(J.R. Guzzo, publicado no jornal Gazeta do Povo em 2 de maio de 2022)
Lula, o PT e a campanha de ambos para a Presidência da República perderam a batalha das ruas neste Primeiro de Maio, que vinha sendo considerado tão importante para a avaliação da popularidade dos candidatos. Na verdade, sofreram uma derrota tamanho gigante — daquelas que se tenta esquecer com o máximo de empenho. A mídia, como de costume, tratou o fato como um segredo de Estado. As fotos foram escondidas. Os relatos falaram de “manifestações de ambas as partes” , como se a presença popular nos atos rivais de Lula e do seu adversário na eleição, o presidente Jair Bolsonaro, tivesse sido equivalente. Alguns veículos preferiram simplesmente não tocar no assunto. Mas não adiantou muita coisa — hoje a internet está aí. O que foi ocultado pelos meios de comunicação apareceu em fotos, vídeos e áudios nas redes sociais — essas mesmas que o STF faz tanta questão de controlar nas eleições. O resultado é o que se pode ver; está lá.
Em São Paulo, sempre considerado o melhor termômetro do país para medir essas temperaturas, Lula teve um miserável ajuntamento de militantes na frente do Pacaembu. Não adiantou atrasar a hora do discurso, para ver se vinha mais gente, nem oferecer o show grátis de uma cantora que é destaque na campanha do PT — que foi um fiasco igual ao do comício. Bolsonaro, mais uma vez, encheu os dois ou três quarteirões de praxe diante do Masp. Nos outros Estados brasileiros, a situação foi a mesma — muita gente e muita bandeira verde-amarela de um lado, pouca gente e muita bandeira vermelha de outro. Lula, o PT e os “analistas” continuam achando que a eleição já está decidida, e que o ex-presidente já ganhou. Mas a rua, para eles, continua sendo um problema — ou, então, não é problema nenhum, porque hoje em dia não é mais preciso ter apoio popular público para ganhar eleição. Outubro dirá.
Enquanto isso, Lula vem chamando a atenção por dizer ao microfone coisas cada vez mais extraordinárias. É curioso: quanto menos gente aparece em torno dele, mais bobagem ele diz. Depois de declarar que “Bolsonaro não gosta de gente, gosta de policial” — negando, assim, que os policiais sejam seres humanos —, veio com a história de criar “uma moeda para a América Latina”. Para que fazer um negócio desses? Segundo Lula, para acabar com “essa dependência do dólar”. Não faz nenhum nexo. O Brasil, neste momento, tem cerca de US$ 400 bilhões de reservas; de onde ele foi tirar a “dependência” que o aflige? Depois, Lula precisaria combinar com mais ou menos uns 20 países da América Latina se eles querem mesmo juntar suas moedas que não valem nada e ficar com outra que valerá menos ainda. Lula perguntou se a Venezuela, por exemplo, quer trocar dólares por reais, ou pela tal moeda que ele imagina? E o México — será que topa? E Cuba, que ele acha um modelo de regime? Outro detalhe: a Arábia Saudita vai aceitar “moeda latino-americana”, em vez de dólar, para vender petróleo ao Brasil? E os Estados Unidos, a Europa e o Japão — vão abrir mão de receber em dólar as suas exportações de tecnologia, instrumentos médicos, máquinas de precisão, peças de automóvel e mais um milhão de coisas? É insano — mas Lula é isso.
O candidato, como faz a cada vez que diz um disparate ou insulta alguém, pediu “desculpas” pela agressão aos policiais. Já tinha pedido desculpas por dar indulto ao terrorista Cesare Battisti, que matou quatro pessoas — ele, que tanto condena o perdão ao deputado Daniel Silveira, que não matou ninguém. Pedirá desculpas, de novo, na próxima barbaridade — ou vai alegar que a sua “moeda” não é para ser levada a sério por ninguém. É este, segundo os liberais bem-pensantes, o homem que vai salvar o Brasil.
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