para o comunismo. Percebemos que o nosso país é carente de um movimento que luta pela democracia internacionalmente. Em relação ao comunismo, temos medo que isso possa vir para o Brasil, principalmente porque o nosso maior parceiro comercial, a China, é comunista, com muita influência aqui. Aproveitamos o gancho de que um mês depois, em novembro de 2019, ocorreria um encontro dos Brics [grupo de países que reúne a China, Brasil, Índia, Rússia e África do Sul] aqui em Brasília e poderíamos começar muito bem, pois o presidente da China estaria presente.
Como foi este primeiro ato em protesto ao presidente chinês Xi Jinping?
Jorge Santos – Deu medo no início, pois eram muitos chineses fazendo a escolta dele. Mas o ato foi muito bom, foi publicada uma foto inclusive na Revista Forbes dizendo que um grupo pró-democracia fez um ato na recepção do presidente chinês no Brasil. Nós inflamos um ursinho Pooh, que é o nosso símbolo, pois na China ele é proibido já que o Xi Jinping não gosta de ser comparado ao personagem. Falaram que os dois são parecidos e ele proibiu o personagem da Disney. Para satirizar, inflamos um Pooh gigante no aeroporto e, devido a isso, até a rota dele foi mudada.
O Democracia Sem Fronteiras tem apostado no setor visual, fazendo projeções principalmente em prédios públicos famosos. O que vocês buscam com isso?
Jorge Santos – Nosso intuito é atrair as pessoas, trazê-las para o nosso movimento, alertá-las do perigo que o Brasil pode vir a sofrer um dia, que é a falta de democracia. Por mais coisas ruins que o nosso país tenha, uma coisa excelente que conquistamos é a nossa democracia.
Rafael Calixto – Os nossos principais atos são as projeções, principalmente no Congresso, que representa o poder do país, e assim podemos chamar a atenção. Na pandemia, fizemos algumas manifestações no gramado da Esplanada simbolizando o número de mortes para mostrar a responsabilidade da China nisto. As frases que projetamos pedem a liberdade religiosa para os povos cristãos ou mulçumanos. Pedimos também liberdade de imprensa.
Como o Democracia Sem Fronteiras vê o papel da China no mundo? Por ser o maior nosso maior parceiro comercial, o Brasil deixa de fazer críticas que são necessárias?
Rafael Calixto – Acredito que a imprensa e boa parte dos políticos têm muito medo do que vão falar da China por conta de possível retaliação na parte econômica. Por Pequim ocupar esta posição de grande compradora de produtos principalmente do nosso agronegócio, o Brasil pisa em ovos do que vai falar em relação à China. Muitos pensam como o Democracia sem Fronteiras, mas têm medo de falar justamente com medo de prejudicar a economia. O nosso movimento em nenhum momento pauta que sejam cortadas as relações com a China, mas não podemos ser cegos com o que está acontecendo lá, como o cerceamento da liberdade religiosa, de imprensa e de manifestação.
Jorge Santos – O Brasil tem de ter mais maturidade, tem de se impor mais, não pode ficar tão dependente. Precisamos muito deles sim na parte financeira, mas eles dependem da gente, afinal, se eles compram centenas de bilhões de dólares do Brasil, é porque precisam. Se o Brasil parar de vender para eles, a China sofrerá mais com a fome, por exemplo. Nosso ataque é ao governo chinês, nunca ao povo chinês, é importante deixar isso claro, pois muitos já confundiram dizendo que atacamos os chineses. Pelo contrário, somos solidários a eles em relação ao seu governo.
Como avaliam a postura do governo Bolsonaro em relação à China?
Rafael Calixto – Você tem alas no governo, a mais ideológica o tempo inteiro está falando sobre a China, o vírus chinês, tudo isso. Já tem um outro grupo que acha melhor não tocar nessas questões pois vão atrapalhar as exportações. Mas em si é um governo que a gente entende que vai em uma linha de não concordar com o que está sendo feito na China ou em outros países, como Venezuela e Cuba. A questão é que, dentre todos os países ditatoriais, a China é o que tem o maior potencial financeiro, sendo o mais perigoso em relação a isso.
Vocês adotam a estratégia de projetar frases também em outros idiomas?
Jorge Santos – Nas mídias internacionais não, mas nas redes sociais, sim. Por exemplo, está tendo um movimento “Free Hong Kong” em Londres. A organizadora conversa conosco e ela chegou até nós por meio das nossas hashtags em inglês, então já estamos começando a estabelecer esta parceria. Além disso, pessoas em Hong Kong chegaram a curtir ou comentar fotos nossas graças a essa estratégia. No Dia da Democracia, 15 de setembro, projetamos no Museu Nacional da República frases como “Free Woman”, ou seja, “Mulheres Livres”; “Cuba Libre”, mostrando apoio ao povo cubano; “Religious Freedom”, pedindo liberdade religiosa para os mulçumanos uigures que estão em campos de “reeducação” na China. Também apoiamos os movimentos que começaram em Hong Kong e buscaram se livrar da opressão do governo chinês.
Na visão do Democracia Sem Fronteiras, quais casos o mundo precisa ficar mais atento em relação a violações às liberdades na China?
Rafael Calixto – A questão da liberdade no geral. A religião é um exemplo. Para se ter uma noção, a Apple foi obrigada a tirar do ar na China um aplicativo da Bíblia. É um absurdo a pessoa não poder ter a liberdade de ser cristã. Ficamos muito espantados e com medo que isto se alastre para outros países.
Jorge Santos – Na China os jornalistas não têm nenhuma liberdade de trabalho. Não se pode fazer uma reportagem do que o governo erra. Você não tem vida. Não tem bem maior para uma pessoa do que a liberdade. Twitter, Google e outras empresas deste tipo não existem lá. O que nós queremos é questionar as pessoas: “É bom isso? É isso que vocês querem para o mundo ou para o Brasil?”.
Trazendo a discussão para a América Latina. Vocês também chamam a atenção para a situação dramática que vive a Venezuela sob a ditadura de Nicolás Maduro?
Rafael Calixto – Há 10 anos era um país muito rico graças ao petróleo. Não se imaginava que poderia passar pela situação atual. É muito triste. Em Roraima, os venezuelanos estão fugindo por ali porque não suportam ficar no país deles. Alguns eram milionários lá e vieram pobres para cá. Na América Latina também temos Cuba, um país atrasado que parou no tempo, que tem embargo dos Estados Unidos. A Argentina também está seguindo linha semelhante. Aí você me pergunta: “Você tem medo de acontecer isso no Brasil?” E respondo: tenho, justamente por isso. O Lula e o PT são aliados da Cristina Kirchner, na Argentina, do Maduro, na Venezuela, do Fidel Castro, em Cuba, esse pessoal. Porque lá pode acontecer isso e aqui não se é o mesmo grupo do Foro de São Paulo?
Vocês se classificam como um movimento sem nenhuma vinculação partidária. Como é isso, na prática?
Rafael Calixto – Nosso movimento está aberto para todos que simpatizam com a causa de não deixar com que o Brasil vire um país como China, Cuba ou Venezuela, que não têm democracia. Todos, jovens ou mais velhos, que compactuam com este princípio serão bem vindos, sejam de direita, de esquerda, de centro, ou apartidários.
O que vocês esperam para o futuro do Movimento Democracia Sem Fronteiras? Vocês têm alguma pretensão partidária?
Jorge Santos – Nosso objetivo é só que a democracia sempre vença, independentemente se é um governo de direita ou se esquerda. Se for um governo de esquerda, que pelo menos obedeça às regras da democracia não só no Brasil, mas no mundo. Todos têm o direito de ter liberdade e a melhor forma para isso é a democracia, não encontraram nada melhor ainda. Se eu encontrar uma oportunidade de entrar para a política eu penso sim, porque estaria lá dentro representando as pessoas que apoiam o nosso movimento.
Democraica e esquerda é como água e óleo, há uma impossibilidade lógica de se juntarem. O que ocorre é um falseamento sempre rumo à essência e à índole esquerdista.
E existe esquerdista que não apoie os governos da Venezuela, de Cuba e da China?
DEMOCRACIA SEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEMPRE