(J.R. Guzzo, publicado no jornal O Estado de S. Paulo em 28 de janeiro de 2024)
O presidente Lula não tem nada a reclamar da imprensa brasileira desde que saiu da cadeia, onde cumpria pena por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, e começou a sua subida de volta à Presidência da República. Desde então só teve alegria na maioria da mídia. A um certo momento, a principal rede de televisão do país chegou a emitir a sua própria sentença sobre as desventuras penais de Lula. “O senhor não deve nada à Justiça”, disseram. Mas a gratidão nunca fez parte da estrutura mental do presidente. Foi só aparecerem algumas críticas mais consistentes a decisões do governo e ele já voltou automaticamente para a sua habitual posição de rancor contra a imprensa, a quem acusa há 40 anos por tudo o que existe de ruim no Brasil, junto com “as elites” e os demais inimigos imaginários que cria em seu proveito.
Essa retomada da neura oficial contra a mídia se espalha governo afora. O ministro da “Comunicação Social”, que administra os bilhões de reais do orçamento de propaganda do governo, também está indignado com as críticas. A presidente do PT falou em “donos mesquinhos” da imprensa, que estariam incomodados com a miragem de um “protagonismo internacional” de Lula. No seu momento mais agitado, chamou os editoriais que têm opiniões diferentes de “censura”; na ideologia oficial de hoje a imprensa só é livre para falar bem do governo. Não basta ser a favor; tem de ser a favor sempre. Acham que isso é um direito adquirido.
Incomodam o governo, especialmente, as análises negativas da mídia sobre os investimentos da Petrobras. Não admitem, ali, que alguém possa ter um ponto de vista diferente em relação aos bilhões que a empresa decidiu enterrar na área em que funciona pior — o refino, onde opera um parque industrial obsoleto, ineficaz e principalmente fracassado. Após 70 anos de monopólio praticamente total na operação das refinarias, a Petrobras não consegue produzir o suficiente para atender as necessidades internas de combustível. O resultado é que o Brasil, hoje, é um grande exportador mundial de petróleo, pelo sucesso que tem na área de maior competência da Petrobras — a extração de óleo em alto mar, onde mantém parcerias estratégicas com o que há de melhor do mundo em termos de produção. Mas tem de importar gasolina e diesel.
A ira de Lula se volta, mais do que tudo, às críticas pelo reinício da funesta Refinaria Abreu e Lima, um fracasso pessoal humilhante. Deveria custar US$ 2 bilhões, já custou mais de 20 e ainda não está pronta; foi um marco na história mundial da corrupção. Agora, vão jogar ali mais R$ 8 bilhões. É proibido dizer que está errado.
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