A Assembleia Legislativa de São Paulo aprovou no ciclo atual uma proposta do deputado estadual Heni Ozi Cukier (Podemos) que obriga o governo do Estado a ter uma política sobre drogas em prática. A ideia, ainda não implementada totalmente, é que existam diretrizes claras, cooperação com esforços municipais e federais e criação de uma espécie de fundo para o tema.
O parlamentar é um especialista sobre o assunto, acumulando conhecimento em visitas técnicas a cidades da Europa e da América do Norte que enfrentam dilemas semelhantes. A peregrinação serviu de base para o documentário Cracolândia, que tem Cukier como roteirista e responsável pelas entrevistas (o filme está disponível no Google Play e na Apple TV).
Cientista político, Heni Ozi também foi secretário adjunto de Segurança Urbana durante a gestão João Doria/Bruno Covas, na época em que a prefeitura realizou uma megaoperação na cracolândia, demolindo hotéis e desmantelando as barracas onde estava organizado o feirão de drogas. O deputado estadual conversou com Oeste sobre a questão.
A polarização ideológica entre assistencialismo ou repressão é um obstáculo para desenvolver uma política mais bem-sucedida para a Cracolândia?
Visitei vários países do mundo que vivem esse problema, chamado de open drugs, cenas abertas de uso de drogas. Não é um problema do Brasil, existe no mundo inteiro. Conversei com vários especialistas e autoridades. Existem alguns estudos que comparam políticas feitas em oito cidades diferentes na Europa. Uma das conclusões que se tirou é a necessidade de vencer a polarização ideológica. Normalmente a esquerda tem uma visão assistencial pura em relação aos usuários. Por exemplo, o Haddad escolheu dar moradia, dar uma mesada. Isso é um nível bastante avançado na questão assistencial. Mas qual o problema? Quando você ajuda e não traz o outro elemento, que é ordenar, reprimir, você acaba impulsionando esse usuário a uma situação muito pior. O que esses usuários da cracolândia faziam quando recebiam a mesada? Eles compravam mais crack. O que eles faziam com a moradia? Se tornava um lugar seguro e propício para ficarem consumindo. Um ambiente extremamente degradado, lugares assustadores. Eu visitei esses lugares. E, por outro lado, a direita tem uma visão voltada unicamente à repressão e da busca pela ordem. Tratando somente como um problema de desordem pública e de criminalidade, que existe, mas não é só isso. Se você foca só na repressão, e não na questão de saúde, não resolve o problema. Então, os países que conseguiram solucionar seus problemas de heroinalândia, com a maioria dos lugares tendo a heroína como droga central, combinaram estratégias de assistência e repressão. Isso requer maturidade política, é preciso se desprender de paixões ideológicas. O Brasil não atingiu esse nível e não conseguiu dar esse salto.
Trailer do documentário Cracolândia:
O que mais chamou a atenção do senhor nas visitas às cracolândias fora do Brasil?
Fui para esses lugares, visitei a Suíça, a Noruega, Nova Iorque e Vancouver. Vancouver ainda não resolveu sua heroinalândia, porque eles não conseguiram resolver essa questão ideológica. Eles têm uma visão mais à esquerda. A ênfase deles tem sido muito na assistência, e a heroinalândia deles continua bem viva ali. Um dos exemplos que eu cito sempre é o de Zurique, na Suíça, com o Needle Park, o Parque das Agulhas, que por muito tempo foi o maior local de drogas abertas do mundo, com mais de 4 mil usuários, no coração da maior cidade suíça. Era assustador, com histórias de policiais com medo de pisar em seringas contaminadas, que pudessem furar o sapato deles. Ratos juntos com seringas, transmitindo HIV para a população em outros lugares da cidade. E eles conseguiram resolver. Com políticas específicas, mas com medidas de cada lado, do assistencial e de repressão, que precisam ser adotadas.
Uma das questões abordadas no filme é a iniciativa de Amsterdã contra o agrupamento de usuários, com multas mesmo para reuniões de poucas pessoas. Essa medida poderia ser replicada em São Paulo?
Uma coisa sobre a questão do agrupamento, isso não passa só pela vontade política de fazer. A população precisa aceitar que a dispersão dos usuários é parte do desmantelamento de uma cena aberta de drogas. A população não gosta da ideia de usuário passando pelo bairro dela. Não há como uma cidade urbana do tamanho de São Paulo não ter problema com dependência de drogas com usuários de rua. O que não pode ter em hipótese nenhuma é a concentração deles em uma única área, onde o Estado perde o controle daquele espaço, onde se cria uma zona propícia à facção criminosa e a todo tipo de desordem. Se você dispersar esse aglomerado, você começa a desmontar uma parte que é central nesse caos. Uma coisa é a conscientização sobre espaço público, que é invertida do que vemos em sociedades mais desenvolvidas, sabendo que suas liberdades são menores na rua, você não pode fazer o que bem entende. E outra são táticas compulsórias de dispersão, que aconteceram em todos os lugares que viveram esse problema. Não há nenhuma das cidades que resolveram o problema que não tenha usado tática de dispersão de usuário.
O plano do Fernando Haddad (PT), candidato ao governo de São Paulo, fala em reeditar o programa “De braços abertos”, da época em que ele ocupava a prefeitura paulistana. O senhor acredita que essa política tenha chance de êxito?
Não tive acesso aos detalhes do programa, mas o Haddad recuou, fala em internação compulsória. Para mim é um avanço. Realmente, há pessoas que precisam de ajuda, e elas não têm condições de tomar essa iniciativa por conta própria. Eu não sei se ele fala de bolsa ao usuário, de um jeito simplista de falar. Isso é perigoso, isso deu muito errado no “De braços abertos”. Se você der um auxílio a um usuário nessa situação, é automático que ele vai usar esse dinheiro para o consumo de droga.
É possível acabar com a cracolândia em um mandato?
Não tem como falar isso. A cracolândia já existe há duas décadas. Duvido que ela acabe em um ano, dois ou quatro. É um processo de decomposição. Temos de falar a verdade para a população, para não criarmos falsas expectativas. Nós não iremos acabar com o usuário de crack da cidade de São Paulo. Isso jamais vai acontecer, é um problema urbano, de grandes cidades em todo o mundo. Sempre vai existir usuário de drogas nas ruas. O que não pode existir é a cracolândia. É um trabalho constante, talvez eterno. Fica seis meses sem tomar conta, ela vai voltar. Não vai existir uma solução definitiva. Tem de ser uma política constante da cidade de São Paulo, do governo estadual e do governo federal.
Leia também: “Cracolândia, versão 2023”, reportagem publicada na Edição 131 da Revista Oeste.
Esse deputado é uma farsa. Mais conhecido como blogueiro da ALESP. Acompanhe de perto o trabalho dele e verão a verdade.
…um artigo da Lei do crime diz que…enquanto houver drogas…haverá drogados, políticos e juízes. (Ponto é letra)…
blábláblá…. Dá para resolver SIM!
Quem tá no buraco e quer ajuda pede.. e TEM!
JÁ quem não quer, se acha o bonzão e quer fazer o quê der na sua cabeça…”SOU LIVRE e tenho direitos de ir e vir”
TEM DE SEREM PRESOS SIM!
Cometeu transtornos, crimes ou o escambau….não de “descriminalizar para livrar esses canalhas das penas…INTERNEM OU PREDAM!
SEM PERDÃO OU DÓ!
“”aaahh, mas vai ter de fazer 2 milhões de vagas para internar””
FAÇAM!! e OLHO VIVO nas escolas…secundaristas… é a partir dai que as drogas entram na vida dos jovens.
Fui vítima desta política de desconcentração ou espalhamento se preferirem.Pimenta no dos outros é refresco