(J. R. Guzzo publicado no jornal O Estado de S.Paulo em 13 de julho de 2022)
É difícil dizer qual é a maior mentira que Lula está vendendo em sua campanha eleitoral; seria talvez mais prático procurar se ele diz alguma verdade. A mentira-chefe, é lógico, é a história de que ele foi inocentado “pela justiça”. Não foi inocentado de coisa nenhuma — apenas ganhou de presente de um ministro do STF, ex-advogado do MST e militante da campanha presidencial de Dilma Rousseff, a exótica anulação dos seus processos penais por erro de endereço. Não se disse uma única sílaba sobre a culpa que o levou a ser condenado por corrupção e lavagem de dinheiro, em três instâncias e por nove juízes diferentes. A partir daí, amontoa-se todo o tipo de falsificação. Uma boa candidata ao título de segunda maior mentira da campanha de Lula é a sua afirmação de que vai “restabelecer a democracia” no Brasil.
Como assim — “restabelecer a democracia”? Para restabelecer alguma coisa é preciso, em primeiro lugar, que ela não exista mais. A democracia não existe no Brasil, então? Nesse caso, não se entende como Lula pode estar disputando livremente a eleição para presidente da República. Seria o Brasil uma ditadura com eleições livres, nas quais o candidato da oposição pode fazer e dizer tudo o que quer, e ameaçar o governo, todos os dias, com o fogo do inferno? Não se entende, igualmente, como poderia haver uma ditadura no Brasil, da qual Lula promete nos salvar, se nenhuma decisão da justiça brasileira deixou de ser cumprida nos últimos três anos e meio, nenhuma lei deixou de ser respeitada pelo governo e o Congresso aprovou ou rejeitou tudo o que quis. O STF conduz um inquérito ilegal para perseguir apoiadores do governo; um deles, deputado federal no exercício de seu mandato, foi condenado a nove anos de cadeia. Quem quer calar as redes sociais não é o governo; é a justiça, a mídia e a esquerda.
Lula não vai “restabelecer” democracia nenhuma no Brasil; ao contrário, é ele, exatamente, a maior ameaça às liberdades públicas e aos direitos individuais que existe hoje neste país. Como pode ser democrata um cidadão que é a favor das prisões políticas em Cuba, ou à grosseira repressão policial na Venezuela? Lula não abre exceção nem mesmo para os prisioneiros do regime cubano que fazem greve de fome; ficou contra eles e a favor dos carcereiros, quando teve de se manifestar sobre a questão. (Lula só pede em favor de grevistas de fome quando eles são os criminosos que sequestraram, anos atrás, o empresário Abílio Diniz.) Mais ainda, Lula diz que o “controle social” dos meios de comunicação, ou a censura política, é um objetivo prioritário do seu governo. Não há, no momento, nenhuma ameaça mais concreta à democracia brasileira do que estes projetos para calar a voz de quem discorda.
O que Lula propõe para o Brasil, em público, é uma ditadura do PT.